Fevereiro Laranja: Mês de Combate à LEUCEMIA

Fevereiro Laranja: Mês de Combate à LEUCEMIA

 

   A leucemia é um tipo de câncer no sangue provocado por mutações genéticas nas células-tronco, responsáveis pela produção das células sanguíneas. Essas mutações fazem com que haja uma produção descontrolada de células imaturas, afetando especialmente leucócitos (glóbulos brancos) [1]. Como resultado, elas não conseguem cumprir a função de defesa do organismo contra patógenos como bactérias, vírus e fungos. Além disso, essas células anormais prejudicam a produção de outros tipos de células sanguíneas, comprometendo o sistema imunológico e provocando sintomas como anemia, infecções e sangramentos nas mucosas — tecidos que revestem áreas internas do corpo, como boca, nariz e órgãos genitais. Esses sangramentos ocorrem devido à produção insuficiente de plaquetas, que são essenciais para a coagulação do sangue [1, 2].

   O entendimento da leucemia começou a se consolidar no século XVII, com o advento do microscópio, quando os médicos puderam observar pela primeira vez as células sanguíneas. No entanto, foi somente em 1865 que o patologista alemão Paul Ehrlich introduziu o termo leucemia, do grego leukós, que significa “branco”, e haima que significa “sangue”. O nome foi escolhido devido à proliferação anormal de glóbulos brancos (leucócitos) no sangue, característica da doença. Marco esse que impulsionou um avanço significativo no estudo e na classificação da leucemia [2].

   Atualmente, a leucemia é classificada em dois grandes grupos: agudas e crônicas, com diferença em sua progressão e tratamento. As leucemias agudas, como a linfóide aguda (LLA) e a mieloide aguda (LMA), progridem rapidamente e requerem intervenção imediata, frequentemente envolvendo quimioterapia intensiva e transplante de medula óssea, com melhores chances de cura em pacientes mais jovens. Por outro lado, as leucemias crônicas, como a linfóide crônica (LLC) e a mieloide crônica (LMC), têm um avanço mais lento e podem permanecer assintomáticas por anos [2]. Embora a cura seja mais difícil nesses casos, tratamentos modernos, como os inibidores de tirosina quinase para a LMC, permitem controlar a doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes [2-4].

   A origem dessas leucemias está associada a uma combinação de fatores genéticos, ambientais e ao estilo de vida humano. Exposição à radiação, produtos químicos como o benzeno (C₆H₆), tratamentos prévios de câncer e infecções virais, como o vírus Epstein-Barr e o HIV, são alguns dos fatores que podem aumentar o risco de desenvolvimento da doença. Ademais, condições genéticas, como a síndrome de Down, predisposição hereditária e fatores relacionados ao tabagismo — hábito de consumir produtos derivados do tabaco, como cigarros, charutos e cachimbos, também desempenham um papel importante no surgimento da doença [3, 4].

   A leucemia representa uma preocupação significativa em termos de mortalidade. Em 2020, foram diagnosticados cerca de 474.519 casos novos de leucemia no mundo, com aproximadamente 269 mil ocorrendo em homens e 205 mil em mulheres. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimou 6.738 óbitos por leucemia no mesmo ano, com uma taxa de 3,18 óbitos por 100.000 habitantes, sendo 3.703 homens e 3.035 mulheres [1, 4].

   O impacto dessa doença vai além de números, afetando diretamente a vida de muitas pessoas. Um exemplo claro disso é o da atriz brasileira Susana Vieira, que, em 2015, descobriu que estava com Leucemia Linfocítica Crônica (LLC). Em um relato pessoal, a atriz compartilhou a dificuldade de receber o diagnóstico:

“Sentei na frente dele [médico] e ele falou assim, friamente: a senhora é portadora de uma doença chamada LLC – Leucemia Linfocítica Crônica. Eu não sabia o que era mais pesado: a leucemia, o linfocítico ou o crônico”.

   Embora a LLC não tenha cura, ela pode ser controlada, e a expectativa média global dos pacientes é de 10 a 20 anos. Vieira atribui o controle da doença ao estilo de vida saudável que mantém, com exercícios físicos e alimentação equilibrada, e afirma estar “em paz” com a doença [5].

   Diante dos diversos casos e da agressividade desse câncer, surgiu a campanha “Fevereiro Laranja”, com o objetivo de conscientizar a população sobre os sintomas e a importância do diagnóstico precoce. A iniciativa foi criada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) no Brasil, com o intuito de promover arrecadações, fomentar ações educativas e rodas de conversa [6].

   O projeto também promove a doação de medula óssea, um ato fundamental no tratamento de muitos pacientes com leucemia. Em centros de doação, como o REDOME (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea), localizado no Rio de Janeiro, é possível registrar-se como doador, ajudando a salvar vidas e tornando-se a chave para a cura e a esperança de quem luta contra a progressão da doença [6].  

 Autora: Cassandra Trentin.

REFERÊNCIAS

[1] COSTA, R. G. A. Estudo Farmacológico do Bortezomibe no Tratamento de Leucemia Mieloide Aguda com Ação em Células-Tronco Leucêmicas. 2023. 93f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Farmácia, Salvador, 2023.

[2] FREITAS, F. A.; LEVY, D.; BYDLOWSKI, S. P. Leucemias: Um Breve Histórico. Arquivos da Academia Nacional de Medicina, v. 193, n. 2, p. 111-120, 2022.

[3] MORAIS, E. S; et al. Análise de indivíduos com leucemia: limitações do sistema de vigilância de câncer. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, ago.2017.

[4] LOPES, L. F.; CAMARGO, B. de; BIANCHI, A. Os efeitos tardios do tratamento do câncer infantil. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 46, n. 3, p. 277-284, 2000.

[5] G1. Leucemia: como é o câncer que Susana Vieira está enfrentando. G1, 27 nov. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/2018/11/27/leucemia-como-e-o-cancer-que-suzana-vieira-esta-enfrentando.ghtml. Acesso em: 8 jan. 2025.

[6] LOPES, C. S; NERI, R. A. F. Conscientização sobre a leucemia: um relato de experiência. Editora Científica Digital, v. 2, 2022.

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