Resenha: Investigação sobre o Entendimento Humano

Resenha: Investigação sobre o Entendimento Humano


Autor: David Hume.

Ano de publicação da Edição: 2017.

Ano de publicação da Obra Original: 1748.

Gênero: Filosofia.

   Podemos dizer que o ser humano possui naturalmente uma curiosidade, e a intensidade desta, varia dependendo de cada caso. Essa característica nos faz, muitas das vezes, descobrir coisas extraordinárias. Entretanto, ela também nos leva a adentrar em zonas que estão além do que podemos conhecer, fazendo-nos afirmar ideias que não passam de mera abstração da nossa mente. Uma vez que pretendemos, cada vez mais, adquirir conhecimento sobre o mundo que nos cerca e sobre nós mesmos, precisamos de uma forma de verificar a validade desse saber, necessitamos, de uma investigação sobre o entendimento humano.

   O livro Investigação sobre o Entendimento Humano, é o desdobramento de outro livro intitulado Tratado da Natureza Humana, também de David Hume. Naquele, temos um olhar aprofundado do autor a respeito do conhecimento que o ser humano pode adquirir, analisando desde a forma com que formamos nossas ideias até como as ligamos e as consequências dessas conjunções.

   Para Hume, existem duas classes de percepções do espírito: as ideias e pensamentos; e as impressões. A primeira, o próprio nome faz dela compreensível; a segunda, é um pouco mais complicada, e se refere a todas as nossas impressões mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos e queremos. Para ele, as impressões são pintadas pelas cores mais vivas, já as ideias e pensamentos são pintadas por cores mais fracas:

O pensamento mais vivo é sempre inferior a mais remota sensação

   Apesar das ideias e pensamentos variarem infinitamente e dificilmente você consegue delimitar o pensamento humano, para Hume, todas as ideias partem de uma mesma base, elas derivam das impressões que temos da realidade. Em seguida, nosso pensamento manipula essas percepções, aumentando-as, diminuindo-as, unindo-as, etc. Tente relembrar as impressões que você teve das cores que existem, isso é, de certa forma, fácil. Agora tente imaginar uma nova cor. Provavelmente, você não foi capaz de tal feito, e isso se deve ao fato de que é nossa percepção que cria as ideias e não o contrário. Dessa forma, uma percepção nova, antes de ser transformada em ideia, deve ser percebida. 

   Creio que com essa concepção, podemos entender e verificar, não somente as ideias aparentemente abstratas que muitas das vezes a Filosofia e a Ciência tratam, mas também compreender melhor nosso próprio entendimento das coisas que aprendemos. Toda vez que você estiver incerto sobre uma ideia, basta se perguntar: de que impressão vem aquela determinada ideia? Se for impossível designar uma, provavelmente, é uma ideia puramente abstrata e nenhum conhecimento pode ser formado com ela sem que seja extremamente duvidoso.

   Uma vez que nossas percepções criam nossas ideias simples, evidentemente, existe algo que as conecta. Para o autor, existem três princípios conectivos das ideias: de semelhança, de contiguidade – no espaço e no tempo – e o de causa e efeito. Ao olhar uma obra de arte realista, relembramos da percepção que tivemos ao olhar para o objeto, que é idêntico, em certo grau, ao da pintura; eis o princípio de semelhança. Quando um historiador analisa um certo período da história, ele trabalha com um conjunto de ideias para montar a sua narrativa, e essas ideias estão ligadas a um certo período do tempo e a um certo local, para isso, ele faz uso do princípio de contiguidade. Por último, e o principal deles, é o de causa e efeito; para descrever um determinado conjunto de eventos, comumente, criamos uma cadeia de acontecimentos pois, assim, essa descrição se torna entendível e qualquer acontecimento que fuja da linha de causas e efeitos da cadeia, não nos faz sentido para.  No decorrer do livro, o autor analisa essa relação de causalidade, concluindo que é indemonstrável a ideia de tentar prever o futuro, por meio da relação de causalidade experienciada no passado. Essa noção parte, puramente, do hábito.

   Temos então, como se arquiteta o que aprendemos a chamar de conhecimento. Com esses instrumentos de análise em mãos, ou melhor, entendidos. Podemos começar a questionar a forma com que interpretamos a realidade. Claramente, essa análise não se trata de uma verdade absoluta, nem o autor nos garante que é, entretanto, é uma ferramenta extremamente útil para verificar se ideias que habitualmente aprendemos, são de fato concretas ou apenas dogmas.

Autor da resenha: Ricardo Gonzatto Rodrigues

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