O que são as Flares Solares?
A superfície solar está em constante movimento, e essa atividade pode ser observada nas imagens capturadas pelas diversas agências espaciais. Nessas imagens, manchas escuras e filamentos luminosos indicam regiões de intensa atividade magnética na superfície solar. Esses filamentos luminosos representam as linhas dos campos magnéticos formados no Sol, que, por não possuir pólos definidos, apresenta um complexo campo magnético.
Em algumas regiões, os campos magnéticos podem se concentrar, resultando em explosões conhecidas como “flares solares”. Essas explosões ocorrem na cromosfera e coroa solar, sendo um dos fenômenos mais energéticos e violentos, devido a queda de temperatura causada pelo grande acúmulo de energia magnética. Esse fenômeno é cíclico, apresentando variações e picos de atividade nas linhas de campo magnético a cada 11 anos [1].
O mecanismo por trás das flares solares envolve a reconexão magnética, um fenômeno em que linhas de campo magnético convergem, se rompem e se reúnem de maneira diferente, liberando uma enorme quantidade de energia. Essa energia acumulada na superfície solar é liberada rapidamente durante uma flare. Em muitos casos, as flares solares estão associadas a ejeções de massa coronal (CME), onde linhas de campo magnético são ejetadas junto com plasma solar, composto principalmente por prótons e elétrons, que podem alcançar velocidades de até 3000 km/s[3].
As flares solares podem liberar energia equivalente a milhões de bombas atômicas explodindo simultaneamente. Essa energia é emitida em uma ampla gama de comprimentos de onda, incluindo radiação ultravioleta, raios X e radiação visível. As flares são categorizadas de acordo com a intensidade dessa radiação, medida por satélites como o GOES (Geostationary Operational Environmental Satellite). As classes principais são A, B, C, M e X, sendo a classe A a mais fraca e a classe X a mais intensa. Cada classe é dez vezes mais potente que a anterior, e dentro de cada classe, há uma escala numérica de 1 a 9 que fornece uma leitura mais precisa da intensidade. Por exemplo, uma erupção classe C1 é significativamente menos intensa que uma C9 [2].
Essa emissão de radiação e massa coronal são responsáveis por tempestades geomagnéticas na Terra. Uma tempestade geomagnética é uma perturbação significativa na magnetosfera da Terra, causada pela interação do vento solar com o campo magnético terrestre. Essas tempestades ocorrem quando há um aumento repentino na quantidade de partículas carregadas, como os prótons e elétrons, provenientes do Sol [1].
As partículas solares, ao interagirem com a magnetosfera, podem induzir correntes elétricas na atmosfera e no solo, resultando em uma série de efeitos. Entre os impactos mais visíveis estão as auroras boreais e austrais, espetáculos luminosos que ocorrem nas regiões polares, as austrais apenas no continente antártico, já as auroras boreais podem ser vistas no Alasca (Estados Unidos), Canadá, Groenlândia (Dinamarca), Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia. As auroras são fenômenos naturais impressionantes que ocorrem quando partículas carregadas ejetadas do Sol colidem com a magnetosfera da Terra, excitando átomos e moléculas de oxigênio e nitrogênio na atmosfera, causando a emissão de luz. No entanto, as tempestades geomagnéticas também podem causar interrupções nas comunicações de rádio, falhas em satélites, degradação dos sinais de GPS e danos a redes elétricas, levando a apagões em larga escala, afetando a navegação aérea e marítima, bem como as comunicações de emergência [2].
Monitorar e prever as flares e consequentemente as tempestades geomagnéticas é crucial para mitigar seus efeitos adversos. Agências espaciais e meteorológicas utilizam satélites e observatórios solares para rastrear a atividade solar e emitir alertas, permitindo que operadores de redes elétricas e sistemas de comunicação tomem medidas preventivas para proteger suas infraestruturas. Essas tempestades destacam a interconexão entre a atividade solar e a tecnologia terrestre, sublinhando a importância da vigilância contínua do clima espacial [2].
Estamos atualmente no pico do ciclo solar, o que significa que as flares solares e CME, estão em um nível elevado em sua atividade, destacando a importância do monitoramento constante do Sol. Dessa forma, a compreensão dessas classes de flares ajudam na preparação para possíveis impactos tecnológicos vinculados a comunicação, bem como para mitigar outros efeitos adversos que podem afetar nosso Planeta [3].
Autor: João Davi do Amaral Machado.
Referências
[1] SACANI, S. Sol Emite Uma Flare X8.7 A Maior do Ciclo Atual E A Maior Desde 2017. Disponível em: https://spacetoday.com.br/sol-emite-uma-flare-x8-7-a-maior-do-ciclo-atual-e-a-maior-desde-2017/
[2] FRANÇA, N. S. Onto Solar Flare: uma ontologia de domínio/aplicação sobre explosões solares sob escopo do método ECID. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/16233/ONTO%20SOLAR%20FLARE.pdf?sequence=1&isAllowed=y
[3] MORENO, J. L. M. Explosões solares decimétricas tipo III associadas com a fase impulsiva do “flare” solar. Disponível em: https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/INPE_2b94754aad5fa43ca876770bf7421292