Pirâmide da aprendizagem: verdade ou mito?
Uma das teorias de aprendizagem mais difundidas no meio acadêmico é a da pirâmide da aprendizagem. Essa teoria é de autoria incerta, porém uma grande quantidade de fontes dizem que o autor desta foi William Glasser. William foi um pesquisador no campo da psicologia, que também atuou na educação. Sua ideia base foi que nenhum ser humano é inteiramente desmotivado, que há diferentes formas de se reter o aprendizado e que, de forma geral, os meios mais interativos ou ativos são os mais eficientes, enquanto que os meios mais passivos são os menos eficientes [1-3]. O que ele propôs, e posteriormente ficou bastante difundido, foi que existe uma “pirâmide” de métodos de aprendizagem e cada estágio da pirâmide corresponde a um método específico ao qual é atribuída uma porcentagem da retenção de informações. Em algumas fontes, é especificado ainda que essa porcentagem de retenção é com respeito ao conteúdo retido após 2 semanas. Entretanto, a própria origem dessa teoria é duvidosa e incerta e há uma vasta variedade de modelos que seguem a base da pirâmide de aprendizagem [1-3]. De uma forma geral, o que é mostrado na pirâmide é a seguinte relação entre método e porcentagem de retenção do conhecimento: Variações desse padrão incluem diferenças nas porcentagens apresentadas, geralmente em incrementos ou decréscimos de 5 ou 10%, e até mesmo nos próprios métodos, como 90% ensinando ou, em vez de debates e afins, colocar a prática com experimentos como um método que proporciona 70% de retenção das informações. Há também a inclusão de novos métodos relacionados a uma nova porcentagem, como o de lectures, termo do inglês que remete a aulas expositivas como seminários, em que há um papel passivo do aluno, e a porcentagem atribuída é de 5%. Porém, isso é contraditório com a própria teoria, pois em uma aula expositiva podem ser apresentadas animações, demonstrados experimentos, tudo em forma de exposição “tradicional”, o que tecnicamente agregaria um maior valor de retenção do conhecimento [1-3]. Para resumir a história, não há um consenso geral de quais são as porcentagens de fato relacionadas a quais métodos. Inclusive, alguns estudos de revisão apontam que o trabalho realizado por William Glasser não incluiu a atribuição de porcentagens específicas, e sim uma ordenação dos métodos que possuem maior eficiência. Todos esses problemas de inconsistências surgem justamente devido às origens desconhecidas da teoria, isto é, os fundamentos originais propostos por William ou, de acordo com algumas fontes, por Edgar Dale, que é dito ter cunhado o termo “cone de experiências” em vez de pirâmide de aprendizagem e foi o autor da teoria ou pelo menos corroborou para a criação da mesma significativamente. Há algumas informações também de que a autoria pode ser de um instituto de Psicologia Educacional da época do surgimento dela, no século XIX [1-3]. Apesar de todas as inconsistências e contradições dos modelos atuais, alguns elementos do modelo geral “pirâmide de aprendizagem” são reconhecidos como verdadeiros como um consenso no campo científico da educação, neurociência e psicologia. O que há de acordo com o conhecido é que o cérebro humano retém mais informações quando o mesmo associa diversas outras informações em conjunto, isto é, ler sobre algo e posteriormente ver a demonstração de um experimento que mostra o conhecimento na prática certamente é mais eficiente na retenção do conteúdo do que uma simples leitura [1-3]. Para concluir, pode-se dizer certamente que um método de ensino variado, com diferentes práticas e incentivos de atividades que colocam um papel dinâmico para o estudante, aumenta a eficiência da aula no processo de ensino-aprendizagem. Porém, “teorias” (seria melhor caracterizada como uma hipótese) mais específicas que atribuem porcentagens a cada método não possuem embasamento científico, porque além da falta de informações sobre a ideia original, não há uma coletânea de evidências experimentais que mostre notavelmente esses valores. Uma lição que podemos tirar dessa breve discussão é que não se pode considerar verdadeiro algo simplesmente por ser bastante difundido, mesmo aqueles conhecimentos que são difundidos no meio acadêmico, onde supostamente as informações são bem verificadas e as teorias bem testadas. Os mitos da ciência existem, e precisam ser expostos para que uma ciência de maior veracidade possa prevalecer [1-3]. Autor: Bruno Henrique Lisenko Ribeiro. Referências [1] DESCONHECIDO. Pirâmide de aprendizagem: William Glasser estava certo?. Ludos pro. Disponível em: <https://www.ludospro.com.br/blog/piramide-de-aprendizagem>. [2] DESCONHECIDO. Pirâmide da aprendizagem: conceito e questionamentos. Younder. Disponível em: <https://younder.com.br/blog/piramide-da-aprendizagem/>. [3] LETRUD, K; HERNES, S.. Excavating the origin of the learning pyramid myths. Cogent Education, 2018. Disponível em: <https://doi.org/10.1080/2331186X.2018.1518638>.