Resenha: O Conto da Aia

Resenha: O Conto da Aia


Autora: Margaret Atwood.

Ano da publicação: 1985.

Gênero: Distopia.

Vendo que não dava filhos a Jacó, Raquel ficou com inveja de sua irmã e disse a Jacó: “Ou você me dá filhos ou eu morro”. Jacó ficou  irritado com Raquel, e disse: “Por acaso eu sou Deus para lhe negar a maternidade?” Raquel respondeu: “Aqui está minha serva Bala. Una-se a ela, para que dê à luz sobre meus joelhos. Assim terei filhos por meio dela”. Então Raquel lhe deu sua serva Bala como mulher, e Jacó uniu-se a Bala. Bala concedeu e deu à luz um filho para Jacó. Raquel disse: “Deus me fez justiça; ouviu minha voz e me deu um filho.”

(Gn 30: 1-6)

   Esta passagem bíblica, que muitas vezes pode até passar despercebida pelos seus leitores, e que de certa forma pode ser vista, na visão de nossa sociedade moderna, como algo inconcebível na prática, foi base para a constituição da república na qual se passa a história: a República de Gilead, um governo teocrático e totalitário, que se instaurou após um golpe de governo nos Estado Unidos da América, por volta dos anos de 1990.

   É nesta república que se passa toda a trama vivida pela protagonista da história, Offred, uma mulher de 33 anos que é serva, ou melhor, uma espécie de escrava sexual na casa de um poderoso membro do Governo: “O Comandante”. Mas como é possível em um estado teocrático cristão, existirem escravas sexuais? A questão é que, neste caso, mulheres como Offred existiam apenas com o fim da procriação. Essas mulheres eram denominadas de “Aias”.

   Tudo começou, quando a poluição ambiental ocasionada, principalmente, pelas recentes guerras, tornou boa parte das mulheres inférteis. Aproveitando-se desta situação e da desestabilidade do governo americano, até então democrático, os denominados Filhos de Jacó executaram o golpe que deu origem à República de Gilead. Inicialmente, as mulheres tiveram suas contas bancárias bloqueadas e transferidas para posse de seus maridos, pais ou qualquer homem próximo a elas. Depois, foram todas demitidas de seus empregos, perdendo o direito de trabalhar. Com o decorrer do regime, o direito a ler e a escrever, assim como seus direitos políticos e a própria identidade, também lhes foi vedado. Até que então, as mulheres acusadas de manterem casamentos e/ou relacionamentos considerados irregulares no período pré – Gilead, ou seja, mulheres divorciadas, casadas com homens divorciados, casadas uma segunda vez, adúlteras, prostitutas ou qualquer que fosse a relação extraconjugal. Todas elas foram levadas aos Centros de Reeducação, destinados a lavagem cerebral, para que se tornassem Aias.

   O Conto da Aia é uma distopia escrita por Margaret Atwood em 1984 e publicada em 1985. Deu origem a série “The Handmaid’s Tale”, produzida pelo serviço de streaming “Hulu”, que foi ganhadora do Prêmio Emmy, em 2017, na categoria Série Dramática. E assim como uma boa distopia, a história expressa uma sociedade no futuro controlada por um Estado totalitário, o qual cria condições de vida insuportáveis aos seus indivíduos. Isto pode parecer apenas hipotético, no entanto, em entrevista, a autora disse o seguinte:

“Eu me certifiquei de que todo detalhe horrível no livro, já tivesse acontecido em algum momento, em algum lugar. Então pense no livro como um bolo, em que eu fiz o bolo, mas todas as passas e as gotas de chocolate são reais.”

   Ou seja, cada ponto importante que estruturou esta distopia de Margaret, foi baseada em um contexto histórico real. Um exemplo disso é a revolução iraniana, que implementou no Irã um governo teocrático por volta de 1979 e também o episódio das Bruxas de Salem, relacionado a sociedade dos Puritanos, que em 1692, dezenas de pessoas, principalmente mulheres, foram perseguidas e mortas acusadas de bruxaria, e que certamente é um paralelo à perseguição sofrida pelas mulheres no regime da história (sugere-se ao leitor pesquisar a história desses acontecimentos).

   Diante de tudo isso, termino esta resenha chamando atenção para o fato de que, apesar de acharmos que algo assim jamais irá acontecer conosco, devemos constantemente nos questionar: o quão longe a nossa sociedade brasileira, hoje, está de uma “República de Gilead?”

Autor da resenha: Felipe Leria Stefenon.

MATERIAL DE APOIO:

Resenha no canal “Ler Antes de Morrer”: https://www.youtube.com/watch?v=Ben8OnTrJ1I

2 Comentários

  • E uma história, para deixar ,nós mulheres de olho,muito abertos

    VILMA Responder
  • Já está acontecendo! As mulheres em vez de mudar nossa imagem de “objeto” para pessoas, continuam mostrando seus corpos no intuito de “mudar de vida”. Exemplo disso são as plataformas do tik tok; twitter; only fãns etc… E oque sobra?! Mais mulheres tentando entrar no mercado de trabalho e querendo uma vida digna. Enquanto os empregadores contratam baseado nas mulheres do tik tok, as ” bonitas” de corpo “esbelto” e assim por diante… Enquanto as “fora do padrão” ou se prostituem para comer ou vão morar nas ruas por falta de integração social e preconceitos da sociedade. E o pior disso tudo que elas em vez de acolherem essas mulheres derrubam ainda mais. SEU CORPO NÃO É UM TRABALHO. PAREM DE USAR SEUS CORPOS PARA COLOCAR O HOMEM AINDA MAIS NO PODER!!!! DO QUE VALEU A REVOLUÇÃO FRANCESA PARA LIBERTAR A GENTE DO PODER DO HOMEM?!! SE VOCÊS ESTÃO SE ESCRAVIZANDO PARA GERAR LUCRO PARA SI MESMAS ENQUANTO TEM MULHERES QUE QUEREM SAIR DESSA VIDA DEPRIMENTE PARA SE TORNAREM CIDADÃS DE VERDADE?!!!!!

    CRISTIANE Responder

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