Até o fim do tempo: Mente, matéria e nossa busca por sentido num universo em evolução
Autor: Brian Greene
Ano de publicação: 2020
Gênero: Divulgação científica
Imagine se as respostas para as questões mais profundas da vida e do cosmos, como sua origem e destino, ou as razões para existir a consciência, estivessem pairando calmamente abaixo do horizonte do nosso olhar, presente na mais prosaica conversa sobre a frente fria que se aproxima. Brian Greene, autor do Universo Elegante, encarrega-se de explicar um possível efeito, oriundo das máquinas a vapores dos séculos passados, que seja o alicerce para essas respostas.
Porém, estudar os mecanismos das máquinas térmicas pode ser um tanto quanto técnico e desgastante, e para suplantar esse problema, o autor usa como exemplo alternativo, além dos das máquinas, para falar sobre entropia, uma prateleira de molhos de tomate. Quando essas latas são organizadas milimetricamente ao longo dessa prateleira, pequenas mudanças seriam vistas quase que de imediato, agora, se as latas estiverem esparramadas no chão, dificilmente veríamos diferenças se algumas se moverem.
A parte impressionante, e um tanto assustadora disso tudo, é que o universo se tornará uma pilha de molhos de tomates caídas ao chão. Sua entropia aumenta com o tempo. Porém, se sua tendência natural, bem como tudo em que nele existe, é imergir no caos e desordem, como existem estruturas tão organizadas que conseguem dar sentido a um conjunto de traços e rabiscos, formando frases e sentenças, como essa que você, leitor, acabou de ler?
Infelizmente, o autor mostra que nossa existência não suplanta essa lei inexorável do cosmos. Para criar estruturas com ordem, a desordem deve aumentar em suas redondezas, como em uma dança a dois entrópica. Com essa simples, mas profunda observação, Greene aborda uma miríade de fenômenos, como a formação de estrelas, buracos negros, sistemas solares e da própria vida humana.
Por mais que, no fim das contas, sejamos apenas um conglomerado de partículas elementares organizadas, desprovidos de livre arbítrio, guiados pelos ditames da física, como dito pelo autor, a nossa história, a história da humanidade, não se resume exclusivamente a segmentos de matéria desprovidos de vida. A evolução, como uma mãe de mãos dadas ao seu filho, nos conduziu por caminhos tortuosos que tão pouco modificaram apenas nossos corpos, como também, como especulado por Greene, originou nossa criatividade, religiões, inclinações para a arte, nossa consciência.
Com alguns poucos bilhões de anos, e um pouco de sorte, o que antes era poeira espacial, ao ser guiada pelos princípios da entropia e evolução, originou seres conscientes, que nesse instante de suas vidas, usam seu precioso tempo para ler essas palavras. E se passassem mil milhões de anos, como estaríamos? Ou cem milhões de milhões de milhões de milhões de milhões de anos? Infelizmente, as previsões não são muito boas, mas um tanto quanto desoladoras.
Mas alegre-se, pois antes que a nossa raça, nossas conquistas, e todo o resquício de vida inteligente seja apagado da história do universo, seja por explosões solares, ondas gravitacionais ou desintegração da própria matéria, como explorado pelo autor, temos muito tempo. Tempo mais que o suficiente para deitarmos, e talvez, nos deleitarmos com um livro, escrito de forma genial, tanto para leigos quanto profissionais, que instiga sua imaginação, sobre a origem e destino do universo e da vida até o fim do próprio tempo.
Autor da resenha: Gabriel Vinicius Mufatto.
