Resenha: Filosofia da Ciência para Cientistas

Resenha: Filosofia da Ciência para Cientistas


Autor: Lars-Göran Johansson.

Ano de publicação (versão em inglês): 2016.

Gênero: Científico.

   O que é Ciência? O que é pseudociência? O que é saber? Essas são perguntas-base com as quais o autor de Filosofia da Ciência para Cientistas começa seu livro. Apesar de não haver uma única resposta com a qual todos concordem para a primeira pergunta, o livro apresenta as mais populares teorias da Filosofia da Ciência para fornecer uma visão ampla daquilo que não é ciência (mas se mascara como uma – a pseudociência) e daquilo que pode ser considerado como tal.

   Na obra, fala-se sobre os diferentes tipos de ciências e como todas têm seus próprios métodos, mas que possuem características em comum que as definem como legitimamente científicas. De ciências naturais a humanas, o autor trabalha conceitos como objeto, observação, medidas, escalas, modelos, hipóteses, etc., bem como fala sobre os tipos de conhecimento e como este é organizado para a construção de modelos e teorias.

   Uma discussão desenvolvida é sobre causas e correlações, o que é muito importante para se entender e realizar pesquisa em qualquer ramo. Eis um exemplo (fictício) que fiz para ilustrar um dos pontos apresentados: uma pesquisa mostra que, entre pessoas com depressão, existe um maior número de pessoas que dormem mais de nove horas (por dia) do que pessoas que dormem entre sete e nove horas. Poderia-se, então, pensar que o ato de dormir demais é uma das causas da depressão, mas uma pesquisa como essa libera resultados baseados em estatísticas, e apenas com esses dados não se pode estabelecer relações causais sem mais informações. Apenas relações de correlação podem ser inferidas: dormir mais de nove horas por dia e ter depressão têm um certo nível de correlação, ou seja, estão associados de alguma maneira.

   O livro também trata do valor da ciência. Nesse assunto, aborda o famoso lema “publique ou pereça” presente no meio acadêmico. Esse lema refere-se ao fato de que para que um(a) cientista seja considerado capacitado e que seja valorizado em sua carreira, ele(a) deve publicar seus resultados em artigos científicos acima de tudo, o que acaba afastando ainda mais os holofotes do ensino e da divulgação científica para o público em geral, atividade extremamente importante para manter a valorização da ciência pela população.

   Uma curiosidade interessante é que a definição de muitos conceitos usados em Filosofia da Ciência estão diretamente ligados aos conceitos de semântica, como o conceito de objeto, que não necessariamente é um objeto físico, e sim pode representar uma emoção, sentimento, desejo ou uma intenção. Inclusive, um grande enfoque é dado na linguagem, afinal, é graças a ela que desenvolvemos nossa racionalidade e somos capazes de fazer ciência

   O livro termina com alguns capítulos sobre a relação mente-corpo, com vários pontos de vista apresentados. Dentre eles, cito aqui as duas principais linhas de raciocínio: monismo e dualismo. A primeira considera mente e corpo como dois aspectos/partes de apenas uma coisa, já a segunda apresenta ideias baseadas no princípio de que mente e corpo são duas coisas diferentes, mas não necessariamente separadas.

   Vários outros tópicos são discutidos com significativa profundidade, e de um modo geral, aparentemente, o livro cumpre bem o papel de fornecer o básico sobre Filosofia da Ciência para o leitor. Uma característica que facilita muito o estudo e revisão por este livro é a presença de resumos ao fim de cada capítulo, contendo as ideias principais desenvolvidas. Também são apresentadas recomendações de literatura para estudos mais aprofundados e exercícios para reflexão e fixação do conteúdo.

   Apesar de algumas dificuldades em alguns pontos do livro devido a conceitos abstratos e argumentação complexa, posso dizer que fiquei bastante satisfeito com a leitura, e recomendo a qualquer um que esteja interessado em aprender mais sobre ciência como um todo, além de ser um conteúdo essencial a todo pesquisador e cientista.

Autor da resenha: Bruno Henrique Lisenko Ribeiro.

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