
O Risco das Redes Sociais a Saúde Mental
O uso das redes sociais, outrora percebido como uma ferramenta de conexão, hoje é visto como um fenômeno de impacto significativo na saúde pública. A ciência tem desvendado os mecanismos por trás desse comportamento, revelando que a dependência digital não é um mero hábito, mas um padrão compulsivo com consequências neurológicas e psicossociais.
A Neurobiologia da Dependência e os Impactos Cognitivos
O que nos prende às telas é um ciclo de recompensa. Cada notificação, curtida ou comentário aciona a liberação de dopamina no sistema límbico do cérebro. Esse neurotransmissor, associado ao prazer, reforça o comportamento, criando um ciclo vicioso difícil de quebrar [1]. Estudos recentes mostram que essa busca por gratificação imediata não apenas leva à dependência, mas também tem um custo cognitivo. A exposição constante a estímulos curtos e superficiais prejudica a função executiva, que é a capacidade de focar, planejar e resolver problemas complexos. Com o tempo, o cérebro se torna menos capaz de processar informações de forma profunda, impactando a produtividade e o aprendizado [2].
A Fragilidade da Saúde Mental e a Vida Social
O cenário de comparação social nas redes se tornou um dos principais gatilhos para problemas de saúde mental, especialmente entre os mais jovens. A constante exposição a “vidas perfeitas” e corpos idealizados, muitas vezes distorcidos por filtros, alimenta a insatisfação corporal e a baixa autoestima. De acordo com uma reportagem do Senado, dados apresentados em audiência comprovam um aumento do vício em celular, o que contribui para o aumento de quadros de ansiedade e depressão [3]. O uso excessivo também compromete as relações fora das telas. A prática do phubbing (ignorar conversas no mundo real para usar o celular) se tornou comum, enfraquecendo as conexões reais e levando ao isolamento social [1,4].
Os Sinais de Alerta e Estratégias para o Equilíbrio
Reconhecer os sinais de alerta é o primeiro passo para o controle. Sentimentos de ansiedade ao se desconectar, dificuldade em controlar o tempo de uso e a priorização da vida online em detrimento da offline são indícios de que é hora de agir. Para retomar o controle, é crucial estabelecer limites de tempo para o uso das redes, desativar notificações e dedicar-se a atividades offline. O Jornal da USP destaca que essa mudança de hábito ajuda a resgatar a capacidade de viver o presente e a evitar a “elaboração ficcional da realidade” que as redes sociais podem criar [5]. Em casos mais graves, a busca por apoio profissional é fundamental para desenvolver estratégias eficazes para lidar com a dependência.
Em suma, a relação com as redes sociais deve ser consciente e equilibrada. Ao entendermos seus mecanismos e seus impactos, podemos retomar o controle de nossa saúde mental e de nossas conexões reais, garantindo que a tecnologia seja uma ferramenta a nosso favor, e não uma fonte de aprisionamento.
Autor: Matheus Bonassoli.
Referências
- SECRETARIA DA SAÚDE DO CEARÁ. Um olhar para dentro: uso desenfreado de redes sociais afeta saúde mental e desgasta relações fora das telas. Governo do Estado do Ceará, Ceará, [2023]. Disponível em: https://www.saude.ce.gov.br/2023/01/27/um-olhar-para-dentro-uso-desenfreado-de-redes-sociais-afeta-saude-mental-e-desgasta-relacoes-fora-das-telas/. Acesso em: 6 ago. 2025.
- MACKENZIE. Impactos do excesso do uso das redes sociais na saúde mental e na produtividade. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, [2024]. Disponível em: https://www.mackenzie.br/en/memorias/150-anos/acontece/arquivo/n/a/i/impactos-do-excesso-do-uso-das-redes-sociais-na-saude-mental-e-na-produtividade. Acesso em: 6 ago. 2025.
- SENADO NOTÍCIAS. Dados apresentados em audiência da CAS comprovam aumento do vício em celular. Senado Federal, Brasília, 2023. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/10/20/dados-apresentados-em-audiencia-da-cas-comprovam-aumento-do-vicio-em-celular. Acesso em: 6 ago. 2025.
- PORTAL GOV.BR. Refletindo sobre a saúde mental e o uso excessivo de redes sociais. Governo do Brasil, Brasília, 2025. Disponível em: https://www.gov.br/ibc/pt-br/assuntos/noticias/refletindo-sobre-a-saude-mental-e-o-uso-excessivo-de-redes-sociais. Acesso em: 6 ago. 2025.
- JORNAL DA USP. Uso excessivo das redes sociais pode levar a uma elaboração ficcional da realidade. Jornal da USP, São Paulo, 2021. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/uso-excessivo-das-redes-sociais-pode-levar-a-uma-elaboracao-ficcional-da-realidade/. Acesso em: 6 ago. 2025.
- VEJA SAÚDE. Excesso de redes sociais está associado a 45% dos casos de ansiedade em jovens. Veja, São Paulo, 2024. Disponível em: https://veja.abril.com.br/saude/excesso-de-redes-sociais-esta-associado-a-45-dos-casos-de-ansiedade-em-jovens/. Acesso em: 6 ago. 2025.