A Magia do Natal

A Magia do Natal

   O Natal — tal como o conhecemos hoje -, celebrado em 25 de dezembro, reúne símbolos que atravessaram gerações ao longo dos séculos. Entre eles, destaca-se a figura central da celebração: o Papai Noel, com seu traje vermelho e branco, o gorro em harmonia com a vestimenta e a barba tão clara quanto a neve [1].

   Segundo as narrativas natalinas, na noite que antecede o Natal, o Papai Noel sobrevoa os céus gelados do Hemisfério Norte em um trenó conduzido por renas, levando um saco recheado de presentes destinados às milhares de crianças espalhadas pelos mais diversos cantos do mundo. Muitas delas escrevem cartas ao longo do ano — expressando desejos, expectativas e relatos de boa conduta — endereçadas à casa do Papai Noel, local: Polo Norte [1]. Ao chegar em cada lar, o Papai Noel desce silenciosamente pelas chaminés e organiza os pacotes de presente em meias decoradas penduradas nas lareiras ou os deixa sob árvores iluminadas, repletas de enfeites. Ao concluir sua missão, retorna ao seu ponto de origem, dizendo: “Ho, ho, ho, Feliz Natal para todos!”. Esse som ecoa pelas noites estreladas e silenciosas de Natal [2].

   Em muitos países do Hemisfério Norte, o Natal coincide com a chegada do solstício de inverno, período em que, em algumas regiões, a neve começa a cair lentamente, cobrindo ruas, comércios e casas de branco, enquanto crianças e adultos saem de suas residências para construir bonecos de neve e preparar a lenha que aquecerá as lareiras. Nesse cenário de frio intenso e paisagens geladas, consolidou-se a imagem do Papai Noel — com seu traje espesso, quentinho e perfeitamente adequado às baixas temperaturas [2, 3].

   Aqui, no Brasil, é o calor que anuncia a chegada do Natal. Mesmo com um clima distante daquele retratado em filmes natalinos como Grinch e Esqueceram de Mim, a essência permanece a mesma: famílias se reúnem para celebrar e compartilhar as conquistas alcançadas ao longo do ano [2, 3]. Nesse período, as casas são decoradas com luzes piscantes — que iluminam fachadas, janelas, salas e jardins —, criando um ambiente acolhedor e cheio de expectativa.

   Além disso, na véspera de Natal, amigos secretos são organizados como uma forma descontraída de trocar presentes e se divertir. Logo depois vem a ceia, momento de partilha e celebração. A refeição varia de cultura para cultura, mas, nas mesas brasileiras, são servidos os mais variados pratos, como o peru assado, o arroz com uvas-passas, o salpicão, as frutas e, claro, as sobremesas, com a presença ilustre dele: o pavê, acompanhado da icônica pergunta de “tiozão”: “É pra ver ou pra comer?”, que, de tão repetida, já se tornou um clássico absoluto da noite [4].
Mas esse não é o único clássico marcante do Natal. O panetone sempre aparece — e, para quem não gosta de frutas cristalizadas, como eu, existe seu rival declarado: o chocotone. O nome é autoexplicativo: a massa ganha generosas gotas ou pedaços de chocolate, em versões que atendem todos os gostos. E ele costuma estar acompanhado daquele cafezinho, seja no café da manhã, seja nas tardes tranquilas de dezembro [4].

   Por trás dessas práticas modernas está a origem da celebração: de acordo com o Cristianismo, o Natal remete ao nascimento de Jesus Cristo, comemorado em 25 de dezembro. Segundo a Bíblia, Deus escolheu Maria, jovem de Nazaré, para conceber e dar à luz ao seu filho. Maria aceitou a missão com devoção, consciente da responsabilidade espiritual que assumia [5].

   Naquele período, o Império Romano decretou um recenseamento — um censo que obrigava cada cidadão a retornar à cidade de origem para registro oficial. Por pertencer à linhagem de Davi, José precisou deslocar-se até Belém e realizou a viagem acompanhado de sua esposa, Maria, já em avançado estágio de gestação. Ao chegarem a Belém, encontraram a cidade superlotada e, diante da ausência de vagas nas hospedarias, tiveram de buscar qualquer abrigo disponível. Assim, encontraram refúgio em um espaço simples destinado aos animais — possivelmente um estábulo ou uma casa de pastores [5].

   Ali, Jesus nasceu. Maria o envolveu em faixas e o colocou em uma manjedoura — um cocho usado para alimentar animais. Nesse instante, uma estrela muito brilhante surgiu no céu, chamando a atenção do rei Herodes, governante da Judeia. Herodes conhecia a profecia de Deus, que anunciava o nascimento de um Messias — um líder prometido para guiar o povo de Israel. Ao perceber que aquele menino poderia ser reconhecido como o ‘Rei dos Judeus’, Herodes interpretou o fenômeno como uma ameaça direta ao seu poder político [4, 5]. 

   Temendo perder sua autoridade, Herodes ordenou uma perseguição a todas as crianças recém-nascidas da região, na tentativa de eliminar qualquer possível sucessor. Esse plano não teve êxito, pois Jesus foi protegido por Deus [5].

   No Brasil, essa crença religiosa também se expressa nas novenas — encontros realizados nos dias que antecedem o Natal, em que as comunidades se reúnem para rezar, cantar e refletir sobre o nascimento de Cristo, preparando-se espiritualmente para essa data [5, 6]. Esses momentos costumam se encerrar ao som da canção [6]:

 “Noite feliz, noite feliz!
Ó Senhor, Deus de amor,
Pobrezinho nasceu em Belém […]”

   Inspirada por esses versos que, a cada ano, atravessam lares brasileiros e preservam o vínculo entre fé, tradição e cultura, deixo aqui registrados meus votos de um Feliz Natal e de um próspero Ano Novo. É com estas palavras, caro leitor, que me despeço.

Autora: Cassandra Trentin.

Referências:

[1] Flanders, J. Christmas: A Biography. London: Picador, 2017

[2] Nissenbaum, S. The Battle for Christmas. New York: Vintage Books, 1997.

[3] Bowler, G. Santa Claus: A Biography. New York: McClelland & Stewart, 2005.

[4] Senac São Paulo. Sabores do Natal Brasileiro. São Paulo: Senac, 2015.

[5] Johnson, P. Jesus: A Biography from a Believer. New York: Viking Press, 2010.

[6] Lima, L. A. Novenas de Natal no Brasil: Tradição, Fé e Cultura. São Paulo: Paulus, 2012.

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