Peça “Negro não Nego” encerra programação do Sarau Afro-Brasileiro 2019

Peça “Negro não Nego” encerra programação do Sarau Afro-Brasileiro 2019

Novembro é o mês da Consciência Negra e o campus Irati da Unicentro tem debatido a questão racial pelo viés acadêmico, e também pelo cultural. Com a realização da sexta edição do Sarau Cultural Afro-Brasileiro, a universidade rememora a história de luta dessa parte da população que foi escravizada. A professora Ana Maria Guillies, do Departamento de História do campus de Irati, acompanha o evento desde a sua criação e, neste último, enfatizou a importância de ir além do currículo escolar quando o assunto é a questão racial.

O sarau é apenas uma culminação de toda uma preocupação não apenas com o cumprimento da lei que obriga o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira, mas de um compromisso de problematizar, discutir, colocar em pauta a profunda desigualdade que há no Brasil, que é uma desigualdade social, econômica, mas que afeta profundamente os negros historicamente”, avalia Ana Maria.

O professor do Departamento de Letras Davi Gonçalves fez a fala de abertura do Sarau e reforçou a importância de dar visibilidade à história do povo afro-brasileiro. “Eu acho que essa é uma história que, às vezes, é esquecida, é deixado de lado todo o sofrimento, o processo de escravização, a entrada dos africanos escravizados durante a colonização”. Durante o sarau, o professor Davi também tocou piano, acompanhando uma poesia sobre as relações raciais declamada a declamação de por uma das integrantes do Coletivo Teresa de Benguela, de Irati.

Exposições fizeram parte da programação do Sarau Afro-Brasileiro (Foto: Coorc)

Um dos objetivos do Sarau é mostrar a relevância da cultura afro-brasileira. Para isso, foram montadas exposições no Auditório Denise Stoklos. Uma delas foi organizada pela mestranda em História Jaqueline Kotlinski, que trouxe fotos sobre o cotidiano e arquitetura dos Terreiros “Ilê de Oxum” e “Mãe Oxum e Pai Ogum”, localizados na cidade de Irati. “Como é minha pesquisa de mestrado, eu resolvi trazer um pouquinho das práticas cotidianas, mostrando um pouquinho da arquitetura dos variados terreiros que tem. Na cidade, a gente tem mais de sete terreiros. No entanto, eles não são conhecidos pela população. Eu acho que uma das funções da universidade é, justamente,trazer a pluralidade de cultura, de religiosidade”, conta Jaqueline.

A atração principal do Sarau, este ano, foi a peça Negro Não Nego. A programação também integrou o Feteco, que é o Festival de Teatro da Unicentro. Juliana Guiné, uma das atrizes, acredita que a mensagem passada pela peça é de extrema relevância para combater o racismo. “O que a gente fala é muito necessário nesse momento e vai continuar sendo necessário enquanto não deixar de existir racismo”, afirma.

Já o diretor da peça, Glayson Cintra, explica que “Negro Não Nego” usa a sensibilidade artística para falar da dura realidade da opressão racial no país. “Apesar dos temas serem muito duros e muito bruscos mesmo, é uma realidade dura que a gente vive, a gente busca passar isso de uma maneira muito sensível e transparente, para que isso chegue nas pessoas de uma forma que elas entendam que o comportamento delas pode ser melhor a partir disso”.

Peça “Negro não nego” encerrou o sarau em 2019 (Foto: Coorc)

As atrizes e os atores contam a história de resistência do povo afro-brasileiro desde o período colonial no Brasil. O coreografo e dançarino Silvester Neto explica qual foi a inspiração para compor os movimentos corporais do espetáculo. “A concepção da coreografia vem de trabalhadores, trabalhadores escravizados. A gente usa muitos movimentos de trabalho mesmo, por exemplo enxada, bacia. São movimentos mais característicos. A coreografia também é inspirada em uma tribo chamada Massai, que foi uma das primeiras tribos escravizadas e separadas do continente da África”, relata Silvester.

Além da história, a peça também traz dados atuais, que demonstram como a opressão racial ainda marca profundamente a nossa sociedade. Essas informações ficaram registradas na memória de quem assistiu à peça, como o estudante de Psicologia da Unicentro Luiz Fellipe Siqueira. “A peça frisou que a cada 23 minutos um jovem negro é morto e \lembrou que essa minoria, que tanto é falado que existe, na verdade é maioria”.

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