Holocausto Brasileiro

Holocausto Brasileiro

   

Autor: Daniela Arbex;

Ano de publicação: 6 de julho de 2013;

Gênero: Livro reportagem.

   O livro reportagem “Holocausto Brasileiro” relata os crimes cometidos as pessoas que foram internadas no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena. Ele era localizado na Zona da Mata, Minas Gerais. Fundado em 1903, o hospital tinha capacidade para atender cerca de 200 pacientes, mas diariamente chegavam centenas de pessoas no local. O hospital recebia indivíduos que a sociedade, de forma geral, escolhia eliminar, como mulheres grávidas, prostitutas, introvertidos, negros, filhos rebeldes, homossexuais, alcoólatras, pessoas com epilepsia e deficiência. Estima-se que mais de 70% dos internados não tinham nenhuma doença mental, apenas eram indesejados na sociedade.

   Com 16 pavilhões, cada um abrigando aproximadamente 300 pacientes, a estrutura do hospital refletia o abandono e o descaso, com apenas um funcionário, sem formação médica ou de enfermagem, para atendê-los. A estimativa é de que, entre 1960 e 1980, 60 mil internos tenham morrido. Foram décadas de crueldade e sofrimento, escondidas atrás dos muros da instituição, que chegou a ser comparada a um campo de concentração nazista pela autora. Os pacientes chegavam ao hospital em um trem, lotado de pessoas, surgindo então a expressão “trem de doido”.

   Os internados eram acordados cedo e enviados ao pátio; no local não existiam camas, roupas e água potável. Para que matassem a sede, era necessário que tomassem água do esgoto que era despejado a céu aberto. Os eletrochoques eram aplicados como forma de intimidação, a rede elétrica da Colônia (como era chamado o hospital) muitas vezes não dava conta da demanda. Devido aos castigos físicos e também ao frio, era comum ser encontrado corpos, de crianças, jovens, adultos e idosos, no chão em decomposição. Alguns desses mortos eram enterrados no fundo do hospital, outros eram vendidos para faculdades de medicina com o intuito de aumentar ainda mais o lucro.

   O livro conta com entrevistas de ex-pacientes, funcionários e médicos que lutavam para que essa situação acabasse. O cenário começou a mudar em 1961, quando uma reportagem de denúncia foi divulgada. No ano de 1970, o psiquiatra Ronaldo Simões delatou contra a Colônia no III Congresso Mineiro de Psiquiatria, e como resultado, ele perdeu o cargo de chefe de Serviço Psiquiátrico da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais.

   O hospital foi fechado definitivamente em 1980, após inúmeras denúncias e investigações. Os sobreviventes recebem acompanhamento psicológico até os dias atuais, mas as sequelas dos tempos de Barbacena não permitem a ressocialização.

   Uma frase do livro que o retrata significativamente é: “Ao receberem o passaporte para o hospital, os passageiros tinham sua humanidade confiscada”. O livro não apenas documenta os horrores do Hospital Colônia, mas também busca sensibilizar os leitores para as questões relacionadas à saúde mental e aos direitos humanos, estimulando a reflexão sobre a necessidade de uma abordagem mais humanizada no tratamento de pessoas com doenças mentais.

Autora da resenha: Ana Flavia Gomes.

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