Aquecimento global

Aquecimento global

Gráfico 1 – Aumento de dióxido de carbono nos últimos anos [1].

 

” O egoísmo não peca tanto por ações como por não compreensão.” – Hugo Von Hoffmanstan

 

   Como nós, humanos, somos geralmente bem-adaptados às nossas circunstâncias – desde o clima global ao clima político – qualquer mudança é geralmente dispendiosa. Por isso, temos a tendência de exigir dos cientistas que estejam bem certos do que nos afirmam, antes de sair correndo para nos proteger de um perigo imaginário. Mas alguns dos alegados perigos parecem tão sérios; que surge espontaneamente o pensamento de que talvez fosse prudente levar a sério até a pequena possibilidade de um perigo muito grave.

   No centro da discussão sobre o aquecimento global está a quantidade de carbono presente em nossa atmosfera: a temperatura do planeta varia dependendo dela e vice-versa, se dependêssemos apenas da quantidade de calor que o Sol irradia, a temperatura média do nosso planeta seria de -18°C… o que mantém a temperatura em valores aceitáveis para nós é justamente a presença de gases que retém a energia vinda do Sol, os chamados “gases-estufa”.

   Bolhas de ar antigas presas no gelo nos permitem voltar no tempo e ver como era a atmosfera e o clima da Terra no passado distante. Elas nos dizem que os níveis de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera estão mais altos do que nos últimos 800 mil anos (veja o Gráfico 1). Em 2013, os níveis de CO2 ultrapassaram os 400 ppm (partes por milhão) pela primeira vez. O resultado disto é que a temperatura média do planeta subiu quase 1°C nos últimos 50 anos.

   Quem nos diz todas essas informações é o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC); este testou vários culpados para o aumento de temperatura: variação da luz do Sol que recebemos, raios cósmicos, flutuações da temperatura natural da Terra, vulcões e outras diversas forças naturais. Todas elas juntas influenciam o clima, mesmo assim não explicam o aquecimento dos últimos 50 anos, esse aumento mostra uma relação notavelmente constante da queima de combustíveis fósseis, como o petróleo e o gás natural [2].

   Enquanto a Terra esquenta, o nível do mar sobe. No final do século XXI, o nível do mar terá , talvez, subido algumas dezenas de centímetros e, possivelmente, um metro. Em parte, isso se deve ao fato de que a água do mar se expande quando é aquecida, e, em parte, à liquefação do gelo polar glacial. Ninguém sabe quando vai acontecer, mas algumas das pequenas ilhas habitadas vão acabar sendo inteiramente submersas, segundo as projeções, e desaparecer da face da Terra. Compreensivelmente, formou-se a Aliança dos Estados das Pequenas Ilhas, que se opõe militantemente contra o aumento dos gases-estufa. Por si só o aquecimento global não gera um clima ruim, mas intensifica a possibilidade de haver o mesmo. O mau tempo certamente não requer aquecimento global, porém todos os modelos computacionais mostram que este deve ser acompanhado de aumentos significativos daquele – secas rigorosas no interior, sistemas de enchentes e tempestades violentas perto das costas, tempo mais quente em certas regiões, mais frio noutras, tudo provocado por um aumento relativamente pequeno na temperatura média planetária. É por isso que um tempo extremamente frio não é uma refutação poderosa para esse argumento [3].

   Essas são só algumas das consequências do aquecimento; nos dias atuais, é valido lembrar que ele não é um argumento político – apesar de ter interesses políticos o envolvendo – uma vez que ele é baseado em fatos, e todos temos o direito de contestar a validade dos fatos apresentados; e é nisso que deveria basear-se a opinião sobre a  existência dele, mesmo com grande parte dos estudos hoje em dia nos levando a um caminho que não podemos negar.

   E, calma, quando digo tudo isso não estou pedindo para você sair por aí plantando árvores – mesmo isso sendo uma boa ideia – só estou pedindo que você olhe com mais carinho para nosso lar, pois, até então, é o único planeta habitável que conhecemos, e deixar ele nas mãos de pessoas que não sabem o que estão fazendo talvez não seja uma decisão sábia.

   Uma solução cômoda para esse problema seria esperar a vinda de um grande “zelador” do ecossistema para a Terra, resolvendo todos esses problemas magicamente, porém enquanto esse “zelador” não vem, e, na pior das situações caso ele não venha, o que podemos fazer é nos encarregarmos dessa tarefa.

   Não deve ser tão difícil assim. Os pássaros – cuja inteligência tendemos a denegrir – sabem o que fazer para não sujar o ninho. Os camarões, com cérebro do tamanho de partículas de fiapos, sabem o que fazer. Os microrganismos unicelulares sabem. Já é hora de sabermos também.

Texto por: Ricardo Gonzatto Rodrigues.

 

Referências:

[1] Luthi, D., et al., 2008; Etheridge, DM e outros. 2010; (Dados do núcleo de gelo de Vostok / JR Petit e outros); Registro de NOAA Mauna Loa CO 2. Dispnível em: <https://climate.nasa.gov/climate_resources/24/graphic-the-relentless-rise-of-carbon-dioxide/>. Acesso em: 21/07/2019. Descrição adaptada do site do Programa Scripps CO2, “Keeling Curve Lessons”.

[2] The Intergovernmental Panel on Climate Change, 2019. Disponível em: <https://www.ipcc.ch/>. Acesso em: 21/07/2019.

[3] Sagan, Carl, 1934-1996. Bilhões e bilhões: reflexões sobre vida e morte na virada do milênio; tradução Rosaura Eichenberg – 1ª ed – São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

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