A “força” g e seus efeitos no corpo humano

A “força” g e seus efeitos no corpo humano

  

   A expressão “força g” é comumente mal compreendida pelas pessoas, sendo usada de forma equivocada. O termo correto é aceleração da gravidade (g), que se refere à taxa de aceleração que a gravidade terrestre exerce sobre um objeto ou indivíduo. Na superfície da Terra, essa aceleração é de aproximadamente 1g, cerca de 9,81 m/s². Ou seja, todos os corpos na superfície da Terra estão sujeitos a essa aceleração gravitacional. É essa aceleração que nos mantém ancorados ao solo e define a maneira como percebemos o peso dos objetos ao nosso redor [1].

   Em nosso dia a dia, sentimos a aceleração g constantemente, especialmente durante deslocamentos, sempre que há mudanças de direção ou velocidade. Quando um veículo acelera ou freia, por exemplo, experimentamos a aceleração g de maneira longitudinal, isto é, ao longo do eixo de movimento. Já quando o movimento envolve mudanças de direção, como em uma curva fechada, sentimos a aceleração g de maneira lateral, o que pode nos empurrar para os lados do assento. Quanto mais brusca for a alteração de velocidade ou direção, maior será a aceleração g que sentimos em nossos corpos, aumentando a sensação de pressão e compressão em diversas partes do corpo [2].

   Entretanto, quando saímos das condições comuns do cotidiano e entramos em ambientes de alta performance, como em aeronaves militares ou carros de corrida, os efeitos da aceleração g tornam-se ainda mais proeminentes e perigosos. Pilotos de aeronaves militares, como caças, passam por treinamentos rigorosos para suportar manobras que podem gerar até 9g de aceleração. Para se ter uma ideia, um piloto com 70 kg sentiria seu corpo com um peso aparente de 630 kg; ou seja, todas as partes do seu corpo, incluindo seus órgãos, músculos e ossos, estariam submetidas a uma compressão nove vezes maior do que o habitual. Esse tipo de estresse não é apenas desconfortável, mas pode ser extremamente perigoso se o piloto não estiver preparado para lidar com essas condições extremas [1,3].

   De maneira semelhante, pilotos de Fórmula 1 podem experimentar até 6g durante uma corrida, especialmente em curvas muito fechadas ou durante frenagens abruptas. Sob essas condições, a cabeça de um piloto pode parecer pesar mais de 30 kg, colocando enorme tensão sobre seu pescoço e ombros. O esforço necessário para manter o controle do veículo e a consciência plena sob tais dificuldades é imenso, exigindo não apenas força física, mas também resistência mental [3, 4].

   Nessas situações extremas, a alta aceleração g causa uma redistribuição perigosa do sangue no corpo, forçando-o a se acumular na parte inferior do corpo e reduzindo o fluxo sanguíneo para o cérebro. Esse fenômeno pode resultar em uma perda temporária de consciência, conhecida como g-LOC (Loss of Consciousness), o que representa um risco significativo, especialmente durante manobras críticas de voo ou em alta velocidade. Para evitar esse risco, pilotos de aeronaves militares utilizam roupas especiais chamadas trajes anti-g, que comprimem a parte inferior do corpo, ajudando a manter o fluxo sanguíneo equilibrado e a garantir a irrigação cerebral adequada, mesmo sob essas condições extremas [5, 6].

   Além dos trajes, os pilotos recebem treinamento específico para aprender a técnica de “manobra de anti-g”, conhecida como AGSM (Anti-G Straining Maneuver), que envolve contrações musculares específicas e técnicas de respiração que ajudam a manter o sangue fluindo para o cérebro durante manobras de alta aceleração g. Isso demonstra a complexidade de se operar sob condições onde a aceleração g ultrapassa os limites do que seria considerado seguro ou confortável em situações normais [7].

   Portanto, a “força” g, embora seja comum em nosso cotidiano, se transforma em um desafio significativo em contextos de alta aceleração, exigindo adaptações físicas, tecnológicas e psicológicas para garantir a segurança e a eficácia daqueles que operam sob suas influências extremas.

Autor: Vinicius Przygocki.

Referências

[1] What is g force?, Grupo One Air, disponível em: <https://www.grupooneair.com/what-is-g-force/>. acesso em: 4 set. 2024.

[2] MATSUBARA, Vitor, Força g nos carros da F1 chega a 6,5. Como isso afeta os pilotos?, Quatro Rodas, disponível em: <https://quatrorodas.abril.com.br/noticias/o-aumento-na-forca-g-nos-carros-de-f-1-pode-afetar-a-saude-dos-pilotos>. acesso em: 6 set. 2024.

[3] What are g-forces and are they caused by gravity?, NPLWebsite, disponível em: <https://www.npl.co.uk/resources/q-a/are-g-forces-caused-by-gravity>. acesso em: 4 set. 2024.

[4] Como é o treinamento físico de um piloto de Fórmula 1, Porto Seguro Blog, disponível em: <https://blog.portoseguro.com.br/como-e-o-treinamento-fisico-de-um-piloto-de-formula-1>. acesso em: 4 set. 2024.

[5] OLIVEIRA, Gabriella, Força g: o que é e quais os efeitos no corpo humano?, Segredos do Mundo, disponível em: <https://segredosdomundo.r7.com/forca-g/>. acesso em: 5 set. 2024.

[6] CAETANO, Paulo, G-Force e seus Efeitos nos Aviadores, Linkedin.com, disponível em: <https://pt.linkedin.com/pulse/g-force-e-seus-efeitos-nos-aviadores-caetano-fernandes-#:~:text=Os%20pilotos%20de%20ca%C3%A7a%20s%C3%A3o>. acesso em: 6 set. 2024.

[7] Be a Better G-Monster: The Anti-G Straining Maneuver (AGSM) – Go Flight Medicine, Goflightmedicine.com, disponível em: <https://www.goflightmedicine.com/post/%20be-a-better-g-monster-the-anti-g-straining-maneuver-agsm>. acesso em: 6 set. 2024.

 

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