William Ross Adey (1922 – 2004)

William Ross Adey (1922 – 2004)

     

   William Ross Adey, cientista nascido em 31 de janeiro de 1922, em Adelaide (Austrália), destacou-se desde a juventude por sua inteligência excepcional e fascínio por radiotransmissão. Aos 17 anos, já operava um rádio amador e utilizava antenas caseiras para refletir sinais lunares, conforme relatou seu colega John Hanley, professor da Universidade da Califórnia. Encantado pela tecnologia de comunicação, construiu seus próprios circuitos com válvulas de vácuo, conquistou licença de rádio amador e, ainda na adolescência, projetou e construiu o primeiro eletroencefalógrafo (EEG) da Austrália, equipado com estimuladores e câmeras de raios catódicos. Segundo Hanley, Adey já realizava registros de ondas cerebrais muito antes de ter contato com equipamentos profissionais [1, 2].

   William formou-se no ensino secundário aos 14 anos e graduou-se em Medicina e Cirurgia pela Universidade de Adelaide, na Austrália,  aos 21. Após a graduação, atuou como clínico no Royal Adelaide Hospital e ingressou na Marinha Real Australiana, onde, a bordo de um navio, teve seu primeiro contato com os efeitos fisiológicos das ondas de rádio, que incluem, efeitos térmicos, como aquecimento de tecidos (especialmente em órgãos com baixa vascularização), causados por exposição a alta intensidade (ex.: micro-ondas), podendo levar a queimaduras; efeitos não térmicos, associados a baixas intensidades (ex.: celulares), com hipóteses de alterações na atividade cerebral e estresse oxidativo por radicais livres [1, 2].

   Após o serviço militar, retomou os estudos e obteve o título de Doutor em Medicina pela mesma universidade, dedicando-se a pesquisas sobre miopatia crônica e mecanismos motores em anfíbios anuros. Esses trabalhos, somados a suas investigações pioneiras sobre o sistema límbico, renderam-lhe as prestigiadas bolsas Nuffield e Royal Society para estudar em Oxford, sob a orientação do renomado anatomista Wilfrid Le Gros Clark, especialista em neuroanatomia de primatas [1].

   Em 1957, transferiu-se para Los Angeles, na Califórnia, tornando-se professor de anatomia e fisiologia na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles). Nessa mesma instituição, desenvolveu técnicas de biotelemetria que permitiram monitorar atividades cerebrais (via EEG) de astronautas da NASA em missões espaciais. Em 1977, assumiu a direção de laboratórios na UCLA e no Pettis Veterans Administration Hospital, atraindo colaboradores internacionais e consolidando-se como líder em pesquisas interdisciplinares [1, 2].

   Ao longo da carreira, publicou mais de 400 artigos científicos, com contribuições marcantes em: medições pioneiras da impedância elétrica do tecido cerebral, correlacionando-a com processos de atenção, aprendizagem e memória no sistema límbico; organização da membrana celular e mecanismos de comunicação intercelular; interações entre campos eletromagnéticos e tecidos biológicos, explorando efeitos em escalas submétricas.

   Seus estudos desafiaram paradigmas ao demonstrar que campos elétricos fracos (ordens de magnitude inferiores aos necessários para ativação sináptica) podem induzir alterações bioquímicas, fisiológicas e comportamentais. Essas descobertas revolucionárias abriram caminho para novas compreensões sobre a sensibilidade do cérebro a estímulos ambientais e intrínsecos [1, 2].

   Adey revolucionou todas as etapas da eletroencefalografia, desde o desenvolvimento de eletrodos (superficiais e invasivos) até a interpretação de sinais neurológicos. Foi pioneiro na aplicação de computadores digitais de uso geral para analisar registros de EEG, criando os primeiros mapas topográficos da atividade elétrica cerebral e estabelecendo uma biblioteca de referência global para esses padrões. Atualmente, seu método de mapeamento complementa a avaliação visual rotineira em laboratórios de EEG clínicos e acadêmicos. Sua radiotelemetria de alta precisão permitiu monitorar pacientes em movimento livre, mesmo em ambientes dinâmicos. Essa tecnologia tornou-se essencial na captura de dados de crises epilépticas, auxiliando na seleção de candidatos a cirurgias neurológicas. Atualmente, é considerada uma ferramenta indispensável em centros especializados de epilepsia. Em colaboração com a NASA, Adey investigou os efeitos fisiológicos de voos orbitais. Seus estudos revelaram alterações críticas em astronautas, como fragmentação do sono, desregulação de ritmos circadianos e redistribuição de fluidos corporais — contribuições fundamentais para adaptar protocolos de saúde em missões espaciais [1, 2].

   Reconhecido como autoridade internacional, Adey assessorou comitês da Casa Branca, discursou no Congresso dos EUA e em fóruns renomados, como a Royal Society of Medicine. Presidiu o Comitê de Campos Eletromagnéticos de Frequência Extremamente Baixa do Conselho Nacional de Radiação, defendendo regulamentações para dispositivos emissores de radiação não ionizante. Em 1987, argumentou perante o Congresso pela criação de padrões federais para equipamentos como monitores e eletrodomésticos. Em 1990, alertou sobre riscos de cobertores elétricos e colchões de água aquecidos [2].

   Entre suas distinções destacam-se: professor distinto da UCLA; membro honorário da Royal Society of Medicine; medalha D’Arsonval (máxima honra em bioengenharia); prêmio Hans Selye (por contribuições ao estudo do estresse) [1].

   Casado duas vezes, Adey faleceu em 20 de maio de 2004, devido a uma infecção pulmonar grave causada pela bactéria Pseudômonas. Deixou dois filhos, Geoff e Susie, e um legado científico de mais de cinco décadas, marcado por descobertas que redefiniram fronteiras entre a neurologia, a biofísica e a saúde pública [1, 2].

Autor: Eloise Granville.

Referências: 

[1] HANLEY, J. EM MEMÓRIA: Dr. William Ross Adey Professor de Anatomia e Fisiologia, Los Angeles, 1922–2004. The University of California. Acesso em: 16/03/2025. Disponível em: https://senate.universityofcalifornia.edu/_files/inmemoriam/html/williamrossadey.htm.

[2] ORANSKY, I. William Ross Adey. The Lancet. Acesso em: 16/03/2025. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(04)16699-3/fulltext. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *