Mary Anning (1799-1847)

Mary Anning (1799-1847)


   Mary Anning, mulher que marcou a história da paleontologia, nasceu em 1799, na cidade de Lyme Regis, a oeste do condado de Dorset, Inglaterra. Devido à alta quantidade de fósseis descobertos nessa região, atualmente essa área é conhecida como Costa Jurássica. Mary nasceu em uma família de pais protestantes não-conformistas e extremamente pobres. Seu pai era marceneiro e colecionador amador de fósseis e ensinou Mary, desde pequena, a procurar por fósseis na praia e a limpá-los cuidadosamente para, então, vendê-los. A renda advinda dessas vendas auxiliava no sustento da família e quando o pai de Mary faleceu, em 1810, ela deu continuidade a essa procura para auxiliar sua mãe no sustento da casa. 

   Com apenas 12 anos, Anning descobriu um esqueleto de 5,2 m, o qual, na época, os cientistas acreditavam ser de um crocodilo e, na verdade, se tratava de um ictiossauro, animal marinho extinto um pouco antes dos dinossauros. Em 1823, Mary encontrou o primeiro esqueleto completo de um Plesiossauro, réptil marinho tão estranho anatomicamente que os cientistas duvidaram da veracidade do fóssil. Assim, foi convocada uma reunião na Sociedade Geológica de Londres, a qual Mary não fora convidada a participar, para discutir acerca da autenticidade do fóssil e, de fato, esta foi confirmada. 

   Devido à situação socioeconômica da cientista, Mary não possuía educação formal e, assim, de modo a compreender melhor suas descobertas, ela aprendeu anatomia e geologia de maneira autodidata. Além disso, a cientista se comunicava com paleontólogos de renome da época por meio de cartas para comunicar e negociar os fósseis que encontrava. Ademais, Mary trabalhou durante um período com o renomado cientista Richard Owen, o qual cunhou o termo “dinossauro”.  No entanto, a comunidade científica da época não concedia a ela os créditos de suas descobertas e hesitava em reconhecer seu trabalho como paleontóloga, isso era devido ao seu gênero e condição financeira. Os artigos que foram escritos sobre o ictiossauro não mencionavam o nome de Mary, apesar do seu protagonismo na descoberta do fóssil. 

   Outra contribuição científica de Mary que marcou sua história na paleontologia, foi a descoberta, em 1823, de um fóssil que apresentava uma longa cauda e asas. Esse réptil voador foi o primeiro pterossauro encontrado fora da Alemanha que, posteriormente, recebeu o nome de pterodáctilo. A teoria da extinção dos animais ainda estava se estabelecendo na época e as descobertas da cientista colaboraram para a comprovação dessa teoria.  

   Além disso, Mary descobriu compostos estranhos localizados na parte inferior do abdômen dos fósseis, onde estaria o intestino, o qual intitulou, inicialmente, de “pedras bezoar”. Após uma análise mais cuidadosa dessas “pedras”, assim como sua localização, inferiu corretamente que nada mais eram que fezes fossilizadas. No interior dessas “pedras”, era possível encontrar pequenos ossos de outros animais, corroborando com sua teoria. Atualmente, as fezes fossilizadas são chamadas coprólitos e a análise delas auxilia na classificação dos animais em carnívoros ou herbívoros. 

   A vida de Mary influenciou seu amigo de infância e famoso geólogo, Henry De la Beche a pintar a obra “Duria Antiquior: um Dorset mais antigo” a modo de arrecadar dinheiro para a cientista, que ainda possuía dificuldades financeiras. A obra apresentava os animais extintos que Mary havia descoberto e essa forma de arte existe até os dias de hoje e é chamada de paleoarte.  

   Anning auxiliou no entendimento da vida pré-histórica e sua história inspirou o filme “Ammonite”, lançado em 2020. O nome do filme se deve à facilidade em encontrar fósseis de amonites, grupos extintos de moluscos cefalópodes que tinham casco em formato espiral, como os caracóis, na região de Lyme Regis. No filme, a cientista tem um relacionamento amoroso com sua aprendiz, mas não existem registros sobre sua vida amorosa e sexual. A aprendiz retratada em “Ammonite”, Charlotte Murchison, era uma amiga próxima de Mary com quem fazia expedições à procura de fósseis.  

   Mary faleceu em 1847 de câncer em mama, com apenas 47 anos de idade. Atualmente, o Museu de História Natural de Londres exibe suas descobertas e reconhece seu trabalho científico, concedendo-a os devidos créditos. A região em que Anning procurava os fósseis, Costa Jurássica, é Patrimônio Mundial da UNESCO e seu legado é retratado no Museu de Lyme Regis, onde há uma galeria dedicada à vida da cientista. Além disso, Mary é reconhecida como uma das dez mulheres britânicas que mais influenciaram a história e a ciência, pela Royal Society. Sua trajetória é inspiradora e encoraja as mulheres a participarem ativamente da comunidade científica. 

Autora: Rieli Tainá Gomes dos Santos.

Referências:

[1] EYLOTT, Marie-Claire. Mary Anning: the unsung hero of fossil discovery. Disponível em: <https://www.nhm.ac.uk/discover/mary-anning-unsung-hero.html>. Acesso em: 9 ago. 2021. 

[2] TAPPENDEN, Roz. Ammonite: Who was the real Mary Anning? BBC News, 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/news/uk-england-dorset-54510746>. Acesso em: 6 ago. 2021. 

[3] ROSSINI, Maria Clara. Quem foi Mary Anning, a paleontóloga do século 19 que virou filme. Superinteressante. Disponível em: <https://super.abril.com.br/historia/quem-foi-mary-anning-a-paleontologa-do-seculo-19-que-vai-virar-filme/>. Acesso em: 10 ago. 2021. 

[4] ANDRADE, Jorge. Mary Anning, a inglesa do século XIX que se tornou caçadora de excrementos do jurássico. Diário de Notícias. Disponível em: <https://www.dn.pt/mundo/mary-anning-a-inglesa-do-seculo-xix-que-se-tornou-cacadora-de-excrementos-do-jurassico-12527618.html>. Acesso em: 12 ago. 2021. 

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