Valery Legasov (1936 – 1996)
“Legasov seria a pessoa responsável por entender o que ninguém tinha visto antes.”
– Jared Harris (Intérprete de Legasov na minissérie Chernobyl (2019))
Valery Alexeyevich Legasov nasceu em uma família humilde de trabalhadores civis no dia 1 de setembro de 1936, na cidade de Tula, na antiga União Soviética, onde, nos mapas atuais, consta localizada ao sul de Moscou, Rússia.
Legasov se formou em Engenharia Físico-Química no ano de 1961 no Instituto Dmitry Mendeleev de Engenharia Química de Moscou. Um ano após começou outra graduação no Departamento de Física Molecular do Instituto de Energia Atômica de Kurchatov, onde, no ano de 1967, acabou defendendo sua tese sobre a “síntese de compostos de gases nobres e o estudo de suas propriedades” e, logo em seguida, recebendo o grau de candidato de ciências, que se trata do primeiro grau acadêmico de pós-graduação em alguns países do antigo Bloco do Leste, expressão usada para referenciar a União Soviética e seus aliados na época da Guerra Fria. Em 1972, recebeu seu doutorado em química e posteriormente, de 1978 a 1983, tornou-se professor do Instituto de Física e Tecnologia de Moscou. De 1983 até sua morte, trabalhou no Departamento de Radioquímica e Tecnologia Química do curso de Química na Universidade Estadual de Moscou, assumindo também ao mesmo tempo o cargo de vice-diretor do Instituto de Energia Atômica de Kurchatov.
Em 26 de abril de 1986, devido ao seu cargo como vice-diretor, Legasov foi chamado às pressas pelo governo soviético para investigar as causas e atenuar as consequências de um acidente no reator 4 da Usina nuclear de Chernobyl, cidade próxima a Prypiat, conhecida hoje como a cidade-fantasma no norte da Ucrânia.
O fogo da explosão foi tão intenso que durou por cerca de 10 dias e estima-se que mais de 30 pessoas sucumbiram em poucos dias de radiação aguda, entre elas os bombeiros locais que correram para a fábrica sem qualquer ideia dos riscos letais. Não se sabe ao certo quantas pessoas foram afetadas devido a radioatividade, mas a maioria das estimativas está entre 4 mil e 93 mil pessoas que morreram depois, de câncer. Especialistas dizem que a área ao redor não estará apta para a habitação humana por 20.000 anos.
Imagem: Foto da usina nuclear após a explosão (Wojtek Laski/Getty Images).
Esse acidente nuclear poderia ter sido pior se não fosse por Legasov, que passou 4 meses na região e tomou uma série de decisões cruciais, como a de soltar areia, rebarbas e chumbo no reator aberto para evitar mais explosões e a evacuação da cidade mais próxima, Prypiat. Ele ficou responsável por apresentar um relatório elaborado por uma equipe especialista no desastre para a Agência Internacional de Energia Atômica (a principal agência nuclear do mundo), no qual explanaria sobre o acidente, numa forma de salvar a reputação de Moscou perante os países europeus que receberam uma dose significativa de radiação. Este relatório continha 400 páginas e foi lido por 3 horas consecutivas, e relatava, dentre muitas coisas, a negligência e corrupção no governo que permitiu o uso de instrumentos inadequados nos reatores, assim como o emprego de pessoal despreparado. Legasov foi sincero e convenceu o painel de que o mundo deve agir em conjunto nos próximos passos que seriam tomados, no caso, a reestruturação dos outros reatores da União Soviética.
Legasov foi aplaudido de pé por seus esforços, apesar de algumas autoridades o tratarem com frieza a fim de minimizar os efeitos da explosão. Com o passar dos anos, a radiação começou a afetar o corpo de Legasov, que tentou suicídio no hospital em que foi internado pela sua família após passar mal. Esse ato se concretizaria em seu apartamento no dia 27 de abril de 1988, dois anos e um dia após o acidente nuclear. Ele morreu por enforcamento sem deixar uma nota de esclarecimento, apenas jornais e fitas de áudio de seus últimos dias, nos quais contestava sua indignação em relação ao sistema político soviético. Sua morte acabou levando a múltiplas mudanças no projeto de segurança nuclear do país e, em 20 de setembro de 1996, o presidente russo Boris Yeltsin conferiu postumamente o título de Herói da Federação Russa a Legasov pela “coragem e heroísmo” que demonstrou durante sua investigação da explosão nuclear de Chernobyl. Todos os seus pertences foram queimados, tendo em vista que estes apresentavam radiação devido à sua exposição em Chernobyl.
Valery Legasov se empenhou ao máximo, juntamente a vários outros trabalhadores, para salvar a humanidade de um possível extermínio devido à radioatividade da explosão. Esse feito se tornaria um marco na vida de todos, que deveriam conhecer um pouco dessa história e então perceber que heróis de verdade existem e, em vez de capas ou poderes especiais como nos quadrinhos, usam algo mais grandioso, que é o conhecimento.
Texto por: Sanderson Carlos Ribeiro.
Referências:
ESQUIVEL, Beatriz. La verdadera historia de Valery Legasov, el científico que investigó Chernobyl. Disponível em: <https://culturacolectiva.com/historia/historia-valery-legasov-cientifico-investigo-limpio-chernobyl>. Acesso em: 10 jun. 2019.
BILYEAU, Nancy. The Man who Investigated Chernobyl – The Sad Fate of Valery Legasov. Disponível em: <https://www.thevintagenews.com/2019/06/06/valery-legasov-chernobyl/>. Acesso em: 10 jun. 2019.
TRIPATHI, Namrata. Scientist who exposed true extent of Chernobyl disaster killed himself a day after second anniversary. Disponível em: <https://meaww.com/hbo-chernobyl-nuclear-disaster-soviet-specialist-valery-legasov-expose-extent>. Acesso em: 10 jun. 2019.
FIND A GRAVE. Valeri Alekseevich Legasov. Disponível em: <https://www.findagrave.com/memorial/68123592/valeri-alekseevich-legasov>. Acesso em: 10 jun. 2019.
Josephson, Paul R. (2005). Red Atom: Russia’s Nuclear Power Program from Stalin to Today.
Legasov morreu em 88 e nao em 96