Navalha de Occam

   Você nunca pegou uma xícara de café! Na realidade, diabretes verdes neon a colocam na sua mão antes mesmo de você tocar na xícara. Porém, devido a uma mutação em seus genes, eles são invisíveis e indetectáveis a qualquer tentativa de observação direta ou indireta vinda de um humano.

   E digo mais, em seus cromossomos…. Tudo bem, você deve estar pensando que sou louco por escrever essas palavras para um texto em um site de ciência, mas eu lhe pergunto: por que a hipótese dos diabretes é errada? Por que ela parece tão absurda aos seus olhos?

   Simples, porque ela é muito difícil. Para  poder sequer ser considerada plausível, deveríamos admitir a existência de criaturas fantásticas, invisíveis  e com interesses misteriosos por xícaras. É muito mais simples pensar que nossos músculos, por processos neurais e químicos, levaram nossos braços e mãos até a xícara.

   Em outras palavras, na hipótese dos diabretes, há entidades além do necessário para explicar a realidade. É evidente que é mais confortável e prático admitir como verdade a segunda hipótese, afinal, é necessário apenas a ação dos músculos para explicar o mesmo ato.

   Essa tendência de preferir hipóteses e teorias que utilizam a menor quantidade de entidades para explicar a realidade, evidencia o âmago da navalha de Occam. Todavia, para evitar interpretações equivocadas, vale explicar que a palavra “ entidade” não se refere a seres místicos ou algo do gênero, mas a quantidade de axiomas ou pressupostos numa teoria. 

Teorias que precisam de muitos axiomas, ou postulados, para poderem explicar a realidade são mais difíceis para serem verificadas e mais complexas em serem elucidadas. Nota-se, entretanto, que por mais que teorias simples não sofram em demasiado dessas complicações, deve-se ter o cuidado em perceber se elas descrevem  a totalidade dos fenômenos observados.

   Teorias mais simples, entretanto, não necessariamente precisam ser fáceis ou terem poucos postulados e axiomas. A navalha de Occam  tem como método de escolha as teorias com o menor número de entidades necessárias. Dessa forma, entre duas teorias que explicam a realidade, deve-se optar por aquela  fundamentada  no menor número de postulados necessários para ser verdadeira.

   Como exemplo, pense nas leis da gravitação de Kepler e Newton, ou mesmo nas de Einstein. Elas não são fáceis, muito menos simples. Entretanto, são muito mais simples do que a teoria da dinâmica celeste de Aristóteles, que admitia a existência de mais de 60 círculos concêntricos, para explicar o movimento celeste de alguns poucos planetas.

   Mesmo atuando como um instrumento lógico que “seleciona” teorías e hipóteses no método científico, a navalha de Occam pode ser associada à própria natureza da realidade. Como exemplo, pense que ao desenvolver um hábito, qualquer estímulo que o lembre irá acionar as conexões neurais que levam a esse hábito. O motivo: é mais fácil e menos energético para o cérebro utilizar pontes sinápticas já estabelecidas.

   Ou seja, ele “opta” pelo caminho mais fácil, o que é equivalente a dizer que a natureza escolheu a simplicidade. Outro ponto de vista para a navalha de Occam é sua aplicação em tarefas cotidianas, afinal, ela pode ser usada para filtrar elementos textuais de um texto, modos de tocar instrumentos musicais ou até mesmo como você entende que funciona uma xícara de café.

   Portanto, a navalha de Occam não pode ser interpretada apenas como um modelo lógico empregado por alguns cientistas. Mas sim, como uma corrente filosófica que modela as escolhas científicas e pessoais, levando quem a segue a tomar decisões e posicionamentos o  mais simples o possível.

Autor: Gabriel Vincius Mufatto.

Referências

MCFADDEN. J. A Navalha de Ockham: o princípio filosófico que libertou a ciência e ajudou a explicar o universo. Tradução de George Schlesinger. 1ed. Rio de janeiro: Sextante. 2022.

PIRES.R. A navalha de Occam e seu uso na criatividade. Disponível em: https://rockcontent.com/br/blog/navalha-de-occam/. Acessado em: 27 out. 2023.

LAZARETTI.B. O que é a navalha de Occam?. Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-a-navalha-de-occam acessado em: 27 out. 2023