Resenha: Dois Irmãos, uma Guerra
Autor: Ben Elton. Ano de publicação: 2014. Gênero: Romance Histórico. Dois Irmãos, uma Guerra tem sua história baseada nas vivências de familiares do autor durante o período de nazismo na Alemanha; dessa forma, cada personagem retratado tem um fundo de verdade. O enredo desenvolvido tem como protagonistas dois irmãos, unidos pelo acaso; um tem sangue alemão, e o outro é puramente judeu. A mãe, Frieda, da a luz a dois bebês, mas um deles não sobrevive. Como o acaso muda isso? Uma outra mãe, no mesmo dia e horário, não sobrevive ao parto, e seu bebê é adotado por Frieda e Wolfgang, seu esposo, visto que os avós da criança não queriam-no, pois era filho de um comunista. Assim, Frieda e Wolfgang não mudam seu planejamento para cuidar de duas vidas. O livro conta a história seguindo duas linhas do tempo: uma no passado, começando em 1920 com o dia do nascimento dos irmãos e outra a partir de 1956, narrando as experiências de apenas um deles, o que já coloca o leitor a pensar sobre o que houve com o outro e de qual está sendo falado. O nascimento dos protagonistas é no mesmo dia do nascimento do partido nazista, e a partir disso, o autor expõe o crescimento dos três. Durante a trama, os jovens conhecem duas garotas, uma judia e outra “ariana”. No início, a vida deles pouco é influenciada por suas origens, e é mostrado a evolução dos jovens, suas aventuras e desventuras, autodescobertas, assim como a vida complicada que os pais dos meninos tinham para sustentarem a família. A cada alguns capítulos, mais informações são dadas sobre o protagonista da linha temporal de 1956 em diante, cuja identidade permanece oculta ao leitor por um bom tempo, o que traz à leitura uma ânsia de saber a verdade, talvez um ar um tanto investigativo, para descobrir de qual dos irmãos se trata. E de fato, em vários momentos, pistas sutis são dadas, e é possível ir montando o quebra-cabeças para desvendar o mistério que apenas depois de muitas páginas é revelado. Quando as primeiras influências do partido nazista começam a tomar poder sobre a população de Berlim, cidade onde a história se passa majoritariamente, a vida de todos os judeus é afetada, e o livro mostra isso de forma clara em vários aspectos, tanto na vida adulta, dos pais dos garotos e de conhecidos, quanto na juventude dos irmãos, que passam por diversas situações extremas juntos. É interessante o fato de que desde cedo fica clara a grande diferença na personalidade dos protagonistas, um sendo calculista, inteligente, e o outro sendo mais robusto, impulsivo, ambos “duros na queda”. Essa diferença põe em questão ao leitor qual deles passará por mais apertos nesse período que assolou a Alemanha, tendo em mente também suas origens diferentes. A maneira como o autor narra é impressionantemente eficaz na construção de empatia na leitura: os perigos, as emoções, as aventuras são tão bem descritas que é possível sentir-se na pele dos personagens. Dessa mesma maneira, o livro expõe muito bem a total crueldade que infectou a nação alemã no período nazista, e como sofriam aqueles que eram considerados os culpados por toda a miséria que o país enfrentava no pós-1ª Guerra Mundial, em sua maioria os judeus. É mostrado também a obsessão dos nazistas quanto à sistematização para literalmente eliminar todos os judeus, e como eles foram capazes de mudar a mente de todos a favor deles tão de repente. As passagens do livro envolvem quase sempre muita emoção, com uma surpresa a cada um ou dois capítulos. Essas surpresas ajudam a impactar ainda mais a crueldade dos nazistas, e como os afetados pelo extremismo sofreram. Dentre todas as preocupações com a família, conhecidos e sua própria nação, os irmãos também enfrentaram algo implacável: o amor. Essa emoção tão forte tornou-se obsessão e gerou rivalidade, como fica claro no livro, e junto ao amor, as implicações severas da guerra trouxeram muitas reviravoltas no romantismo dos irmãos, causando-lhes – especialmente num deles – um enorme peso sentimental. Apesar de todos os pontos que lembram tristeza, muitos aspectos heroicos são mostrados, tendo como exemplo a mãe dos meninos, Frieda, sempre disposta a dar tudo de si pelo bem dos que sofrem, mostrando a força que a ternura e gentileza têm em meio a tanto desespero e horror. Mesmo assim, as passagens deixam claro o realismo: a sobrevivência de muitos foi pura sorte. É um ótimo livro, muito emocionante, intenso, bem escrito, que não apenas expõe a crueldade do nazismo, mas também da guerra como um todo. Acredito que seja importante notar que o ódio assolou a nação alemã em meio – e provavelmente devido ao mesmo – ao período de desesperança no país, em que a crise econômica estava em alta, e violência era comum. Isso serve de reflexão sobre a realidade, e que precisamos sempre zelar pelo diálogo, tolerância e empatia ao próximo, por mais desesperançosos que sejam os tempos. Autor da resenha: Bruno Henrique Lisenko Ribeiro.