30º Roda de Mate e Debate promove conversa sobre a vida dos indígenas na Amazônia

30º Roda de Mate e Debate promove conversa sobre a vida dos indígenas na Amazônia

Um relato sobre a resistência dos povos indígenas e sobre a necessidade de buscar soluções que permitam o seu desenvolvimento socioeconômico. Esses foram alguns dos pontos colocados em discussão durante a 30ª Roda de Mate e Debate, intitulada “Indígenas da/na universidade: a vida dos nativos da Amazônia”, realizada no Câmpus Irati da Unicentro. O evento promovido pelo projeto de extensão Feira Agroecológica, em conjunto com docentes dos cursos de Psicologia, Geografia e História e a Casa de Passagem Indígena de Irati teve como convidado Darlisson Peixoto, indígena da etnia Apiaká.

Mestrando em Ciências Florestais na Unicentro, Darlisson contou sobre a vida do seu povo, presente na região noroeste de Mato Grosso, divisa com o Pará e o Amazonas. Darlisson trouxe detalhes sobre as características culturais da etnia, como o fato de que a língua Apiaká está em perigo de extinção, contando com apenas três falantes ainda vivos. Ao falar sobre os conflitos, a ameaça é a mesma com que sofrem outros indígenas da região: o garimpo ilegal de ouro. “É uma situação difícil de ser controlada, de ser denunciada por causa das represálias. Tem muita gente da região e mesmo das aldeias que estão envolvidas nas irregularidades”.

No entanto, para Darlisson, a simples crítica às atividades ilícitas é muito fácil, quando não se apresentam alternativas econômicas viáveis para a Amazônia. Segundo ele, esse entendimento fez com que ingressasse no mestrado ofertado no câmpus de Irati, para pesquisar sobre o mercado de créditos de carbono – recursos gerados, por exemplo, pela preservação de áreas florestais e comprados por empresas para compensar parte das emissões de gases que provocam o efeito estufa.

Eu estou numa região que tem um potencial muito grande nesse mercado que hoje é bilionário. Mas a gente não sabe como funciona e tem medo de fazer acordo com empresas que, na maioria das vezes, são multinacionais. Por isso, senti a necessidade de estudar como isso funciona, quais são os pontos positivos e negativos, se é viável para a gente, se é seguro. Então, eu vim aqui para Unicentro, porque tem professores com muita competência e conhecimento na área e seria o lugar certo para eu aprender e poder dar esse retorno para minha aldeia, gerando emprego e renda. Se você tem um trabalho legal que tem condições para viver, você sai das atividades que não são viáveis, em que muitas vezes você está trabalhando sobre risco”, enfatiza o mestrando.

Durante a conversa com o convidado, a indígena da etnia Kaingang e acadêmica do 3º ano de Psicologia, Danieli Finhgre Felix, destacou os desafios que os povos originários enfrentam para ocupar espaços como o da universidade. Segundo ela, é necessário também questionar a exclusão das suas especificidades nas discussões acadêmicas. “Nós, povos indígenas, estamos em todos os lugares, mas somos invisibilizados. Quando cheguei no curso de Psicologia, eu era a única indígena e o que a gente aprendia em sala de aula não era o que acontecia na minha aldeia, não era a minha vivência. Então, eu levantei questionamentos de que existiam outras psicologias. E a gente tem que fazer isso em outros cursos, de que existe uma perspectiva diferente. Por isso, mobilizei meus professores e meus colegas para criar rodas para conversar sobre a importância dos indígenas em todos os âmbitos, principalmente na universidade”.

A professora Fernanda Keiko Ikuta, coordenadora pedagógica da Feira Agroecológica, explica que um dos objetivos do projeto de extensão é a formação de maneira participativa, por isso a importância de criar espaços para o diálogo entre os diferentes atores envolvidos, sem uma hierarquização de papéis. Além disso, a docente afirma que o meio acadêmico tem o dever de olhar para a realidade dos povos indígenas e de responder às suas demandas. “O Darlisson trouxe hoje essa provocação: ‘olha, nós queremos saídas da universidade, quais são as respostas que vocês têm?’. A gente entende que o conhecimento científico precisa partir das demandas da sociedade e eles têm inúmeras demandas, há mais de 500 anos. A universidade, sobretudo a pública, tem a obrigação de responder a esses desafios, aos problemas que a sociedade nos traz”.

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