Teoria da Floresta Negra
O que há de especial em nossa existência? Aliás, porque existimos? Talvez, tenhamos sorte em habitar um planeta que permitiu a criação da vida; ou nosso planeta seja o único, em todo o universo, em que ela pode ser gerada. Porém, será que a Terra é o único planeta capaz de originar a vida? Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), apenas em nossa galáxia, a Via Lactea, existem entre 200 e 400 bilhões de estrelas; no Universo observável, mais de 10 sextilhões. Para cada estrela, no mínimo, pode haver um planeta orbitando. Portanto, diante dessa imensidão, planetas prósperos ao surgimento da vida devem ser tão abundantes quanto as gotas em um copo d’água. Como prova, o astrônomo Frank Drake, em 1961, estimou que, na pior das hipóteses, deveria haver 20 civilizações capazes de se comunicar com a Terra em nossa galáxia; no melhor dos casos, mais de 50 milhões. Essas estimativas surgem de um produto de variáveis necessárias para que haja vida consciente, como a taxa de formação de estrelas na galáxia, fração de estrelas com planetas em sua órbita e número médio de planetas com capacidade de ter vida. Mesmo que o valor de algumas variáveis sejam apenas especulações, como a quantidade de espécies inteligentes que desejam estabelecer comunicação e o seu tempo provável de vida, a probabilidade de comunicação com vida extraterrestre ainda deveria ser imensa [1,2]. Então, porque nossa única resposta é o silêncio? Os físicos Philip Morrison e Giuseppe Cocconi, em 1959, propunham que se houvesse alguma tentativa de comunicação de vidas inteligentes espaciais, ela ocorreria por ondas eletromagnéticas na faixa de 1420,4 MHz. Esse valor corresponde a frequência do átomo de hidrogênio neutro que, devido sua abundância no universo, toda civilização minimamente avançada deve conhecer. Radiotelescópios varrem o céu diariamente, e mesmo assim, não encontramos nada inequívoco nessa faixa, ou em qualquer outra que sugira uma tentativa de comunicação – apenas o silêncio [1,2]. No entanto, Cixin Liu, em seu romance Darck Florest, sugere que esse silêncio pode ser fruto de uma tentativa desesperada de evitar a morte certa [3]. Ele compara o universo com uma floresta escura, onde: “Cada civilização é um caçador armado espreitando entre as árvores como um fantasma […]. O caçador tem que ter cuidado, porque em toda a floresta existem caçadores furtivos como ele. Se ele encontrar outra vida […] só há uma coisa que ele pode fazer: abrir fogo e eliminá-los” Em outras palavras, por desconhecer as reais intenções de outras civilizações, a melhor ação, pensado na própria sobrevivência, é eliminá-la. Nada garante que o contato entre duas formas de vida inteligente seja pacífico; aliás, considerando que os recursos do universo são finitos, o conflito, segundo a teoria, é inevitável. No entanto, devido a imensidão do cosmo, o próprio conflito é um ato arriscado. Supunha, caro leitor, que uma civilização envie naves para destruir outra civilização a 120 mil anos luz: durante o tempo do percurso, a tecnologia das naves manteve-se a mesma, enquanto a do planeta atacado evoluiu, podendo, agora, se equiparar ou até superar a da nave [3,4]. Tantas incertezas obrigam essas raças, que buscam a permanência de sua espécie, realizar uma ação drástica: se esconder. Ocultando sua posição, eliminando qualquer resquício que prove sua existência, suas vidas estariam salvas, afinal, evitariam todo e qualquer tipo de combate. Dessa forma, talvez, o cosmo esteja repleto de civilizações, com incontáveis formas de vida, porém, invisíveis aos nossos olhos, pois vivem sob o medo constante da morte iminente. Apesar de ser uma proposta pessimista, uma ideia aterrorizante, baseada no medo, a teoria da floresta negra, caso seja verdadeira, nos mostra o porquê do silêncio que encontramos. Até mesmo a equação de Drake, citada no 2º parágrafo, muda para concordar com nossa realidade: a variável que informa o número de civilizações que buscam se comunicar é reduzida a zero. Apesar do Paradoxo de Fermi, que questiona o porquê de não recebermos sinais de vida extraterrestre, poder ser solucionado, outra pergunta surge: se houver outras civilizações, estamos seguros? Em 1972, a nave Pioneer I enviou para o espaço uma placa com nossa localização no espaço sideral; em 1977, a nave Voyager I enviou uma espécie de cápsula do tempo também com nossa localização, nossa anatomia, nossa forma de reprodução, alguns costumes e línguas1…. Talvez, nessas tentativas de buscar nos comunicar com outras civilizações, tenhamos, caso existam, nos revelado ao nosso caçador, assinado nossa sentença de morte. Devemos continuar tentando? [5] Autor: Gabriel Vinicius Mufatto. 1: Para saber mais sobre as formas de comunicação espacial, clique aqui. Referências: [1] Equação de Drake: o que é e como surgiu?. Astro do Dia. Disponível em: https://astrododia.com/equacao-de-drake/. Acesso em 4 de maio, 2024. [2] Floresta negra e o sinal Wow: o que é e por que é tão importante?. Astro do Dia. Disponível em: https://astrododia.com/floresta-negra-e-o-sinal-wow/. Acesso em 4 de maio, 2024. [3] A Hipótese da Floresta Negra – A Resposta para o Paradoxo de Fermi. Space Today. 2023. Disponível em: https://spacetoday.com.br/a-hipotese-da-floresta-negra-a-resposta-para-o-paradoxo-de-fermi/. Acesso em 4 de maio, 2024. [4] Teoria da Floresta Negra: porque ainda não ouvimos falar de alienígenas? Jornal A Resistência, Maringá, 19 de fev. 2020. PET-Física UEM. Disponível em: https://petfisicauem.wixsite.com/petfisicauem/single-post/2020/02/19/jornal-a-resist%C3%AAncia-2019-teoria-da-floresta-negra-porque-ainda-n%C3%A3o-ouvimos-falar-de-al. Acesso em: 4 de maio, 2024. [5] Oliveira, V. A. Nossas mensagens espaciais. GPET-Física Unicentro. Disponível em: https://www3.unicentro.br/petfisica/2020/09/03/nossas-mensagens-espaciais/. Acesso em 4 de maio, 2024.
Excelente texto. Vc está de parabéns.