Mar Bioluminescente

Mar Bioluminescente

   Imagine a incrível experiência de estar em uma praia, cujo mar brilha no escuro. Surpreendentemente, esse efeito não é provocado pela luz da Lua, tão pouco pela luz do Sol ou de qualquer iluminação artificial [1]. Nenhum fator externo é responsável por isso, ao contrário, é um fenômeno natural subaquático, conhecido como bioluminescência.  O sufixo “bio” indica, que é provocado por seres vivos [2,3].

   De acordo com o Instituto da Universidade de São Paulo (IO-USP), organismos marinhos como águas-vivas, algas e alguns peixes, assim como organismos terrestres, como vaga-lumes e alguns fungos, podem ter a característica da bioluminescência. ou seja, esses organismos emitem luz própria como um sinal de defesa, para atrair presas ou para fins de atração sexual [1,3].

   Os vaga-lumes, por exemplo, utilizam a bioluminescência para acasalar, atraindo suas fêmeas por meio de “piscadas de luz”. Além disso, os machos utilizam sua habilidade luminosa para camuflar-se como fêmeas, enganando outras espécies de vaga-lumes machos para se alimentarem deles.  Tanto em vaga-lumes como em algumas espécies aquáticas, o fenômeno de bioluminescência ocorre por meio de reações químicas que geralmente envolvem dois produtos importantes: uma proteína denominada de luciferina e uma enzima chamada de luciferase, sendo necessário, a presença de oxigênio. Este processo resulta na emissão de fótons dos organismos, gerando luz visível [3].

   Diante disso, podemos aprofundar nossa análise com uma questão fascinante: por que a luz que percebemos assume coloração “verde-amarelada” ao observar vaga-lumes e uma tonalidade “azul-neon” ao contemplar alguns mares? A cor da luz emitida por organismos bioluminescentes, como vaga-lumes e algumas formas de vida marinha, é determinada pela combinação de vários fatores, como os compostos químicos envolvidos na bioluminescência, bem como esses compostos interagem com o ambiente [3].

   O brilho azul fluorescente causado por bilhões de algas unicelulares ou plânctons vegetais  (Noctiluca Scintillans), é resultado de um processo de oxidação. Isso ocorre quando a luciferina entra em contato com o oxigênio presente nesses organismos. Esse processo químico é semelhante ao que ocorre nos vaga-lumes, a diferença está na presença de proteínas bioluminescentes que interagem com os compostos químicos, resultando em emissões luminosas com comprimentos de onda distintos [1,3].

   Além disso, a cor da luz também pode ser influenciada pela dispersão da luz. A água do mar pode absorver e dispersar a luz de várias maneiras, o que, por sua vez, afeta a percepção da cor.

   De acordo com o especialista em bioluminescência Michael Latz, um cientista renomado do Scripps Institution of Oceanography, a união de vários organismos unicelulares num mesmo local causa uma mudança na coloração da água, tornando-a castanha-avermelhada, daí o nome “mar vermelho” [3]. Quando esses organismos se multiplicam em grande número, a água pode assumir uma coloração avermelhada ou castanha devido aos pigmentos que eles contêm, como a clorofila e a peridinina. Esses pigmentos podem absorver e refletir a luz de forma diferente, resultando em uma mudança na cor da água. O aumento significativo desse efeito apresenta uma explicação simples, que pode não ser um bom sinal [3].

   Em uma entrevista ao jornal australiano ABC, Gustaaf Hallegraeff, professor de botânica aquática na Universidade de Tasmânia, mencionou que os cientistas acreditam, o efeito azul fluorescente pode estar relacionado com as correntes oceânicas e o aquecimento do oceano [3].

   Embora os mares bioluminescentes parecem ser menos comuns em comparação aos vaga-lumes que vemos durante a noite, há inúmeros relatos de várias praias ao redor do mundo que apresentam o fenômeno bioluminescente.

   Assim sendo, é comum vermos esse fenômeno em praias como: Nova Zelândia (sudoeste do Oceano Pacífico); Lago de San Diego; ilhas Raa Atoll; Maldivas e Lago Gippsland, em Victoria, na Austrália. Eventos desse tipo também acontecem em território brasileiro. Pesquisas mostram o espetáculo causado por bactérias bioluminescentes nas águas costeiras de Imbé e Tramandaí, no Rio Grande do Sul (RS), na Ilha do Mel, no Paraná, e na Ilha do Cardoso, no extremo Sul do litoral paulista. [4].

Autora: Cassandra Trentin.

Referências:

[1] CORREIA, Flavia. Mar do RS é tomado por brilho intenso; entenda o fenômeno da bioluminescência. Olhar Digital, 03 nov. 2021. Disponível em: https://olhardigital.com.br/2021/10/29/ciencia-e-espaco/bioluminescencia-mar-rio-grande-do-sul/. Acesso em: 14 out. 2023.

[2] DANTAS, Thiago. A luz do vaga-lume. Mundo Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/curiosidades/a-luz-vagalume.htm#:~:text=Esse%20processo%20ocorre%20da%20seguinte,sua%20energia%2C%20emite%20a%20luz. Acesso em: 14 out. 2023.

[3] GRAÇA, Alfredo. Ondas bioluminescentes: o mistério do mar azul fluorescente. METEOREDtempo.com, 11 ago. 2023. Disponível em: https://www.tempo.com/noticias/ciencia/o-misterio-do-mar-azul-fluorescente.html. Acesso em: 14 out. 2023.

[4] BARBI, Silas. Onde Encontrar Bioluminescência no Brasil. Desviantes. 19 set. 2014. Disponível em: https://desviantes.com.br/blog/post/onde-encontrar-bioluminescencia-no-Brasil/. Acesso em: 14 out. 2023.

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