Racismo: não dá mais para ficar de braços cruzados!

Racismo: não dá mais para ficar de braços cruzados!


   Por muito tempo tivemos, após a abolição da escravatura em 1888, principalmente ao longo do século XX, um mito de que existia democracia racial no Brasil.  Essa ideia, de que diferentes raças e etnias viviam em paz e possuíam direitos iguais no Brasil, foi difundida com uma obra do sociólogo Gilberto Freyre. Não entrarei em detalhes sobre essa obra, mas o próprio sinal que desmistificou essa teoria de democracia racial foi a própria Constituição de 1988, que caracteriza o racismo como crime, isto é, confirmou a existência do racismo e a realidade desigual entre pessoas brancas e negras [1-3]. Mas o que é racismo? “O racismo é toda distinção, exclusão ou restrição baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica” [2].

   Você talvez pudesse pensar, então, que essa lei seria suficiente para resolver o problema, mas infelizmente não. Apesar da crença que o racismo pertence a “apenas” os grupos de “preconceito” e “discriminação”, ele é algo maior que isso. Essa questão nem sempre envolve uma abordagem consciente e coletiva que favoreça os brancos sobre os negros e indígenas (ou seja, nem sempre fazem de propósito). Quando nos referimos a cor da pele não estamos falando apenas de um traço da aparência, isso porque comumente associam um negro apenas a qualidades físicas (como a dança, os esportes e trabalho pesado, por exemplo) e não intelectuais [1].

   Essa problemática não se encontra presente apenas nessas associações comentadas anteriormente, mas em fatos que presenciamos diariamente (e muitos fingem não ver). Fatos como: 3 a cada 4 brasileiros que estão entre os 10% mais pobres do país são negros e apenas 29,9% dos cargos de gerência no Brasil são ocupados por negros, segundo o IBGE de 2018 [4,5]. Ou ainda, segundo o Atlas da Violência, em 2020, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 75 são negras [6]. Segundo o Infopen (Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias), em 2017, também, dois terços de toda a população carcerária do país é negra [7]. Importante acrescentar que 56,10% da população brasileira se declaram negras (segundo o censo do IBGE em 2019) e poderia comentar outras diversas estatísticas semelhantes às anteriores [8]. E por quê? O que isso significa? Significa que vivemos sim em uma sociedade racista e precisamos combater esse preconceito cada vez mais [1].

   É preciso o início de uma desconstrução, prestando, por exemplo, atenção nas atitudes e pensamentos. Isto é, você costuma segurar a bolsa forte quando vê algum negro perto de você? Ou fecha o vidro do seu carro quando um negro se aproxima? As pessoas brancas precisam refletir, identificar e reconhecer seus privilégios, afinal, essa cor da pele nunca dificultou seu acesso a estabelecimentos e universidades, nunca foi um problema para você conquistar uma vaga de emprego ou ter sido motivo de piada, por exemplo. Além disso, é necessário parar de reproduzir comentários como “amanhã é dia de branco” e “a coisa tá preta”, além de rir e/ou compartilhar piadas racistas [1-3].

   Por mais que não tenha sido definido claramente ao longo dos exemplos apresentados anteriormente, existem alguns tipos de racismo, sendo eles o “individualista”, o “institucional” e o “estrutural”, mas que não explicarei em detalhes o que cada um significa para não me alongar tanto neste texto. No entanto, antes de chegar ao fim, gostaria de comentar sobre ações antirracistas e pessoas negras que contribuíram ativamente nessa luta contra o racismo.[2].

   Se você pensa que este tipo de movimento que combate o racismo é recente, você está enganado. O movimento negro, por exemplo, surgiu no período da escravidão e ainda busca, acima de tudo, políticas públicas para que a população negra tenha equidade em todos os sentidos [2].

   As manifestações após as mortes em maio de 2020 de João Pedro [9], no Rio de Janeiro, e George Floyd [10], nos EUA, foram decorrentes de uma revolta mundial, gerando protestos em diversos países contra o racismo. Esses episódios trouxeram à tona pautas importantes contra o racismo que já vem sendo levantadas há muito tempo. Além de mostrar, por meio do movimento “Black Lives Matter” (que em português significa “vidas negras importam”), que é possível unir pessoas de diferentes classes e etnias na luta contra o racismo e na defesa da democracia [1,3].

   Se você não apoia o racismo, seja um aliado na luta antirracista. Use sua voz, participe de ações, de manifestações. Não precisa ser negro para ser contra o racismo e lutar para combatê-lo. Se você ocupa uma posição de neutralidade quando presencia um ato racista, você está do lado do opressor.

