Walden, ou a Vida nos Bosques
Autor: Henry D. Thoreau; Ano de publicação: 1854; Gênero: autobiografia No ano de 1845, aos seus 27 anos, Henry D. Thoreau foi viver longe da cidade, em uma casa construída por ele mesmo às margens do lago Walden, em Massachusetts, Estados Unidos da América. Esse experimento, como é denominado pelo autor, surgiu de uma necessidade de afastamento da cidadania, que ele considerava doentia, competitiva e repleta de frivolidades. Durante os dois anos e dois meses em que viveu afastado, Thoreau manteve um diário com observações cotidianas: coisas simples, que sempre estiveram lá, mas que passam despercebidos na sociedade civilizada. Das anotações desse período, surgiu o livro “Walden, ou a Vida nos Bosques”. O escritor refere-se a uma sociedade marcada pela industrialização crescente e pelo início da exploração exacerbada de recursos naturais, caracterizada, a seu ver, pelo excesso em todos os aspectos: de luxos, de competitividade, de trabalho e, principalmente, de futilidades: “A maioria dos homens parece nunca ter considerado o que é uma casa, e vive, ainda que desnecessariamente, pobre a vida inteira por achar que deveria ter uma igual à do vizinho. Como se alguém fosse vestir qualquer paletó que o alfaiate lhe vendesse, ou, tirando o chapéu de palha ou de pele, reclamasse que a vida está dura porque não pode comprar uma coroa!” (p. 36). Em 18 capítulos, Thoreau mescla considerações acerca da vida em sociedade com descrições detalhadas do experimento que viveu. O livro propõe reflexões profundas, ao mesmo tempo em que apresenta muita sensibilidade na descrição das belezas naturais e das espécies que habitam a região do lago Walden. Misturam-se versos de poesia com descrições técnicas, mostrando as habilidades de observação do escritor, que, por exemplo, elaborou um mapa com a topografia do lago, e estudou a formação e comportamento do gelo que o cobria durante o inverno. Sua casa contava com tudo o que era necessário, em apenas um cômodo, e custou vinte e oito dólares e doze centavos. Thoreau afirma que foi para a mata em busca de viver deliberadamente, lidando apenas com o essencial da vida, e tentando aprender com o que ela tem a ensinar. O livro não trata da abstenção de confortos, mas da valorização do que é realmente importante para viver: “Certa tarde, encontrei um conterrâneo que havia acumulado o que se chamava de ‘uma bela propriedade’ […] levando uma parelha de bois para vender, que me perguntou por que eu havia decidido abrir mão de tantos confortos da vida. Respondi que eu tinha certeza de que estava passando razoavelmente bem; […] E então voltei para casa e me deitei na minha cama, e o deixei seguindo seu caminho através da noite e de lama até Brighton – ou de Bright-town –, aonde ele deveria chegar pela manhã” (p. 119). Em setembro de 1847, Thoreau deixou o lago Walden e a casa que havia construído. Como relata no último capítulo do livro, “Conclusão”, foi em busca de novas vivências, pois acreditava que ainda teria várias outras vidas para viver, e não podia passar mais tempo naquela. A autobiografia encerra em ares de otimismo, não pelo estado da humanidade, mas pelo fato de que cada indivíduo ainda tem a possibilidade de viver verdadeiramente. A condição para que isso ocorra é que o indivíduo se desprenda em algum grau das amarras, muitas vezes associadas ao que o autor chama de estado de espírito, a que está submetido. Embora o livro tenha sido escrito há mais de um século e meio, suas críticas e as reflexões que provoca aplicam-se perfeitamente à atualidade: o que pensaria o autor sobre o atual estado das coisas, da exploração de recursos, do ambiente frenético das grandes metrópoles, do industrialismo desenfreado e da forma como vivem a maior parte das pessoas? Henry D. Thoreau morreu em 1862, e em seu funeral, o poeta conterrâneo Ralph Waldo Emerson o descreveu como alguém “que decidiu ser rico diminuindo suas necessidades e atendendo pessoalmente a elas”. Autor da resenha: Angelo Zanona Neto