O preço do diploma: a linha tênue entre o esforço e o distúrbio

O preço do diploma: a linha tênue entre o esforço e o distúrbio

Os relatos de jovens que sofrem de algum tipo de transtorno psicológico não são poucos e estão crescendo cada vez mais, estando eles, em sua pluralidade, ligados de alguma maneira a faculdade. Alunos da INPG (São José dos Campos – SP) e da Unicamp, por exemplo, declararam que desenvolveram ansiedade e pânico, em ambos os casos as crises possuem relação direta com a faculdade. Em 2016, uma pesquisa divulgada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais do Ensino Superior (Andifes) indicou que 30% dos alunos de graduação e instituições federais do Brasil procuraram atendimento psicológico e mais de 10% fizeram uso de algum medicamento psiquiátrico. Um estudo mais recente da Associação Americana de Psicologia, publicado em 2018, apontou que mais de um terço dos universitários do primeiro ano sofrem de algum distúrbio psicológico, sendo depressão e ansiedade os mais comuns entre eles. O professor Randy P. Auerbach, da Universidade de Columbia, relata que “O número de estudantes que precisam de tratamento excede os recursos da maioria dos centros de aconselhamento. Considerando que os universitários são uma população-chave para determinar o sucesso econômico de um país, as faculdades devem ter urgência em abordar essa questão.” Para obter tais resultados, Auerbach e sua equipe analisaram dados da Iniciativa de Estudantes Universitários Mundiais de Saúde Mental da OMS, cerca de 14 mil estudantes de 19 universidades em oito países responderam questionários para avaliar transtornos mentais. A descoberta foi que 35% desses alunos relataram sintomas que condiziam com pelo menos um distúrbio mental, sendo a depressão o mais comum, seguido pelo transtorno de ansiedade generalizada.

    Inúmeros alunos mencionam que as faculdades nas quais estudam e/ou estudaram não disponibilizavam nenhum tipo de ajuda, e muitas vezes tiveram que procurar psicólogos particulares, sendo que, a maioria que procura pelo serviço já está extremamente sobrecarregado. As críticas não param nesse ponto, alguns alunos ainda relatam que professores muito autoritários e/ou totalmente desinteressados acabam por piorar ou até ser o motivo da causa de tais distúrbios; contam que mesmo estudando várias horas por dia, durante muitos dias para uma única prova, alguns desses professores cobravam em provas assuntos mais complexos do que os que havia explicado, os alunos acabavam por tirar notas muito baixas, o que aumentava o sentimento de incapacidade, alguns chegaram a desistir dos cursos que estavam fazendo por não suportar mais toda a pressão e não ter ajuda para lidar com os distúrbios.

    Para o psicólogo, professor e coordenador da clínica-escola Durval Marcondes do Instituto de Psicologia da USP, Pablo Castanho, o quadro não é um problema atual, a diferença que temos de alguns poucos anos para cá é a abertura para falar sobre esses assuntos. Alguns motivos, mas que não são causa isolada do problema, são destacados pelo professor, sendo eles: A influência do mercado de trabalho, devido à faculdade estar cada vez mais próxima deste mercado os alunos se sentem muito vulneráveis e sempre sujeitos a competições, chamadas de “competições predatórias”, onde as médias são criadas por critérios comparativos, para um aluno ir bem, outro necessariamente precisa ir mal; A desarticulação com o coletivo, devido à competitividade os alunos acabam perdendo forças e não conseguem se organizar para enfrentar essa situação e se ajudar mutuamente. Outros motivos destacados são a crise do modelo de vida, perda de referências e falta de significado, “O fato de ter algo estressante ou desprazeroso não é o problema. Se aquilo faz um sentido na vida da pessoa, é mais fácil passar por dificuldade de lidar com aquilo. Se a pessoa está em uma carreira que não faz sentido, não tem como lidar com toda a carga emocional que ela exige”, concluiu o professor.

    Analisando o quadro atual é possível perceber que algumas universidades começaram a se preocupar com essas questões e estão mais abertas para discussões e oferecer ajuda, mas ainda há um longo caminho pela frente, onde os alunos que sofrem com esses distúrbios recebam auxilio assim que diagnosticados e onde possamos ver as universidades como ambientes de crescimento pessoal e profissional e não como um lugar o qual acabará com nossa saúde mental e física e que possui enfoque apenas em uma competitividade não saudável. 

Texto por: Fernanda Barbieri de Lara

Referências:

MATOS, Thais. Por que os jovens universitários estão tão suscetíveis a transtornos mentais? Disponível em: <https://www.huffpostbrasil.com/2017/10/06/por-que-os-jovens-universitarios-estao-tao-suscetiveis-a-transtornos-mentais_a_23214960/>. Acesso em: 17 set. 2018.

GALILEU, RedaÇÃo. Um em cada três calouros da faculdade sofre com algum distúrbio mental. Disponível em: <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2018/09/um-em-cada-tres-calouros-da-faculdade-sofrem-com-algum-disturbio-mental.html>. Acesso em: 17 set. 2018.

2 Comentários

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  • Querida Fernanda, estava fazendo uma pesquisa e sem querer vi o tema e tive que abrir e me prendeu a minha atenção, muito interessante, acadêmica de enfermagem e no 2 p fiquei grávida após ganhar meu bebe voltei ele tinha dois meses, não parei a faculdade em nenhum momento da minha gestação tive a licença estudei em casa e voltei ele com 2 meses aí começaram minha depressão, engordei 20 kl após a gestação, meu bebe que só queria meu colo e chorava bastante, deixava ele para ir a faculdade pela manhã quando chegava por volta de 2h da tarde ele me grudava e já era, e os maldiltos trabalhos em grupos… Seu colegas e professores não querem saber do seu problemas, se vira.. Eu só sabia chorar e comer, era a única coisa que me restava. Meu filho no peito e computador no colo, noites perdidas a cabeça dava nó pensei até em suicídio, mas só ficava na mente, quis trancar a faculdade, meu esposo e meu anjo sem asas ele me levava todos os dias a faculdade e me pegava para ter certeza que não ia desistir, minha filha que na época tinha dez anos, minha sogra que ficava com meu bebé para estudar, enfim passei dias difíceis, estou no nono período não desistir pois tenho pessoas melhores que eu do meu lado.
    A faculdade nem os professores em nenhum momento ofereceu ajuda.
    Obrigada por esse artigo nunca tinha lido sobre esse tema. Hoje minha filha tem 12 anos e meu filho 3 anos emagreci e aprendi lidar com esse tema, não tomei medicamentos.

    Tatilene Queiroz Responder
    • Entendemos a dor que você passou, e também, ficamos felizes em saber que conseguiu superar isso tudo com ajuda de seu marido e colegas. Esse apoio é o pilar que nos sustenta nos momentos difíceis.
      E sim, muitas vezes as faculdades não dão mesmo essas oportunidades, esperamos que mais adiante essa situação mude nas universidades.
      Obrigada por falar conosco e desabafar, desejamos tudo de bom para você e para sua família!
      (sou o atual responsável pelo site)

      Vinicius Andrade de Oliveira Responder

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