Um pouco sobre emoções
O homem sempre teve diversos questionamentos sobre as suas emoções, os quais eram respondidos através da mitologia. Tomando como exemplo a mitologia grega, temos as emoções como uma manifestação dos deuses. Sendo assim, um homem que se vê completamente apaixonado por uma mulher, com uma emoção que ele não consegue compreender e muito menos explicar, seria o resultado de uma das “flechas do amor” de Eros (Deus do amor), enquanto um homem que anseia por vingança por ter sido traído, era uma manifestação das Erínias (personificações da vingança). Em ambos os casos os indivíduos têm dificuldades em controlar as emoções, as quais simplesmente afloravam nos homens. Por esse motivo, eles acreditavam que essas emoções eram uma manifestação divina E essas ideias foram aceitas por diversos séculos e ainda permanecem, com algumas alterações, no cristianismo, no qual as emoções “positivas” estão relacionadas com Deus e as emoções “negativas” são influência do Diabo. Com o desenvolvimento do estudo das emoções, por meio da psicologia e da biologia, foram surgindo diversas teorias sobre as emoções. Entre elas, vamos discutir a teoria evolutiva da emoção, a teoria da emoção de James-Lange e a de Cannon-Bard. A teoria evolutiva da emoção foi desenvolvida pelo famoso Charles Darwin. Ele percebeu que as emoções eram comuns tanto nos homens como nos demais animais, sendo assim era algo inato. E então, já que todos os animais tinham uma origem em comum, ele interpretou que a capacidade de demonstrar emoções também evoluía e que a utilização da emoção era essencial para a sobrevivência dos indivíduos. Isso porque as emoções motivam as pessoas a agir aos estímulos exteriores, permitindo que estas sobrevivam e se reproduzam. O que ressaltava o caráter instintivo das emoções.[2] Com base na teoria evolutiva, surgiram outras teorias seguindo essa ideia de sobrevivência, mas procurando relacionar as respostas fisiológicas com as emoções. Consideremos a teoria desenvolvida de maneira independente por William James e Carl Lange em 1884, a qual sugere que um estímulo externo leva a uma reação fisiológica, o que nós interpretamos como uma emoção. William James fez o seguinte questionamento: “nós sentimos medo porque fugimos ou nos fugimos porque sentimos medo?”. De acordo com a teoria elaborada, nós sentimos medo porque fugimos, pois quando fugimos a nossa pressão sanguínea aumenta, os músculos contraem e a nossa “resposta emotiva” é o medo, pois estamos ofegantes e tremendo [3]. No ano de 1929, Walter Cannon apresentou uma teoria, a qual sofreu pequenas alterações de Phillip Bard. Esta refutava a teoria de James-Lange, dizendo que, na verdade, nós sentimos medo, o que faz com que o nosso cérebro receba um determinado estímulo e então o nosso corpo tenha uma resposta fisiológica (aumento da pressão sanguínea, contração dos músculos, etc) [4]. Essas teorias alavancaram o estudo sobre as emoções, procurando entender o que as pessoas sentiam e como elas se comportavam com determinado estímulo. Alguns estudos mostraram que muitas vezes as nossas emoções são influenciadas pela nossa cultura e criação. Em uma análise de como crianças reagem a uma situação “assustadora” foi observado que a maneira que as crianças agem depende do que elas aprenderam sobre determinado assunto; caso ela aprenda que aranhas podem atacar, ela terá medo, mas se aprendeu que aranha são inofensivas, ela será indiferente com a presença destas [5]. E a mesma manifestação fisiológica pode ser interpretada de diferentes maneiras. Um exemplo disso é se sentir envergonhado, algumas culturas interpretam isso como algo negativo e chegam a reprimir o ato, enquanto outras culturas interpretam como algo natural e um sinal de humildade [6]. Portanto, podemos perceber que as emoções fazem parte da história humana, essas simples respostas fisiológicas, a quais eram consideradas uma manifestação divina, tiveram influência na evolução da nossa espécie. E como uma pessoa se expressa ou como vai ser interpretado é exclusivo de cada ser humano, pois depende de sua cultura e criação Texto escrito por: Vinicius Andrade de Oliveira Referências: [1] Imagem retirada de: Jennifer Delgado Suárez. Disponível em: <https://www.asomadetodosafetos.com/2019/06/alergia-emocional-viver-com-as-emocoes-a-flor-da-pele.html>, Acessado em 19/04/20. [2] DARWIN, Charles; PRODGER, Phillip. The expression of the emotions in man and animals. Oxford University Press, USA, 1998. [3] Kendra Cherry, Disponível em: <https://www.verywellmind.com/what-is-the-james-lange-theory-of-emotion-2795305>, Acessado em 19/04/20. [4] Kendra Cherry, Disponível em: <https://www.verywellmind.com/what-is-the-cannon-bard-theory-2794965>, Acessado em 19/04/20. [5] SAYFAN, Liat; LAGATTUTA, Kristin Hansen. Grownups are not afraid of scary stuff, but kids are: Young children’s and adults’ reasoning about children’s, infants’, and adults’ fears. Child Development, v. 79, n. 4, p. 821-835, 2008. [6] Marianna Pogosyan, Disponível em: <https://www.psychologytoday.com/us/blog/between-cultures/201803/how-culture-shapes-emotions>, Acessado em 19/04/20.