Revolta da Vacina
Em novembro de 1904, acontecia no Rio de Janeiro a revolta “Quebra-Lampiões”, denominada também como “A Revolta”, em que a capital se tornou palco de protesto, bondes tombados, calçamentos danificados, trilhos arrancados, tudo feito por manifestantes que tinham como objetivo a queda da obrigatoriedade da vacina contra a varíola. Mas o que levou o Rio a passar por este ato? Bom, continue esta leitura que você terá uma melhor compreensão do que aconteceu no início do século XX [1, 2]. A cidade maravilhosa, como atualmente é chamada, nem sempre foi tão maravilhosa assim. A falta de saneamento básico e as péssimas condições de higiene tornaram a cidade o centro de epidemias, como febre amarela, peste bubônica e a varíola. Essas pestes concederam um apelido nada maravilhoso para a cidade, “túmulo de estrangeiros”; o Rio de Janeiro era assim conhecido fora do território brasileiro [1,3]. O presidente da época, Rodrigues Alves (1902-1906), tomou medidas de remodelação urbana para que a cidade se tornasse o reflexo do Brasil; além disso, aconteceram diversas desapropriações e demolições de cortiços e medidas de higienização também foram tomadas. Isso fez com que a população local se refugiasse para os morros cariocas e bairros distantes, e assim as favelas se expandiram [3,4]. No entanto, o presidente não fez tudo isso sozinho não, ele contou com a ajuda do prefeito Pereira Passos, o qual liderou as obras, e para auxiliá-lo em seus projetos, em 1903 Oswaldo Cruz, que possuía um currículo de excelência, foi nomeado sanitarista. Ao assumir o cargo, Oswaldo se deparou com o alto índice de infectados pelas epidemias. Algo teria que ser feito para conter essas moléstias, dessa forma ele tornou o Rio um grande laboratório de combate, implantando métodos revolucionários [3,5]. Porém, em 1904, um surto de varíola aconteceu, e com isto Oswaldo Cruz mandou ao congresso uma lei que tornava obrigatório a vacinação, a qual já havia sido instituída no ano de 1837, mas nunca foi realmente cumprida. Mesmo com toda a população contra ele, montou-se uma campanha seguindo modelos militares, dividindo-se a cidade em distritos. Além disso, foi criado também a polícia sanitária, que tinha o poder de desinfetar casas, caçar ratos e matar mosquitos. Posteriormente, teve-se, ainda, a criação de brigadas sanitárias, as quais entravam nas casas e vacinavam as pessoas à força [1,3]. A forma como Oswaldo Cruz estava tratando o problema, não foi muito bem aceita pela mídia e causou muita indignação na população, pois desconheciam os efeitos da vacina e o que ela poderia causar. Dessa forma, no dia 11 de novembro de 1904, manifestantes se reuniram e foram para a rua mostrar sua indignação perante aos atos governamentais, incendiando carroças e bondes tombados. Com essas ações ainda, diversas lojas foram saqueadas e postes derrubados, necessitando da intervenção por parte dos pelotões militares para contê-los [1,3]. Esse ato ficou conhecido então como “A revolta da Vacina”; durou cerca de uma semana e as ruas do Rio de Janeiro se tornaram um verdadeiro cenário de guerra. Segundo a polícia, foram 27 mortes, 67 feridos e 945 presos e algumas pessoas foram enviadas ao Acre [1,3]. Após todo esse movimento a obrigatoriedade da vacina foi modificada, sendo exigido o atestado de vacinação para o trabalho, viagem, casamento, escolas públicas, hospedagem em hotéis e alistamento militar. Neste mesmo ano cerca de 3500 pessoas morreram de varíola; após dois anos esse número cai para 9 e no ano de 1910 é registrada apenas uma única vítima. Enfim a cidade estava livre do apelido “túmulo dos estrangeiros” [1,3]. Na primeira metade do século XX, os meios de divulgação eram escassos, isto é, a falta de internet na época dificultava a transmissão de informações de forma rápida, resultando em manipulações das mesmas, muitas vezes por disputas de poder; ações como essas foram determinantes para a ocorrência da revolta da vacina. Isso porque as informações a respeito dela não foram repassadas à população da forma que deveria ter acontecido, gerando então o negacionismo [3]. Atualmente estamos passando por uma grande pandemia mundial. Felizmente, não demorou muito tempo para surgir uma vacina, mas o número de mortes no Brasil, devido sua escassez, é muito alto, e o apelido “túmulo dos estrangeiros” está cada vez mais próximo de nós. Bem como foi descrito por Stefenon (2019) em seu Blog Vacina fora do senso comum: “A vacinação é uma questão de saúde pública, e arrisco dizer, à nível mundial. Logo, ao deixar de se vacinar, ou de vacinar seus filhos, as pessoas colocam em riscos todos a sua volta, sem contar o investimento de tempo e dinheiro que foi investido no combate a essas doenças” [6]. Acredite na ciência, vacinas salvam vidas, informações salvam vidas. Autora: Lorraine Fiuza. Referências: [1] VIEIRA, Cássio Leite Vieira. O que foi a revolta da vacina? Super Interessante, [S. l.], p. 1/1, 15 jul. 2020. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/oswaldo-cruz-e-a-variola-a-revolta-da-vacina/. [2] GAGLIARDI, Juliana; CASTRO, Celso. Revolta da Vacina. Atlas Histórico do Brasil, [S. l.], Disponível em: https://atlas.fgv.br/verbetes/revolta-da-vacina#:~:text=Revolta%20tamb%C3%A9m%20conhecida%20como%20Quebra,da %20vacina%C3%A7%C3%A3o%20contra%20a%20var%C3%ADola. [3] PORTO, Mayla Yara. Uma revolta popular contra a vacinação. Ciência e cultura, v. 55, n. 1, p. 53-54, 2003. [4] HOCHMAN, Gilberto. Vacinação, varíola e uma cultura da imunização no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 2, p. 375-386, 2011. [5] SEVCENKO, Nicolau. A revolta da vacina: mentes insanas em corpos rebeldes. SciELO-Editora UNESP, 2018.