
Escravidão: Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares
Autor: Laurentino Gomes
Ano de publicação: 2019
Gênero: História
Escravidão: Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares, esta obra nos leva a observar e a refletir sobre um dos períodos mais tristes da história: a escravidão transatlântica negra. Mediante pesquisas em inúmeros bancos de dados e também visitando múltiplos países, o autor nos leva para uma das épocas mais sangrentas do nosso passado recente. Somente assim, entenderemos nosso passado para, então, mudarmos nosso futuro. Em 30 breves capítulos, Laurentino Gomes nos mostra, em detalhes, os acontecimentos históricos que deram início ao maior tráfico de pessoas da história humana. Partindo da primeira venda de escravos na pequena vila de Lagos, Lisboa, em 8 de agosto de 1444, até a morte de Zumbi dos Palmares, em uma gruta na serra Dois Irmãos, onde atualmente se localiza o município de Viçosa, em 20 de novembro de 1695.
Na parte introdutória do livro, Gomes nos traz algumas marcas históricas da escravidão. Por exemplo, os “Portões do Não Retorno”, memoriais em homenagem a todos os africanos arrancados de suas terras natais e que nunca mais as viram.
Intitulado de “A Grande Agonia”, o primeiro capítulo da obra ilustra uma perspectiva geral dos horrores cometidos aos povos africanos nos primeiros dois séculos do tráfico negreiro. Nesse período, o perímetro da escravidão avançou para o interior do continente velozmente, chegando a 800 km da margem costeira, alcançando o interior do território que hoje compõe a Angola. Nas palavras do historiador norte-americano Joseph Miller (1988, p. 148-149) “Ali as pessoas matavam e eram mortas como se a vida nada valesse. […]”, essas palavras dimensionam bem o terror daquele momento. Por sua vez, a expansão do cerco dos europeus na época provocava a fuga dos habitantes dessas regiões a irem em busca de abrigo nas áreas densas da mata e em montanhas, todos fugindo das capturas e das guerras que serviam de combustível para o tráfico atlântico.
Adiante, no capítulo “O Leilão”, o autor aborda a primeira venda de escravos registrada na triste história do tráfico negreiro. Na manhã de 8 de agosto de 1444, na vila de Lagos, os moradores dessa vila acordaram com uma surpresa: 235 homens, mulheres e crianças cativos trazidos em 14 caravelas diferentes pelo Infante Dom Henrique, quinto filho de Dom João I, para que fossem vendidos como escravos. Dentre esses, 20% Dom Henrique era por direito dono, devido ao chamado “Quinto Real”¹. Assim, ele poderia selecionar, dentre todos, os 46 escravos mais fortes e saudáveis, segundo seus próprios critérios. Ali estavam, portanto, 235 pessoas tiradas de suas famílias, lares, amigos e costumes para sempre. Sendo esse o início dos terríveis mais de 400 anos de escravidão que se sucederiam a partir disso.
1 Se refere ao imposto de 20% cobrado pela Coroa Portuguesa em todos os negócios comandados por eles.
Laurentino também explora o fato da escravidão estar sempre presente nos anais da história de cada grande civilização que já existiu. Estando ela, por exemplo, manifestada na Grande Muralha da China, que, com seus 21.196 km de comprimento, foi construída ao longo de quase mil anos por cerca de 1 milhão de cativos forçados a trabalhar. Ou então, nos 639 minúsculos diamantes da coroa de Dom Pedro II, exposta no Museu Imperial de Petrópolis, que foram extraídos e lapidados por cativos do interior de Minas Gerais.
Gomes também aborda o fato de que nem sempre na história a escravidão teve relação com uma raça específica. Prova disso é a própria etimologia da palavra “escravo”, que é oriunda do latim slavus, que, por sua vez, servia para designar os povos chamados eslavos, moradores de regiões balcânicas, das margens do Mar Negro e do Leste Europeu. Portanto, nesse contexto, os escravos eram, principalmente, pessoas brancas de cabelos loiros e olhos verdes ou azuis. Sendo, assim, o caráter racial do termo “escravidão” é uma consequência dos mais de 3 séculos do tráfico negreiro transatlântico.
Ao final do livro, Laurentino trata sobre um começo do declínio do monopólio escravista de Portugal, até o início do século XVII, o maior traficante de escravos naquele contexto. Esse declínio se dá devido a uma série de perdas de Portugal, tanto na África quanto no Brasil. A começar pela captura pelos holandeses dos territórios pertencentes à Coroa Portuguesa nas regiões da Angola, e simultaneamente, com as invasões holandesas no Nordeste brasileiro entre 1624 e 1654. No entanto, o “arremate final” das perdas de Portugal viria com um nome: Palmares. O quilombo que durante um século resistiu aos ataques dos portugueses, causando um prejuízo de cerca de 400 mil cruzados aos cofres de Portugal, três vezes o valor do orçamento destinado ao Brasil em 1612. Esse conflito só teve fim quando, em 1695, a cabeça degolada de Zumbi, o maior herói de Palmares, foi exibida em praça pública.
Autor: Juan Rattes de Brito