Georges Lemaître (1894 – 1966)

Georges Lemaître (1894 – 1966)


   “Vos calculs sont corrects, mais votre physique est abominable” (Seus cálculos estão corretos, mas sua física é abominável). Essas ásperas palavras foram ditas por Albert Einstein a George Lamaître acerca das suas soluções cosmológicas que previam a expansão do Universo. O que Einstein não imaginava, é que em alguns anos, ele aplaudiria em pé as ideias de Lemaître[2].

   Georges Henri Joseph Édouard Lemaître nasceu em Charleroi, na Bélgica, em 17 de julho de 1894. Era o mais velho entre os quatro irmãos e, desde cedo, traçou um plano de carreira acadêmica fora do comum: queria tornar-se padre e físico. No entanto, problemas financeiros que sua família enfrentava, levaram seu pai a aconselhá-lo a abandonar seu sonho e a entrar para uma escola de engenharia[1,2]. 

   Lemaître se formou em Engenharia Civil em 1913 e logo começou a atuar como engenheiro de minas. Porém, com o início da Primeira Guerra Mundial, teve de interromper suas atividades para servir como voluntário no exército belga, no qual chegou a  atingir o posto de Primeiro-Sargento. Para Lemaître, os 53 meses que passou no campo de batalha o fizeram reafirmar o anseio em seguir sua vocação sacerdotal. Com o fim da guerra retomou seus estudos e, no outono de 1920, matriculou-se no seminário da Maison Saint Rombaut, onde, em 1923, foi ordenado Padre Católico. Durante esse mesmo período, participou de um programa de pós-graduação em Física-Matemática. Em outubro de 1923, iniciou seus trabalhos no grupo de pesquisa liderado por Arthur S. Eddington, na Cambridge University, Inglaterra. Um ano depois, mudou-se para Cambridge, Massachusetts, onde começou a atuar no grupo de Harlow Shapley, em Harvard[1 – 3]. 

   Com o grande conhecimento que adquiriu no grupo de Shapley, tanto nas áreas da Física Teórica quanto da Astronomia, Lemaître, em 1927, escreveu um artigo no qual redescobriu as soluções cosmológicas prevendo a expansão do Universo. Essas soluções haviam sido também encontradas por Alexander A. Friedmann, em 1922. Além disso, nesse mesmo artigo, os resultados indicaram uma relação linear entre a velocidade de recessão e a distância de galáxias distantes. No entanto, como o artigo foi publicado numa revista de pouco reconhecimento, seu trabalho ficou desconhecido por anos[2]. 

   A situação mudou após resultados publicados por Edwin P. Hubble sobre a expansão do Universo. Com esses resultados, muitos pesquisadores da área trabalharam na procura e desenvolvimento de um modelo cosmológico que comportasse a expansão do universo mesmo com a presença de matéria. Entre estes pesquisadores estava Eddington, seu antigo orientador. Lemaître o alertou que tanto ele quanto Friedmann já haviam resolvido o problema. Com isso, seu artigo finalmente ganhou reconhecimento e teve uma tradução publicada no jornal Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. [2]

   Em 1931, Lemaître publicou um artigo na revista Nature, no qual propôs a ideia de que o Universo surgiu a partir da desintegração de um núcleo radioativo instável, que ele chamou de “átomo primordial” (mais tarde isso viria a ser conhecido como a Teoria do Big Bang). No entanto, o próprio Lemaître reconheceu que sua imagem do átomo primordial era apenas qualitativa, e que “certamente seria modificada se conhecêssemos melhor a física dos núcleos atômicos”[2].

   Enquanto que para a maioria das pessoas ciência e religião são duas palavras que não podem estar em concordância numa mesma frase, para Georges Lamaître, elas coexistiram em uma mesma personalidade. Ele morreu em 20 de junho de 1966, aos 71 anos, na cidade belga de Lovaina, dois anos após a detecção da Radiação Cósmica de Fundo, que é um dos resquícios da criação do Universo por meio do Big Bang[1].  

   A ciência, que nada tem a dizer sobre a religião, não impede que o cientista exerça uma prática religiosa. Lemaître sabia disso e deixou sua contribuição científica para a humanidade sem deixar de lado sua fé.   

Texto por: Felipe Leria Stefenon.

Referências:

[1] Imagem retirada de: Instituto Humanitas Unisinos,. Georges Lemaître, o padre do Big Bang que fez Einstein mudar de ideia. 2018. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/581045-o-sacerdote-georges-lemaitre-o-padre-do-big-bang-que-fez-einstein-mudar-de-ideia. Acesso em: 30 mar. 2020.

[2] GLEISER, Marcelo. A dança do universo: dos mitos de criação ao Big Bang. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

[3] LESLEY, Alison (ed.). DID YOU KNOW A CHRISTIAN PRIEST CREATED THE BIG BANG THEORY? 2017. Disponível em: https://www.worldreligionnews.com/religion-news/know-christian-priest-created-big-bang-theory. Acesso em: 30 mar. 2020.

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