Por que a fumaça do cigarro sempre procura quem não fuma?
Essa, entre outras questões, geralmente se faz presente na vida de todo indivíduo que frequenta um bar, ou local semelhante, com objetivo de tomar uma “gelada” e acaba voltando para casa “defumado”. No entanto, por mais que ela comumente sirva para expressar a indignação desse grupo de pessoas, convenhamos, a fumaça do cigarro nem sempre procura quem não fuma. Mas então por que questionamentos como esse surgem nas rodas de conversa? Para que seja possível compreender onde quero chegar, apresentarei outro exemplo semelhante a esse. A questão é: por que sempre, ou muito frequentemente, temos a impressão de estarmos na fila mais lenta do supermercado? A resposta para isso não envolve nada místico ou sobrenatural, apenas se baseia no fato de que nosso cérebro retém com mais facilidade memórias que foram mais “marcantes”, ou seja, quando a fila flui normalmente, não damos atenção a ela. No entanto, quando ela decide ficar parada, tendemos a ficar estressados. Logo, lembramo-nos mais facilmente das filas lentas. Esse fenômeno recebe o nome de “viés de disponibilidade”. O viés de disponibilidade faz parte de um conceito mais amplo, denominado viés cognitivo, que pode ser interpretado como tendências de pensar que acarretam em desvios sistemáticos de lógica e em decisões irracionais. Voltamos, agora, ao problema anterior, do por que acreditamos que a fumaça do cigarro sente uma atração inexplicável por aqueles que não fumam. Essa situação é muito semelhante ao problema da fila do supermercado, ou seja, temos uma tendência maior em lembrar dos momentos em que a fumaça veio em nossa direção, por se tratar de uma situação desconfortável para qual damos atenção especial. Logo, ela se encaixa na definição de viés de disponibilidade. Outro exemplo de viés cognitivo muito presente no julgamento de situações cotidianas, é o viés de confirmação, que, como sugere o nome, é a tendência em dar ênfase a informações que condizem com nossas próprias crenças. Este tipo de viés é muito comum em questões que envolvem esportes, política e religião, nas quais os indivíduos praticantes possuem ideias muito bem estabelecidas, e não são suscetíveis a mudanças. A lista de vieses como os citados é relativamente grande; citá-los foge da proposta deste blog, mas fica como uma dica de pesquisa. Tendo em vista essas características, os vieses geralmente são definidos como contratempos no momento de tomar decisões. No entanto, os vieses existem, ao que tudo indica, devido à tentativa do nosso cérebro em fazer escolhas e julgamentos de uma forma mais eficiente, levando em conta as informações mais disponíveis em nossa memória. O conhecimento desses vieses permite que façamos o exercício de evitá-los no ato de um julgamento. Fazendo isso, e sabendo que estamos constantemente sujeitos a peças que a nossa própria mente pode pregar em nós, é um passo importante na direção de um julgamento mais cético do mundo ao nosso redor.
[1] RODRIGUES, Yann. A MAIOR LISTA DE VIESES COGNITIVOS QUE VOCÊ JÁ VIU (PROVAVELMENTE). Site Além do Roteiro. Disponível em: <https://alemdoroteiro.com/2017/04/26/maior-lista-de-vieses-cognitivos-que-voce-ja-viu-provavelmente/>. Acesso em: 10 set. 2019.
[2] DESCONHECIDO. Vieses cognitivos: quando não pensamos, podemos errar. 2018. Site A Mente é Maravilhosa. Disponível em: <https://amenteemaravilhosa.com.br/vieses-cognitivos/>. Acesso em: 10 out. 2019.
[3] MLODINOW, Leonard. O Andar do Bêbado: Como o Acaso Determina Nossas Vidas. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. Tradução de: Diego Alfaro.