E se o Tempo Não Existisse?
Autor: Carlos Rovelli; Editora: Edições 70; Ano de publicação: 2021; Gênero: Divulgação científica. O Físico Italiano Carlo Rovelli, autor de “A realidade não é o que parece”, propôs uma nova abordagem para explicar e expor suas ideias sobre a Gravitação Quântica. Durante cerca de 150 páginas, somos conduzidos por histórias da sua vida e opiniões próprias, que foram essenciais para desenvolver sua versão da gravitação quântica, a teoria da quantização do espaço. Divididos em capítulos, o livro começa com uma introdução à Teoria da Relatividade Geral e Mecânica Quântica, bem como suas dicotomias. Em termos gerais, essa dissemelhança surge dos aspectos probabilísticos da Mecânica Quântica que contrastam com a previsibilidade e simetria do espaço-tempo da Relatividade Geral. O universo, entretanto, não pode ser governado por leis incompatíveis; afinal, seria loucura imaginar que hora a natureza ignora uma teoria, e outra não. A unificação dessas teorias, segundo Rovelli, surge ao abrirmos mão do espaço contínuo e homogêneo, e adotarmos um espaço granulado por uma quantidade finita de laços. Um conjunto suficientemente grande, mas finito, desses laços, do tamanho da ordem do comprimento de Planck (10-35m), dão origem ao espaço, ou melhor, são o próprio espaço. As incertezas e incongruências em fenômenos que requisitam tanto a Mecânica Quântica quanto a Relatividade Geral são eliminados com a quantização do espaço. A exemplo, as equações sobre o centro de buracos negros, ou mesmo do Big Bang, levavam a singularidades que resultavam em absurdos matemáticos. Porém, com a teoria dos laços, existe um limite espacial dessas estruturas, impedindo que seu tamanho seja, realmente, infinitamente pequeno. A análise de buracos negros sobre essa ótica permite ainda um método de verificação da teoria. Stephen Hawking mostrou que buracos negros emitem radiação térmica, implicando que algo deve vibrar em seu interior, neste caso, podem ser os próprios laços. Assim sendo, a pressão gravitacional exercida sobre o astro a medida que é evaporado, leva esses laços, o próprio espaço, a adquirir tamanha vibração que explodiria o buraco negro, resultando numa chuva de partículas energéticas que, em determinado momento, chegariam aos equipamentos terrestres. O motivo de nunca termos observado esse fenômeno, segundo o autor, reside na dilatação temporal provocada pela gravidade. Dois observadores em lugares distintos, com gravidades distintas, marcam a passagem do tempo de formas diferentes, sendo que, quanto maior a gravidade, mais lentamente o tempo passa na perspectiva do observador externo. Dessa forma, a explosão que levaria segundos para acontecer para o observador no centro do buraco negro, levaria milhõesde anos para observadores foram de seus limites. Todavia, essa comparação é relativística e só faz sentido quando se compara o tempo de dois referenciais. Em outras palavras, o tempo propriamente dito nunca foi medido. A noção temporal utilizada pela Física nada mais é do que a duração de um fenômeno comparado à duração de outro fenômeno. Como exemplo, uma pessoa que andou por um segundo, segundo a definição de segundo, andou por 9.192.631.770 oscilações do átomo de Césio. A nível fundamental, essa relação mostra que o tempo não é necessário para descrever a natureza. As equações da gravitação quântica em laços não dependem do tempo. Contudo, a sensação da passagem do tempo existe a nível macroscópico. Afinal, assim como a ideia de quente ou frio só faz sentido em escalas macroscópicas (em nível microscópico, são apenas átomos vibrando), o tempo só aparente existir para sistemas complexos, como para os seres humanos. Em suma, o tempo não existe, pois não é necessário para descrever a realidade em nível elementar, os laços. Notasse que, entretanto, a abdicação desse conceito tão fundamental, por mais assustadora e contra intuitiva que possa ser, é uma das consequências necessárias para, segundo o autor, entendermos o próprio universo, mesmo que nele o tempo não exista. Autor da resenha: Gabriel Vinicius Mufatto.