Resenha: O livro do desassossego

Resenha: O livro do desassossego


Autor: Fernando Pessoa.

Ano de publicação: 1982.

Gênero: Romance.

   Quase que como se cria um diário, Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros em Lisboa, inicia o Livro do Desassossego. O semi-heterônimo criado por Fernando Pessoa é semi pois, como este mesmo diz, “não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e afetividade.” E é de tal forma que Bernardo traz suas concepções sobre o mundo e sobre si.

“No baile de máscaras que vivemos, basta-nos o agrado do traje, que no baile é tudo. Somos servos das luzes e das cores, vamos na dança como na verdade…”

   Retratando a condição crua da alma humana, de forma desapaixonada e por vezes irônica, este não se exclui ao reduzir os sonhos e idealizações a pó, a monotonia detalhada de seu cotidiano, a mesquinhez das ideias e do ambiente tacanho em que vivem as pessoas, e ele próprio por conhecer, é a descrição da vastidão estreita em que se vive.

“É uma vontade de não querer ter pensamento, um desejo de nunca ter sido nada, um desespero consciente de todas as células do corpo e da alma. É o sentimento súbito de se estar enclausurado na cela infinita. Para onde pensar em fugir, se só a cela é tudo?”

   Em todo o momento em que afloram novas reflexões e sensibilidades, um novo rumo é dado para os pensamentos. E é com uma escrita muito eloquente com que Pessoa, ou Soares e até mesmo ambos, sintetiza os valores morais e conhecimentos em uma obra sem ter por parte uma linha cronológica.

   Uma leitura que deve ser feita sem pressa e sem necessidade de ordem específica, a gosto de quem lê, com inúmeras pausas para reflexões e para perceber a inquietação. O Livro do Desassossego é um relato de tudo que se vive e percebe-se com (e talvez por muitas vezes sem) a consciência, deixando à mostra toda genialidade e angústias de Pessoa enquanto um de seus mais de 70 heterônimos.

“Porque eu não sou nada, eu posso imaginar-me a ser qualquer coisa.”

Autora da resenha: Fernanda Barbieri.

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