Uma visão positiva sobre energia nuclear

Uma visão positiva sobre energia nuclear


   Dentre as várias outras formas de energia, a nuclear possivelmente é a vista com mais suspeita, provavelmente em razão dos famosos acidentes de Fukushima e Chernobyl, bem como devido à destruição das cidades de Hiroshima e Nagasaki, durante a Segunda Guerra Mundial, pelas bombas que utilizam do mesmo princípio de reação das usinas nucleares. O funcionamento destas pode ser resumido assim: urânio enriquecido no formato de pastilhas é mergulhado em água altamente pressurizada e então bombardeado por nêutrons, começando uma reação em cadeia; cada átomo de urânio atingido libera dois ou mais nêutrons (que atingirão outros átomos de urânio e assim segue) e outros átomos de menor massa, de forma que a massa total é menor que a inicial; a massa “perdida” na verdade foi transformada em energia, que servirá para aquecer água a fim de vaporizá-la, de forma a movimentar uma turbina e ativar um gerador. Os recipientes das pastilhas, bem como o combustível “vencido” são Rejeitos de Alta Atividade (RAA). Todas as coisas em contato direto com os RAA, como peças do reator, são considerados Rejeitos de Média Atividade (RMA); os em contato indireto, como as roupas dos funcionários da usina, são Rejeitos de Baixa Atividade (RBA).[1]

   Todos os rejeitos produzidos pela usina acabam em reservatórios intermediários, no aguardo para serem direcionados a depósitos geológicos, nos quais o lixo nuclear ficará isolado por muitos anos até perder significativamente sua radioatividade. O combustível utilizado nas usinas pode ser reciclado e reutilizado, o que reduz o volume de lixo produzido, mas também encarece o produto. Tendo em mente o básico sobre funcionamento e resíduos das usinas nucleares, pode-se discutir as vantagens e desvantagens e, quem sabe, responder à pergunta: vale a pena investir?[1]

   O Brasil possui grande quantidade de minério de urânio, bem como a tecnologia própria (ultracentrifugação) para enriquecê-lo, e isso representa uma grande vantagem de inclusão da energia nuclear na matriz energética brasileira, que em 2019 correspondia a 1,2% nesta, segundo o Sistema de Informações Energéticas (SIE) do Ministério de Minas e Energia (MME). Outro ponto a favor das usinas nucleares é a independência de fatores locais, como a necessidade de um rio, como no caso das hidrelétricas. A geografia do país também ajuda, pois no Brasil não há terremotos ou maremotos, como no Japão, onde ocorreu o acidente na usina de Fukushima devido a um maremoto de proporções inesperadas.[2]

   Do outro lado da balança, o custo envolvido na construção das usinas nucleares no Brasil é deveras alto, com Angra III, ainda em construção, superando os 10 bilhões de reais. Mesmo assim, o governo federal informou, pelo intermédio do Secretário de Planejamento Energético do MME, que estuda a possibilidade de construir outras três usinas nucleares no Brasil até 2050, com investimento de 30 bilhões de reais e 1GW de potência a cada nova usina, o que parece ser mais um sonho de criança tendo em vista a situação de Angra III. Para cumprir com tal possibilidade, o governo precisa investir no desenvolvimento da tecnologia nuclear e em formas inovadoras de construção delas para reduzir os custos.[2]

   Sobre a importância ambiental deste tipo de energia, um estudo do MIT revelou que o investimento nela é necessário se é desejado um menor custo no processo de descarbonização da atmosfera, um grande problema contemporâneo que vem agravando o efeito estufa, este que influencia drasticamente no clima do planeta a na sobrevivência de diversas formas de vida… incluindo a nossa. O estudo leva em consideração que usinas nucleares utilizam de um princípio de reação que não gera gases do efeito estufa, como CO2. Caso a energia nuclear não seja levada em consideração no processo de descarbonização, os custos possivelmente serão desencorajadores aos países[3]. Logicamente, o investimento em tais usinas não é a única opção para reduzir o impacto ambiental que causamos, mas tudo que servir de ajuda certamente é bem-vindo, e agora, mais do que nunca, é o momento de repensar a política ambiental e tecnológica, e apenas o investimento em educação e ciência tornará isso possível.

 

Texto por: Bruno Henrique Lisenko Ribeiro

Referências:

  1. ARAÚJO, Tarso. Onde é guardado o lixo nuclear das usinas brasileiras? – jul 2008. Disponível em: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/onde-e-guardado-o-lixo-nuclear-das-usinas-brasileiras/>. Acesso em: 29/02/2020.
  2. NEIVA, Lucas. Jornal de Brasília: Energia nuclear vale o risco – out 2019. Disponível em: <https://jornaldebrasilia.com.br/brasil/energia-nuclear-vale-o-risco/ >. Acesso em: 29/02/2020.
  3. Petronotícias. Estudo do MIT revela que energia nuclear será vital para a descarbonização do planeta – set 2018. Disponível em: <https://petronoticias.com.br/archives/116820 >. Acesso em 29/02/2020.

   

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