A complexidade das coisas simples
Algumas vezes podemos pensar que para escrever um bom texto ou um bom livro temos que utilizar palavras difíceis, criando assim trechos complexos que as pessoas não consigam entender facilmente. Depois de um tempo passamos a compreender a importância de sermos claros, das pessoas entenderem aquilo que você diz, e que você pode ser profundo mesmo escrevendo de maneira simples. Muitas vezes, percebemos que essa tendência a complicar as coisas que podem ser simples está, de certa, forma erroneamente disseminada; vemos isso tanto em meio acadêmico, quanto em pessoas que querem simplesmente falar com o público. Há um certo status que envolve usar palavras complicadas, e isso é algo no mínimo curioso, pois quando lemos textos de autores como René Descartes ou Jean-Jacques Rousseau, podemos constatar que eles escrevem de forma muito clara, sem enigmas e mistérios, e mesmo assim abordam temas muito pertinentes. Já quando lemos alguns outros autores, deparamo-nos com textos que muitas das vezes entendemos nada. O problema da complexidade não está no fato da dificuldade da leitura – é claro que existem assuntos suficientemente complexos, aos quais naturalmente não conseguimos encontrar maneiras tão simples de abordá-los, mas não necessariamente isso diz respeito a todo e qualquer tema – o problema é quando isso passa a validar discursos que fazem nenhum sentido. Michel Foucaut chamava esse uso da complexidade de “terrorismo do obscurantismo” e dizia: “Eles escrevem de maneira tão obscura que você não consegue distinguir o que eles estão dizendo, essa é a parte do obscurantismo; e depois, quando você os critica, eles sempre dizem: você não me compreendeu, você é um idiota. Essa é a parte do terrorismo”. Infelizmente, isso está presente na atualidade, em diversos discursos políticos e ideológicos vemos autores, acadêmicos e personalidades que utilizam de linguagens extremamente difíceis para que as pessoas realmente não os compreendam e de alguma forma isso dê valor a um discurso totalmente vazio, em que a principal origem de sua complexidade está no fato de que fazem nenhum sentido. Texto por: Ricardo Gonzatto Rodrigues. Referências: [1] Debate Noam Chomsky & Michel Foucault On human nature. 2015. (1h10m03s). Disponível em: < https://www.youtube.com/results?search_query=debate+entre+foucault+e+chomsky>. Acessado em: 05/11/19.