Juliano Moreira: Psiquiatra Brasileiro (1873 – 1933)

Juliano Moreira: Psiquiatra Brasileiro (1873 – 1933)


   Juliano Moreira nasceu em Salvador, Bahia, na antiga Freguesia da Sé, no dia 6 de janeiro de 1872, filho do português Manoel Moreira do Carmo Júnior, inspetor de iluminação pública, e de uma empregada doméstica, Galdina Joaquim do Amaral [1,2].

   Juliano foi um pioneiro e desbravador dos preconceitos da época em que viveu, pois não conseguiria ter a projeção que teve na vida sem vencer as dificuldades de ser negro e pertencer a classe social baixa, sem boas condições financeiras. No período, estudar era luxo e privilégio de poucos. Somente pessoas de famílias tradicionais e que tinham alto poder aquisitivo conseguiriam chegar aonde este herói chegou. No entanto, Juliano matriculou-se na renomada Faculdade de Medicina da Bahia – FAMEB aos treze anos, graças ao vínculo que sua mãe tinha como doméstica na casa do Barão de Itapoã, seu padrinho e que foi um dos diretores da FAMEB [1,3]. 

   Poderia supor que ser negro seria um impedimento para sua entrada em uma Faculdade, principalmente, pelo fato de que a abolição da escravatura só viria acontecer três anos após a sua entrada na FAMEB [1,2].

   Doutorou-se aos 18 anos (1891), com a tese “Sífilis maligna precoce” e tornou-se professor substituto da FAMEB na seção de doenças nervosas e mentais aos 23 anos. A partir de então especializou-se com cursos e estágios em vários países europeus, e foi em uma das suas viagens que encontrou a enfermeira Augusta Peick que se tornaria sua esposa no futuro [1-3].

   Enquanto esteve na Bahia, Juliano criou, em 1894, junto a Nina Rodrigues (1862-1906) e outros médicos, a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Estado. Além disso, atuou, também, como médico da Inspetoria de Higiene, atendendo a população carente em cidades próximas a Salvador.

   Em 1899 ele realizou uma conferência disseminando as ideias de Sigmund Freud (1856-1939), o que o fez ser considerado o precursor da Psicanálise no Brasil [2].

   Entre 1895 e 1902, Juliano participou de diversos cursos relacionados a doenças mentais de renomados médicos e psiquiatras. Fez estágio, ainda, em anatomia patológica e frequentou as principais clínicas psiquiátricas e manicômios da Alemanha, da Inglaterra, da França, da Itália e da Áustria [3].

   De 1903 a 1930, no Rio de Janeiro, dirigiu o Hospício Nacional de Alienados. Neste, embora não fosse professor da Faculdade de Medicina do Rio, recebia internos para o ensino de psiquiatria, introduzindo práticas que refletiam seu profundo conhecimento do campo psiquiátrico mundial. Uma das medidas tomadas por ele foi propor que no lugar de coletes, camisas de força e grades, fosse adotada a klinoterapia (terapia pelo repouso), além do trabalho em oficinas [2].

   Na área de Saúde Pública, o psiquiatra trabalhou a favor da lei de assistência a alienados (1930), a qual garantia, entre outros direitos, o da internação dos cidadãos com alienação. Juliano Moreira também defendeu a necessidade de criação de diferentes tipos de hospitais para tratamento, inclusive um manicômio judiciário, o que foi concretizado em 1921, após uma rebelião no Hospital Nacional de Alienados. Uma das medidas mais importantes defendidas por ele foi a criação de uma colônia agrícola, a qual foi inaugurada em 1924 como Colônia de Psicopatas-Homens, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Em 1935 , uma dessas foi denominada Colônia Juliano Moreira [3,4]. 

   Deve-se ressaltar que um dos temas mais debatidos em seus trabalhos está relacionado à questão racial. Enquanto muitas teses afirmavam que as populações dos países mestiços eram mais suscetíveis às doenças mentais, Juliano Moreira negava essa possibilidade [2].

   Juliano Moreira morreu na cidade de Correias, Rio de Janeiro, no dia 2 de maio de 1933, sem deixar filhos. Em sua homenagem, em 1936, o Governo da Bahia cria o Hospital Juliano Moreira que ao longo do tempo passou por modificações. Desde 2005, possui em sua estrutura física além do centro hospitalar, um arquivo, uma biblioteca e um museu, mantidos pelo Governo do Estado da Bahia [1,4].

Escrito por: Matheus Vieira Camargo Ramos

Referências:

[1] Santana-Junior, E. F., Casais-e-Silva, L. L. – Juliano Moreira. Projeto Heróis da Saúde na Bahia. Disponível em http://www.bahiana.edu.br/herois/heroi.aspx?id=NA==. Acesso em: 26/09/2020.

[2] Secretaria de Cultura e Economia Criativa: Museu Afro Brasil. Juliano Moreira. Disponível em: < http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/hist%C3%B3ria-e-mem%C3%B3ria/historia-e-memoria/2014/07/17/juliano-moreira#:~:text=Filho%20do%20portugu%C3%AAs%20Manoel%20do,curso%20de%20Medicina%2C%20na%20Bahia.> Acesso em 26/09/2020.

[3] ODA, Ana Maria Galdini Raimundo; DALGALARRONDO, Paulo. Juliano Moreira: um psiquiatra negro frente ao racismo científico. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 22, n. 4, p. 178-179, 2000.

[4] EL-BAINY, E.I. Juliano Moreira. O mestre/ A instituição. Memorial Juliano Moreira. Salvador, Bahia, 2007.  LIMA, E. Velho e Novo Nina. Governo do Estado da Bahia. 2000.

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