A Origem da Páscoa e Seu Simbolismo

A Origem da Páscoa e Seu Simbolismo

 

   Ah, a Páscoa! Um dos feriados que mais aguardava na infância, marcado pela empolgação de acordar e encontrar a cesta cheia de doces. Cada detalhe tornava esse momento inesquecível: as histórias, a comemoração em família e, claro, as músicas infantis que até hoje ressoam na memória. Minha mãe, por exemplo, costumava cantar a seguinte canção:

“Coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim? Um ovo, dois ovos, três ovos assim.

Coelhinho da Páscoa, que cor ele tem?

Azul, amarelo, vermelho também […] [1]”.

   Esses versos simples e alegres aqueciam meu coração e reforçavam a magia da data. Havia também a empolgação de preparar e decorar a cesta para o coelho depositar os ovos, além da divertida — e muitas vezes frustrante — tentativa de fingir estar dormindo só para pegá-lo no flagra.

   Dentre esses rituais, é fácil esquecermos o verdadeiro significado da Páscoa, que vai muito além dos coelhos e ovos de chocolate. A raiz dessa celebração, de acordo com Pedreira (2021), remonta a Eostre — deusa da mitologia nórdica, associada à fertilidade, ao amor e ao renascimento. Seu simbolismo está relacionado com lebres e ovos coloridos, que permanecem até hoje nas celebrações pascais. Os povos nórdicos homenageavam Eostre sob a ‘luz crescente’ da primavera, após o primeiro nascer do Sol, quando as flores desabrochavam e a natureza se tornava mais vibrante — a época do ano que, segundo as crenças, trazia felicidade e bênçãos à Terra [2].

   A chegada da primavera também estava ligada à renovação do plantio e dos estoques de alimentos e bebidas. Até a primeira colheita, as celebrações à deusa deveriam ser comedidas para garantir que os suprimentos não se esgotassem. De maneira análoga, no cristianismo, essa mesma preocupação foi reinterpretada na Quaresma, um período de abstinências e jejuns, tanto alimentares quanto sexuais [2].

   Para os cristãos, a Páscoa celebra a ressurreição de Jesus Cristo, que aconteceu três dias após sua crucificação. Segundo os Evangelhos do Novo Testamento, Jesus é o filho de Deus, nasceu da Virgem Maria, pregou paz e amor ao próximo, realizou milagres e conquistou muitos seguidores. A Semana Santa começa no Domingo de Ramos, quando Jesus chega em Jerusalém e é recebido com ramos de palmeira pelos judeus, que o reconhecem como o líder enviado por Deus para restaurar Israel. Na Quinta-feira Santa, durante a Última Ceia, Jesus compartilha o pão e o vinho com seus 12 apóstolos, instituindo a Eucaristia, e revela que será traído por um deles — Judas Iscariotes. Preso e acusado de blasfêmia pelos líderes religiosos judeus, Jesus é entregue ao governador romano Pôncio Pilatos, no qual ordena sua crucificação. Cristo morreu na Sexta-feira Santa, mas ressuscitou no Domingo de Páscoa, renovando a promessa de vida eterna para a humanidade. Atualmente, a ressurreição, e consequentemente a páscoa, é celebrada no primeiro domingo após a lua cheia, entre 22 de março e 25 de abril [3].

   A celebração mais antiga que antecede a Páscoa cristã é o Pessach —  Páscoa judaica, mencionada pela primeira vez no livro do Êxodo, na lei de Moisés. Segundo a escritura sagrada, Moisés foi um homem de grande fé, enviado por Deus para confrontar o faraó do Egito, Ramsés, e libertar o povo hebreu de uma escravidão que durou 430 anos [3]. Após nove pragas, sem que o faraó cedesse, Deus ordenou a décima, a morte dos primogênitos — filho mais velho de um casal. Para que os hebreus fossem poupados, deveriam sacrificar um cordeiro macho de um ano, sem defeitos, assá-lo e consumi-lo com pães ázimos e ervas amargas. O sangue do animal deveria ser passado nas portas para que o anjo da morte poupasse as casas dos hebreus, daí o nome Pessach, que significa “passagem” ou “poupar”. Dessa forma, ele atingiria apenas os egípcios. Com a morte de seu primogênito, o faraó finalmente permitiu a libertação do povo de Deus. Assim, o Pessach também celebra a liberdade e o êxodo dos hebreus rumo à Terra Prometida, Canaã, por volta de 1500 a.C [3, 4].

   Foram, em suma, essas influências culturais e religiosas que moldaram ao longo dos séculos a Páscoa, dando origem à celebração que conhecemos hoje. Mas como os coelhos e ovos se tornaram símbolos tão marcantes dessa festividade? O coelho, ligado à deusa Eostre, simboliza a renovação da vida, enquanto os ovos, que inicialmente eram reais, passaram a ser decorados na Europa no século XVIII, até serem substituídos pelo chocolate, popularizando ao redor do mundo, o hábito de presentear no Domingo de Páscoa amigos e familiares. Porém, é triste perceber que essa essência encantadora da Páscoa está se perdendo com o tempo. A crença infantil no “coelhinho de olhos vermelhos e pelos branquinhos” vai dando lugar a uma visão cada vez mais pragmática, onde a fantasia está sendo substituída pela realidade [2, 4].

Autora: Cassandra Trentin.

REFERÊNCIAS:

[1] TOYS, R. Coelhinho da Páscoa Que Trazes Pra Mim. [Vídeo]. YouTube, 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=awB3PxbMRRc\>. Acesso em: 24 fev. 2025.

[2] PEDREIRA, J. S. História da Páscoa: da Deusa Eostre ao Ovo de Chocolate. 1ª. ed. São Paulo: ECO Editorial, 2021.

[3] ARAUJO, G. L. Páscoa ou Páscoas Judaicas?. Revista de Cultura Teológica, São Paulo, n.89, p. 78-97, jan./jun. 2017.

[4] WOLFFENBÜTTEL, V. R.;  WOLFFENBÜTTEL. C, R. O Ritual da Páscoa na Colônia de São Pedro – Torres (RS). 1ª. ed. Itapiranga: Schreiben, 2024.

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