Paradoxo do Mentiroso

Paradoxo do Mentiroso

   Você já deve ter ouvido o seguinte paradoxo: “O que acontece se o Pinóquio falar que o seu nariz vai crescer?”. Isso é uma adaptação de outro paradoxo mais antigo que vem do latim “Ego dico falsum”, que traduzido fica algo como “Eu estou mentindo”.  

   Caso a afirmação “estou mentindo” seja verdadeira, ele não está mentindo; se ele não está mentindo , a afirmação é falsa. Dessa forma, uma mentira faz a afirmação ser verdadeira, podendo repetir esse ciclo infinitas vezes.

   Esse paradoxo nos faz questionar os conceitos mais fundamentais da lógica. Segundo a Lógica de Aristóteles, as frases devem conter um sujeito que recebe uma ação e um predicado que realiza a ação. As asserções são frases que contém uma afirmação, ou uma negação, em um único predicado com relação a um único sujeito. 

   Tendo isso em mente, temos algumas possíveis soluções do problema. A primeira é a existência de um salto gramatical, onde o verbo refere-se a uma proposição passada, mesmo estando no presente. Assim, o sujeito não realiza uma autorreferencia e assim desfaz o paradoxo. 

   A segunda solução obriga que o sujeito faça referência apenas a proposição, ou seja, ele não pode se autocitar. Existem duas vertentes desse método: uma que proíbe qualquer tipo de autorreferencia e outra que a proíbe apenas em situações paradoxais.  

   Uma alternativa é a divisão da ação em ato significado, o qual está relacionado com o conteúdo da fala, que é falso; e no ato exercido, atribuído a ação da frase, sendo verdadeira. Portanto, a verdade e a falsidade estão atribuídas no mesmo discurso, mas não a mesma ação. 

   Outra interpretação é a de que se existe uma falsidade na frase, mesmo que de maneira indireta, ela a caracteriza (a frase torna-se falsa). Para configurá-la como verdadeira, as condições devem compreender o sujeito, o predicado e a verdade do seu consequente. 

   Por fim, temos uma solução que funciona de maneira análoga a uma regra de sinais, na qual existem dois contraditórios na sentença, fazendo dela uma proposição falsa. Para a frase ser verdadeira, cada uma das proposições deve ser verdadeira ou as duas falsas.

   Esse paradoxo não possui uma resposta definitiva, cada solução tem seus críticos e defensores. É incrível como um problema simples e aparentemente inofensivo, pode gerar tantas discordâncias e interpretações, onde os conceitos mais fundamentais da teoria lógica são levados ao limite. 

Autor: Gian Carlos Bedreski do Prado.

Referencias: 

[1] SMITH, R. A lógica de Aristóteles. Investigação Filosófica: [s.l.], vol. 3, n. 2, artigo digital 2, 2012. Disponível em: https://periodicos.unifap.br/index.php/investigacaofilosofica/article/view/4867/2193 Acesso em: 15/04/2024. 

[2] SCHIMIDT, A. R. A Solução de Geraldo Odon ao Paradoxo do mentiroso. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, 2016. DOI:10.11144/Javeriana.uph33-67.spdm. Disponível em: www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0120-53232016000200303 Acesso em: 15/04/2024. 

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