Resenha: O Enigma Quântico: o encontro da Física com a consciência
Autores: Bruce Rosenblum e Fred Kuttner. Editora: Zahar. Gênero: Divulgação científica. O livro escrito pelos físicos Bruce Rosenblum e Fred Kuttner traz informações acerca dos mistérios da mecânica quântica de uma maneira leve e didática. Sem o uso de equações, os professores conseguem com maestria transmitir as indagações sobre essa subárea tão contraintuitiva para os leigos e até mesmo para os físicos. Os primeiros capítulos são dedicados à explicação de conceitos base da mecânica clássica, mais especificamente da ondulatória. Adiante, Bruce e Fred introduzem conceitos essenciais à mecânica quântica, como a função de onda e a ondulatoriedade ou, mais tecnicamente, o quadrado absoluto da função de onda. Com histórias atrativas, os autores explicam experimentos quânticos fictícios, explicitam a estranheza com os resultados que seriam obtidos de acordo com os postulados da mecânica quântica e enfatizam que essa área é muito sólida devido à concordância da teoria com os experimentos já realizados. Além disso, Bruce e Fred discorrem sobre a quântica ser o “esqueleto no armário” dos físicos, já que nos cursos introdutórios dessa matéria as questões filosóficas são ignoradas e estipula-se o lema “cale a boca e calcule!”. O enigma tão presente no livro envolve o fato de que as observações alteram o que é observado, por exemplo o comportamento de um átomo. Assim, os autores indagam o que podem ser consideradas “observações” e, se esse fenômeno acontece em escala microscópica, por que não pode ocorrer em escalas macroscópicas, já que objetos são nada mais do que um conjunto de átomos? Foi exatamente esse questionamento que mais me intrigou e as explicações para essa questão surgem exatamente da primeira indagação. Os autores explicam o questionamento anterior com a famosa experiência mental do “gato de Schrödinger”, em que o gato se encontra em estado de superposição, vivo e morto, simultaneamente, até que alguém observe o interior da caixa onde este está. Bruce e Fred argumentam que objetos macroscópicos não podem permanecer não observados em estado de superposição, isto é, isolados, pois estão constantemente sendo “observados”. No caso do gato de Schrödinger, o calor do corpo do gato gera a emissão de fótons que incidem na parede da caixa. Isso significa que a caixa “observa” o gato, ou seja, há uma interação com o sistema físico e isso torna a história de Schrödinger absurda. Dessa forma, os autores abordam com leveza e humor o “solipsismo tolo”. “Se uma árvore cai na floresta e ninguém ouve, há algum ruído?” O realista responde: “Sim. Mesmo que as variações de pressão do ar que experimentaríamos como som não fossem ouvidas por ninguém, elas existiram como fenômeno fisicamente real.” O solipsista diz: “Não. Nem mesmo havia uma árvore, a não ser que eu a vivenciasse. Mesmo então, só as minhas sensações conscientes realmente existiam.” Quanto a isso, citamos o filósofo Woody Allen: “E se tudo é uma ilusão e nada existe? Nesse caso, decididamente paguei demais pelo tapete.” (pág. 46) Já para os capítulos finais, são introduzidas as várias interpretações para a mecânica quântica e como estas competem entre si. É possível, com essas interpretações, perceber que não há um consenso entre os físicos sobre o enigma quântico, cada um pensa de uma maneira e muitos até mesmo ignoram essa parte mais filosófica da área. Os autores salientam a importância dessas discussões, já que a mecânica quântica está atualmente cada vez mais presente no cotidiano, seja nos equipamentos de ressonância magnética utilizados na Medicina ou nos microprocessadores de celulares e computadores. Além disso, os autores dedicam alguns capítulos do livro para introduzir o conceito de consciência, sem a preocupação de defini-lo com exatidão, para, assim, relacioná-lo com a quântica. “Para nós [físicos], ‘consciência’ decididamente inclui a percepção de livre escolha pelo experimentador. Esse uso do termo ‘consciência’ é o padrão na abordagem do problema da medição quântica”. Essa “livre escolha” abordada no livro diz respeito à dualidade onda-partícula, a qual afirma que a luz pode se comportar como uma onda espalhada ou como pacotes compactos de matéria a depender da escolha do experimento. Por exemplo, digamos que você escolha realizar um experimento em que a luz se comporte como uma onda, essa escolha determinou a situação física externa ou esta teria predeterminado a sua escolha? Os professores discorrem que essas possibilidades não têm sentido, pois trata-se do enigma quântico não resolvido. O livro O Enigma Quântico consegue cumprir muito bem com o objetivo da divulgação científica e é recomendado para todos os públicos. Para os alunos de graduação, especialmente, a leitura é interessante para que o discente conheça sobre as várias interpretações da mecânica quântica. Para o público leigo, o livro atua como uma introdução à física moderna e até mesmo aos conceitos básicos da física clássica. Ademais, as questões levantadas pelos autores rendem conversas muito frutíferas e longas sobre as estranhezas dessa área. Autora da resenha: Rieli Tainá Gomes dos Santos.