   E se você se interessou por este texto e gostaria de entender melhor a respeito do assunto, dê uma pesquisada também, leia sobre pessoas, como Nelson Mandela, Malcom X e Rosa Parks, por exemplo, que foram grandes ativistas na luta contra o racismo. Além  disso, veja também sobre cientistas, como, por exemplo, Percy Lavon Julian, Juliano Moreira e Dorothy Vaughan, que apesar de terem sofrido racismo (o que gerou grandes obstáculos em suas vidas), contribuíram fortemente para a ciência.

Autor: Matheus Vieira Camargo Ramos.

Referências

[1] – ECOA, Bárbara Forte de. O que é racismo estrutural? Ainda hoje existe? Somos todos racistas? Disponível em: < https://www.uol.com.br/ecoa/listas/o-que-e-racismo-estrutural.htm> Acesso em 05 de julho.

[2] – CHAGAS, Inara. Racismo: como essa prática é estruturada no Brasil. Disponível em: < https://www.politize.com.br/racismo-como-e-estruturado/> Acesso em 01 de julho de 2021.

[3] – Autor desconhecido. Entenda o que é racismo e saiba como combatê-lo. Disponível em: < https://salonline.com.br/racismo-o-que-e-como-combater/> Acesso em 01 de julho de 2021.

[4] – MADEIRO, Carlos. Negros são 75% entre os mais pobres; brancos, 70% entre os mais ricos. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/11/13/percentual-de-negros-entre-10-mais-pobre-e-triplo-do-que-entre-mais-ricos.htm> Acesso em 05 de julho de 2021.

[5] – ARAÚJO, Ana Lídia; LISBOA, Ana Paula; DE SOUZA, Talita. Líderes negros são menos de 30% nas empresas brasileiras,diz pesquisa. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/trabalho-e-formacao/2020/11/4892021-lideres-negros-sao-menos-de-30–nas-empresas-brasileirasdiz-pesquisa.html> Acesso em 05 de julho de 2021.

[6] – CUNHA, Marcella. Atlas da Violência: 75% das pessoas assassinadas no Brasil são negras. Disponível em: < https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2020/08/31/atlas-da-violencia-75-das-pessoas-assassinadas-no-brasil-sao-negras> Acesso em 02 de julho de 2021.

[7] – DALAPOLA, Kaique. Negros representam dois terços da população carcerária brasileira. Disponível em: <https://noticias.r7.com/brasil/negros-representam-dois-tercos-da-populacao-carceraria-brasileira-08122017> Acesso em 02 de julho de 2021.

[8] – AFONSO, Nathália. Dia da Consciência Negra: números expõem desigualdade racial no Brasil. Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2019/11/20/consciencia-negra-numeros-brasil/> Acesso em: 07 de julho de 2021.

[9] – G1. O que se sabe sobre a morte a tiros de João Pedro no Salgueiro, RJ. Disponível em: <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/05/20/o-que-se-sabe-sobre-a-morte-a-tiros-de-joao-pedro-no-salgueiro-rj.ghtml> Acesso em 07 de julho de 2021.

[10] – G1. Caso George Floyd: morte de homem negro filmado com policial branco com joelhos em seu pescoço causa indignação nos EUA. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/05/27/caso-george-floyd-morte-de-homem-negro-filmado-com-policial-branco-com-joelhos-em-seu-pescoco-causa-indignacao-nos-eua.ghtml> Acesso em 07 de julho de 2021.

[11] – RAMOS, Matheus Vieira Camargo. Percy Lavon Julian (1899-1975). Disponível em: <https://www3.unicentro.br/petfisica/2021/05/07/percy-lavon-julian-1899-1975/> Acesso em 05 de julho de 2021.

[12] – RAMOS, Matheus Vieira Camargo. Juliano Moreira: Psiquiatra Brasileiro (1873 – 1933). Disponível em: <https://www3.unicentro.br/petfisica/2020/10/02/juliano-moreira-1873-1933/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=juliano-moreira-1873-1933> Acesso em 05 de julho de 2021.

[13] – PRZYGOCKI, Matheus Henry. Dorothy Vaughan (1910-2008). Disponível em: <https://www3.unicentro.br/petfisica/2017/03/30/dorothy-vaughan-1910-2008/> Acesso em 05 de julho de 2021.

Fonte da imagem: https://nossacausa.com/somos-todos-racistas/.

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