Romulo Argentière (1916-1995)
Rômulo Argentière nasceu em 23 de dezembro de 1916, em Amparo-SP, em uma família franco-sefardistas. Argentière iniciou seus estudos primários na região, ansiava por algo maior no futuro, o que acabou conseguindo. No ano de 1932, após o término de seus estudos primários e secundários, conseguiu uma bolsa para a École de Physique et Chimie, em Paris, dirigida por Madame Curie, de quem foi aluno posteriormente. Após a formação em 1938, tornou-se membro da Societé de Chimie Physique, onde depois de alguns anos voltou a Paris para pós-graduação na École Nationale Supérieure Mines, onde se formou em 1948. Chegou ao Brasil com diplomas Físico Nuclear e Engenheiro de Minas, possuindo um conhecimento extraordinário sobre pesquisa nuclear, além de manter amizades com notáveis cientistas e estrangeiros, com quem mantinha constante contato, como Werner von Braun – cientista alemão pioneiro em pesquisas com foguetes, que esteve à frente do programa espacial americano. Ainda muito jovem, Argentière trocou correspondência com Einstein, entre outros importantes cientistas da Academia Soviética de Ciências, motivo pelo qual sabia oito idiomas diferentes[2,3]. Como engenheiro de minas e especialista em radioatividade natural, tornou-se um dos pioneiros na prospecção de minerais radioativos em território nacional e foi consultor do Exército Brasileiro para questões que envolviam a manipulação de minérios radioativos durante a Era Vargas. Nessa ocasião, foi enviado ao Nordeste pelo governo para acompanhar especialistas norte-americanos em busca de minérios para a indústria bélica daquele país. Esse conhecimento causou-lhe problemas com as autoridades da época. De acordo com suas próprias palavras “Fui levado a interrogatório pelas Forças Armadas, mas me safei com a lógica”[2,3,4]. Em 1943, escreveu um artigo jornalístico que antevia o uso da energia nuclear como elemento de destruição. Chegou até a explicar os princípios de uma possível bomba atômica que, naquela época, era um segredo de Estado rigorosamente guardado pelos países aliados (a destruição de Hiroshima só ocorreria dois anos mais tarde). Em 1950, redigiu o anteprojeto que criaria, seis anos depois, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)[4]. Mesmo com tanto conhecimento e experiência em diversas áreas, Rômulo Argentière só conseguiu o devido reconhecimento por meio das diversas obras de divulgação científica – 30 livros escritos e 3 milhões de exemplares vendidos. Ele sonhava com viagens espaciais numa época em que eram consideradas uma loucura. Previu as explosões atômicas e de satélites artificiais, pesquisou a utilização de energias alternativas quando isso não passava de uma utopia. Por esses feitos, associados a uma didática notável, seus livros se tornaram conhecidos na época, por exemplo a obra Viagem à Lua, de 1947, considerada pelo próprio autor como um dos primeiros livros sobre astronáutica publicados na América Latina. Essa publicação apresenta descrições detalhadas de projetos de foguetes e sistemas propulsores, derivadas de informações obtidas através da literatura científica ou via comunicações pessoais com cientistas russos, alemães e estadunidenses. Tais escritos possibilitaram a uma geração de brasileiros, sonhar com viagens espaciais[1,2]. Dentre seus outros livros importantes, inclui-se: O Sol e a sua Família (1945); Estrelas e Universo (1945); História da Terra (1945); Os Grandes Cavaleiros Cósmicos (1945); Astronáutica (1957); Átomos e Estrelas (1957); A Atmosfera (1957); O Sol e os Planetas (1957); A Terra (1966), em seis volumes; Moderna Enciclopédia do Mundo Juvenil (1966), em seis volumes; Moderna Enciclopédia da Ciência (1970). Argentière perseguiu sempre o ideal de oferecer ao seu público obras de divulgação de uma ciência viva, pautadas pela inovação e notável rigor didático[4]. Uma das suas paixões era o Nordeste brasileiro, viveu até seus últimos dias em Carnaúba dos Dantas, interior do Rio Grande do Norte, com sérias dificuldades financeiras, contando apenas com uma pensão mensal de R$ 100,00 (em valores atuais). Faleceu em 17 de março de 1995, com a saúde já bastante debilitada em decorrência das sequelas de três acidentes automobilísticos e um derrame cerebral, Romulo Argentière morreu pobre, doente e praticamente esquecido no sertão nordestino[1,4] Autor: João Davi do Amaral Machado. Referências: [1] ARGENTIÈRE, R. A Astronáutica. Coleção Divulgação do Saber. Ed. Fulgor. São Paulo, 1961. [2] ARGENTIÈRE, R. Urânio e Tório no Brasil: Introdução à Física Nuclear. Manuais Técnicos LEP. Ed. LEP. São Paulo, 1953. [3] MAUSO, P. V. Por que Argentière foi tão importante para a ciência brasileira? Superinteressante [Revista online], 30 nov 2002. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/romulo-argentiere/. Acesso em: 30/06/2024. [4] SCHIVANI, M. T; ALVES; DE MENESES F. C.; DE ANDRADE, A. L. C. R. Um resgate da atuação de Rômulo Argentière na divulgação das ciências espaciais no Brasil. XII Encontro Latino-Americano de Iniciação Científica e VIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação, Universidade do Vale do Paraíba. UNIC, 2008. Disponível em: https://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2008/anais/arquivosEPG/EPG01350_01_O.pdf. Acesso em: 30/06/2024.