Mildred Dresselhaus (1930 – 2017)
Mildred Dresselhaus nasceu em 11 de novembro de 1930, no Bronx, um subúrbio de Nova York, nos Estados Unidos. Filha de imigrantes poloneses, teve uma infância marcada por dificuldades financeiras, precisando trabalhar em fábricas desde cedo para ajudar sua família. Um marco decisivo em sua vida ocorreu graças ao talento musical de seu irmão mais velho, Arthur Spiewak, que a levou a receber uma bolsa de estudos para aulas de violino na Juilliard School of Music [1,2]. Esse contato com a música abriu oportunidades para Mildred conviver com famílias de classe média que valorizavam a educação, permitindo-lhe acesso a informações sobre processos seletivos para adentrar em boas escolas. Aos 13 anos, ingressou na Hunter College High School, a única escola pública de Nova York que aceitava garotas na época [2]. Embora fosse uma aluna excepcional, enfrentou resistência ao manifestar seu desejo de seguir carreira científica [2,3]. Muitos professores sugeriam que optasse por profissões como secretária ou enfermeira, consideradas na época mais “apropriadas” para mulheres. Contudo, sua paixão pela ciência foi restaurada, durante seu ensino médio, nas aulas de física moderna ministradas por Rosalyn Susman Yalow, uma professora que lecionava no Hunter College [2,3]. Anos mais tarde, Yalow receberia o Prêmio Nobel de Medicina (1977) por seu trabalho no desenvolvimento do radioimunoensaio (RIA) – técnica utilizada para medir hormônios e outras moléculas biológicas em concentrações extremamente pequenas [3]. Inspirada por Yalow, Mildred formou-se bacharel em Física pelo Hunter College em 1951, com honrarias de melhor aluna. Esse feito lhe garantiu uma bolsa da Fundação Fulbright para trabalhar no Laboratório Cavendish da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, entre 1951 e 1952 [1,3]. Ao retornar aos Estados Unidos em 1952, concluiu o mestrado no Radcliffe College em 1953 e, posteriormente, o doutorado na Universidade de Chicago em 1958 [3]. Durante o doutorado, Mildred conheceu Gene Dresselhaus, um jovem físico teórico com quem se casou e teve quatro filhos. O casal também formou uma sólida parceria científica [3,4]. Ainda em seu doutorado, Mildred concentrou-se no estudo da impedância de superfície em supercondutores na região de micro-ondas. Utilizando a estatística de Fermi-Dirac, ela realizou pesquisas independentes que resultaram em uma descoberta notável: sob certas condições, a aplicação de um campo magnético aumentava a supercondutividade de determinados materiais como ligas de nióbio. Essa observação, que inicialmente parecia contrariar a recém-publicada teoria BCS — proposta em 1957 pelos físicos John Bardeen, Leon Cooper e Robert Schrieffer, cujas iniciais formam o nome da teoria. Ela descreve como, em temperaturas suficientemente baixas, certos materiais permitem que a corrente elétrica flua sem resistência devido à formação de pares de elétrons, chamados pares de Cooper. Tais trabalhos de Mildred atraiu a atenção de nomes importantes na área da supercondutividade, incluindo John Bardeen [2-4]. Embora tenha sido confirmada por cientistas como Paul Richards e Brian Josephson, a explicação teórica para o fenômeno só surgiu uma década depois. Assim, apesar de importante, sua contribuição não alterou de forma decisiva a teoria da supercondutividade [3, 4]. Em 1960, Mildred e seu marido se mudaram para o Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), atraídos pela política de igualdade de gênero da instituição e pela possibilidade de trabalharem juntos. No MIT, Mildred promoveu a inclusão de mulheres na ciência [2,4] e assumiu importantes cargos administrativos, como a direção do Departamento de Engenharia e Ciências dos Materiais em 1977, e tornou-se a primeira mulher a liderar a Academia Americana de Ciências. Além disso, presidiu entidades de destaque, como a Sociedade Americana de Física (APS) e a Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAAS) [3-5]. Paralelamente, dedicou-se ao estudo das propriedades do grafite, realizando pesquisas pioneiras no campo dos nanomateriais, o que consolidou sua reputação como uma das líderes mais respeitadas nessa área. Entre as diversas honrarias que recebeu, destacam-se o Prêmio Kavli de Nanociência (2012), a Medalha Nacional de Ciência dos Estados Unidos e a Medalha Enrico Fermi. Além disso, foi agraciada com 25 doutorados honorários, evidenciando seus esforços no âmbito científico [1,5]. Mesmo com uma carreira repleta de compromissos, Mildred priorizou a pesquisa e o ensino, sendo reconhecida como a ‘Rainha do Carbono’ por seus estudos com o grafite [3,5]. Destacou-se também como defensora incansável da representatividade feminina na ciência e como uma mentora dedicada pois, como ela mesma afirmou: ‘Estou feliz em continuar fazendo ciência e sendo uma mentora para qualquer um que peça conselhos.’ Mildred Dresselhaus faleceu em 20 de fevereiro de 2017, aos 86 anos, na cidade de Cambridge, nos Estados Unidos [4,5]. Autora: Cassandra Trentin. REFERÊNCIAS [1] BARROS, R. L. Ciência, tecnologia e gênero: a participação da mulher no campo científico e tecnológico. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2023. [2] LOPES, M. C. L. A importância das mulheres na física e suas contribuições por meio de um jogo de RPG de cartas. 2024. 65 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Física) – Universidade Federal do Maranhão, Bacabal, 2024. [3] NASCIMENTO, S. M. S. Síntese, caracterização e aplicações dos carbon dots autodopados com enxofre e nitrogênio. Tese (Doutorado em Física) – Universidade Federal de Alagoas, p.117, Maceió, 2022. [4] SAITOVITCH. E. M. B. Mulheres na Física: casos históricos, panorama e perspectivas.1. ed. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2015. [5] JORIO. A. Mildred S. Dresselhaus. Journal of Raman Spectroscopy. Belo Horizonte (MG), 2017, v. 49, p. 13–18.