Isolamento Social
Na segunda semana de junho, deste ano (2020), a Nova Zelândia anunciou a passagem do estado de emergência, no país, para o Alerta 1, o nível mais baixo da pandemia causada pelo SARS-COV-2. Isso se deve a algumas políticas que foram adotadas como: quarentena rigorosa e precoce, fechamento das fronteiras, testagem em massa e o rastreamento de pessoas que tiveram contato com indivíduos infectados pelo vírus [1]. As decisões rápidas tomadas pelos líderes do país, diante da situação, demonstram o conhecimento dos diversos fatos históricos que, infelizmente, possuímos de outras pandemias. Já quem não conhece a história, está fadado a repeti-la. A escolha de adotar a quarentena é corroborada pelos diversos estudos que foram feitos, tendo como base a situação gerada pela, doença popularmente conhecida como Gripe Espanhola, em 1918, a qual é considerada a pandemia mais mortal da história moderna, tirando a vida de, pelo menos, 50 milhões de pessoas [2]. Analisando algumas cidades dos Estados Unidos como St. Louis, São Francisco, Milwaukee e Kansas City, que foram alguns dos locais, no país, que responderam com mais rapidez e eficácia à situação, as estratégias com restrições drásticas tiveram como resultado o corte nas taxas de transmissão de 30 a 50%. Nova York, que foi a cidade que reagiu mais cedo à crise, com quarentenas obrigatórias e horário comercial escalonado, sofreu a menor taxa de mortalidade da costa leste [3]. Outro ponto muito importante a ser analisado é a economia de um país. Até em que níveis devemos manter uma quarentena? Nesse momento, muitos classificam a ideia de colocar um preço em vidas humanas como repugnante. Além disso, as consequências de uma crise econômica podem ser catastróficas, fazendo com que mais vidas sejam perdidas. O que pode não ser do conhecimento de muitas pessoas, talvez, é que os dados da pandemia de 1918 revelam que lugares com restrições mais rígidas, tiveram um melhor desempenho econômico após a situação. De acordo com Sergio Correia e Stephan Luck, que escreveram o artigo: Pandemics Depress the Economy, Public Health Interventions Do Not: Evidence from the 1918 Flu, as cidades americanas que tiveram o maior número de mortes, devido à pandemia, também tenderam a sofrer os maiores impactos em suas economias (as medidas foram realizadas em termos do declínio da produção industrial e do emprego) [4]. No Brasil, a situação é delicada. Ocupamos – no momento que escrevo este texto (14 de junho de 2020) – a segunda posição de países com mais mortes acumuladas pelo novo coronavírus [5]. Estranhamente, algumas pessoas que ficaram extremamente impressionadas com os números de mortos na Itália, durante o início da pandemia, não reagem na mesma proporção a todas as mortes anunciadas diariamente nos noticiários brasileiros. Talvez, a longa duração da pandemia fez com que esse tipo de notícia passasse a ser mais ignorável, porém, devemos lembrar que isso jamais deve ocorrer com coisas alarmantes como essa. Somente entendendo a situação em que nos encontramos é que podemos superá-la. O isolamento social está se encaminhando para o seu terceiro mês, oficialmente no país, e o ser humano, que é um ser sociável por natureza, sofre fisicamente e psicologicamente com essa isolação, mas não podemos esquecer do seu motivo. Temos o desenvolvimento de vacinas acontecendo e essa pode ser a melhor solução para o problema, entretanto, enquanto elas não chegam para a população, ainda temos que ficar em casa [6]. Existe, também, o fato de que para uma parte da classe trabalhadora, o “home office” não é possível, enesses casos as medidas de segurança, ao sair nas ruas, tornam-se ainda mais essenciais. Devemos evitar que nossa história seja escrita, relatando uma população que tinha as informações necessárias para enfrentar, da melhor forma a pandemia, e resolveu ignorá-las. Também, não podemos acreditar que a situação se normalizou, enquanto há pessoas enterrando seus familiares. Texto por: Ricardo G. Rodrigues Referências: [1] AcessePolítica, Disponível em: < https://www.acessepolitica.com.br/as-quatro-medidas-da-nova-zelandia-para-eliminar-o-coronavirus-e-reabrir-a-economia/ > Acessado em: 15 de junho de 2020. [2] All About History, Disponível em: < https://www.livescience.com/spanish-flu.html > Acessado em: 15 de junho de 2020. [3] Nina Strochlic e Riley D. Champine, National Geographic, Disponível em: https://www.nationalgeographic.com/history/2020/03/how-cities-flattened-curve-1918-spanish-flu-pandemic-coronavirus/ > Acessado em: 15 de junho de 2020. [4] The Economist, Disponível em: < https://www.economist.com/graphic-detail/2020/03/31/lessons-from-the-spanish-flu-social-distancing-can-be-good-for-the-economy > Acessado em: 15 de junho de 2020. [5] El País, Disponível em: < https://brasil.elpais.com/brasil/2020-06-13/ao-vivo-noticias-sobre-o-coronavirus-os-protestos-sociais-e-a-crise-no-brasil-e-no-mundo.html > Acessado em: 15 de junho de 2020. [6] María Elena Navas, BBC, Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52507575 > Acessado em: 15 de junho de 2020. [7] Imagem retirada de: <https://favpng.com/png_view/bird-bird-cage-silhouette-png/ugf7dgtH>