O Evento Carrington de 1859: A Maior Tempestade Solar da História

O Evento Carrington de 1859: A Maior Tempestade Solar da História

 

    

   A superfície solar está em constante movimento! A cada 11 anos, a atividade magnética do sol chega ao seu ápice, repetindo esse ciclo constantemente. Em 1859, no final de um desses ciclos, a atividade ficou conhecida como Evento Carrington, a maior tempestade solar já registrada, que revelou o imenso poder destrutivo do Sol. Observado pelo astrônomo britânico Richard Carrington, a primeira pessoa a observar o céu durante uma explosão solar, o evento teve início no dia 1 de setembro e se estendeu até meados do dia 5 de setembro. Foi nesse período que Carrington observou e documentou o aumento no número de manchas solares, em seguida detectou um clarão excepcionalmente brilhante em uma região dessas manchas (uma flare solar), indicando uma grande liberação de energia magnética. Aproximadamente 52 horas depois, uma ejeção de massa coronal (denominada CME, ou Coronal Mass Ejection), composta por partículas carregadas e ionizantes, atingiu a Terra, gerando uma tempestade geomagnética de proporções sem precedentes.

   Os efeitos na Terra foram notáveis. As auroras boreais e austrais (boreais: hemisfério norte; austrais: hemisfério sul), normalmente visíveis apenas em regiões polares, apareceram em locais inesperados, como no Caribe e no sul da Europa. Relatos da época mencionam que o céu estava tão iluminado que era possível ler jornais à noite; além disso, funcionários de uma mineradora nos Estados Unidos levantaram-se para trabalhar durante a madrugada, pois pensaram que a grande luz no céu era o dia amanhecendo. Essa tempestade também impactou a tecnologia – lembrando que, na época, ainda não eram utilizados rádios, muito menos celulares e a energia elétrica ainda estava em desenvolvimento. Dessa forma, os sistemas de telégrafo eram a comunicação mais avançada disponível e foram gravemente afetados. Correntes elétricas induzidas pelas flutuações geomagnéticas sobrecarregaram as linhas, provocando choques nos operadores, incêndios em equipamentos e, curiosamente, permitindo que algumas máquinas funcionassem mesmo sem estarem conectadas às baterias.

   O Evento Carrington exemplifica como a energia acumulada no Sol pode ser transferida para a Terra. O fenômeno ocorre porque a reconexão magnética, processo no qual as linhas de campo magnético solar convergem, rompem-se e reorganizam-se rapidamente, liberando energia na forma de flares solares. Essa energia impulsiona a ejeção de bilhões de toneladas de plasma, partículas extremamente carregadas e aceleradas a velocidades impressionantes (cerca de 2.500 km/s), atingindo a Terra em apenas algumas horas, muito mais rápido que o tempo médio de 3 a 4 dias para eventos semelhantes.

   Se um evento dessa magnitude ocorresse hoje, os impactos seriam devastadores, pois nossa sociedade, altamente dependente de tecnologia, veria todas as comunicações sofrerem com apagões em larga escala causados por falhas em transformadores, interrupções em satélites e sistemas de GPS, além de riscos para astronautas e passageiros de voos em altitudes elevadas, que estariam expostos a níveis perigosos de radiação, e sem comunicação com suas companhias aéreas.

   Agências como a NASA (National Aeronautics and Space Administration) e a ESA (European Space Agency) monitoram continuamente a atividade solar, utilizando satélitpoies e observatórios como o SOHO (Solar and Heliospheric Observatory) para prever tempestades solares e emitir alertas. Essas medidas permitem a adoção de estratégias preventivas, como o desligamento de redes elétricas vulneráveis e ajustes na operação de satélites, minimizando os danos. Assim, o Evento Carrington não apenas nos lembra da força do Sol, mas também da necessidade de estarmos preparados para fenômenos extremos que podem transformar nosso cotidiano. Com o atual aumento da atividade solar, a vigilância constante do clima espacial é mais importante do que nunca, garantindo que possamos mitigar os impactos de futuras tempestades solares.

Autor: João Davi do Amaral.

Referências:

[1] SACANI, S. Estudo mostra que o evento de Carrington foi maior do que se pensava. Disponível em: https://spacetoday.com.br/estudo-mostra-que-o-evento-de-carrington-foi-maior-do-que-se-pensava/

[2] SACANI, S. Sol Emite Uma Flare X8.7 A Maior do Ciclo Atual E A Maior Desde 2017. Disponível em: https://spacetoday.com.br/sol-emite-uma-flare-x8-7-a-maior-do-ciclo-atual-e-a-maior-desde-2017/ 

[3] SANTARINE, Gerson Antonio; DOMINGOS, Roberto Naves. Tempestades Geomagneticas e o Evento Carrington. Holos Environment, v. 14, n. 1, p. 103-113, 2014. Disponível em: 8080-46491-1-PB.pdf.

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