Escala Kardashev
Ao olhar para o céu noturno nos deparamos com uma infinidade de estrelas, planetas e cometas. Se prestarmos um pouco mais de atenção, olhando atentamente por telescópios ou sondas espaciais, veremos que essa imensidão é maior do que esperávamos. Naturalmente, refletimos: somos os únicos seres vivos no universo? A resposta… tão distante quanto a primeira vez que a buscamos. Porém, a teimosia e genialidade dos humanos, em especial dos cientistas, levaram a buscar meios de investigar civilizações alienígenas. O meio escolhido foi a energia. Indiferente à raça, cultura, política ou religião, todas as civilizações gastam energia, inclusive as alienígenas. Quanto maior for esse gasto energético, mais avançadas devem ser suas tecnologias, uma vez que, para fazer ciência é necessária energia [1,2]. Com isso em mente, Nikolai Kardashev propôs um modelo, uma escala, para ranquear as civilizações alienígenas com base em seu consumo de energia. O primeiro estágio, o nível 0, é uma civilização que nem sequer dominou todas as formas de energia disponíveis em seu planeta natal. Os humanos não dominam ainda todas as formas de energia. As que temos nos classificam como uma civilização do tipo 0.7, porém, com o aumento atual no PIB mundial, cerca de 2% a 3% ao ano, dentro de 3 séculos podemos nos tornar uma civilização do tipo I [2]. Os primeiros indícios do nascimento dessa nova civilização estão aparecendo: meios de comunicação global (internet), ascensão universal de línguas (mandarim e inglês) e culturas (futebol e filmes hollywoodianos); consequências diretas do nosso nível tecnológico e, por efeito, do nosso domínio da energia [1,3]. O custo que pagamos nesta transição, entretanto, pode ser a nossa própria ruína, pois, como nos lembra Michio Kaku: Uma civilização do tipo 0, […], acendeu recentemente do pântano do sectarismo, da ditadura, dos conflitos religiosos etc. Ainda carrega as cicatrizes de seu passado brutal, coalhado de inquisições, perseguições, pogroms e guerras. (Kaku, 2019) Como desfecho, vemos um planeta que sofre com o aquecimento global, superpopulação, guerras, eminentes ataques bioterroristas e nucleares e discriminação. Talvez, antes de dominarmos formas de energias nucleares e renováveis, para enfim alcançarmos a escala I, tenhamos nos destruído. Especulações sugerem que possamos, quando dominarmos viagens estelares, encontrar resquícios de civilizações que tentaram chegar ao nível I, como atmosferas superaquecidas, níveis de radiações altíssimos ou destroços de cidades[1,3]. Superados esses desafios, o próximo passo é alcançar uma civilização do tipo II. Para isso, precisamos dominar toda a energia produzida por nosso sol – em torno de 4 x 1026 W/m2. Um método seria construir uma esfera de Dyson, uma megaestrutura com painéis solares que circundam o Sol. O material necessário para construí-la em muito ultrapassa o fornecido pelo nosso planeta, logo, ele deve ser extraído de fontes externas, como cometas. Com efeito, civilizações do tipo II dominam viagens espaciais e nanotecnologias, acontecimento que a raça humana só verá, nas melhores das hipóteses, em alguns milhares de anos [1,2]. Demasiadas são as tecnologias de uma civilização do tipo II, que mesmo sua espécie pode ser imortal. O aquecimento global pode ser evitado com tecnologias à base de hidrogênio, asteroides podem ser desviados com foguetes nucleares, doenças curadas com cirurgias genéticas e, na pior das hipóteses, o planeta pode ser evacuado. Essas tecnologias, entretanto, podem levar a própria população à aniquilação. Devido a segunda lei da termodinâmica, tamanho seria o calor produzido por essas máquinas que a própria vida seria inviável, levando seu planeta a superaquecer. O mesmo motivo de sua ruína, entretanto, pode ser o meio para verificarmos sua existência. O calor emitido por suas máquinas, além de serem captados por nossos instrumentos, teriam um contraste visível em relação às demais formas de calor no universo. A falta de evidências dessas fontes de calor, todavia, corrobora para crermos que não existem civilizações avançadas dentro da nossa galáxia, ou ao menos, civilizações que não sucumbiram à sua própria tecnologia [1]. Por fim, a única esperança de uma civilização do tipo II é colonizar o espaço sideral, levando-a utilizar toda a energia de sua galáxia (cerca de 4×1036 W/m2) como uma civilização do Tipo III. Especular como seria essas civilizações, seria como o próprio nome sugere, apenas especulação. Seu nível de desenvolvimento tecnológico seria tanto que mesmo a conversão da mente humana para máquinas seria possível, levando a imortalidade humana. Talvez, na mais otimista das hipóteses, dentro de alguns milhares de milhões de anos a raça humana alcance esse estágio. [1]. Teorias recentes sugerem haver outros níveis na escala, civilizações IV e V, que poderiam usar toda a energia de aglomerados de galáxias e do próprio universo [4]. A falta de evidências de civilizações tão avançadas sugere que elas não existam em nosso universo observável. Entretanto, talvez sejamos a primeira espécie a tentar alcançar essa façanha e outras civilizações, menos evoluídas, olhem para o céu esperando que apareçamos com nossas naves em forma de disco para lhe entregar o santo grau da evolução, a ciência. Autor: Gabriel Vinicius Mufatto. Referências [1] Kaku. M. O futuro da Humanidade: Marte, viagens interestelares, imortalidade e o nosso destino para além da terra. Tradução de Jaime Biaggio. Planeta do Brasil: São Paulo. 2019. p 257 – 301. [2] Ciência todo o Dia. A Escala Kardashev Explicada. Youtube. 23 set. 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fj3iYkTY_B8&t=6s. Acesso em: 13 out. 2023 [3] Civilização tipo 1: entenda a importância de nos tornarmos uma. Disponível em: https://blink102.com.br/civilizacao-tipo-1-entenda-a-importancia-de-nos-tornarmos-uma/. Acesso em: 13 out. 2023. [4] Escala de Kardashev. Disponível em: https://socientifica.com.br/enciclopedia/escala-de-kardashev/. Acesso em: 13 out. 2023.
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