Pesquisa Individual – Luiz Guilherme de Oliveira Sebrenski

Pesquisa Individual – Luiz Guilherme de Oliveira Sebrenski

 

Novo Caminho no Brasil Meridional: Processos de identificação a partir da escrita de um engenheiro inglês, em fins do século XIX

Luiz Guilherme de Oliveira Sebrenski

Silvia Gomes Bento de Mello

Essa pesquisa parte da análise do livro “Novo caminho no Brasil meridional: três anos de vida em suas florestas e campos (1872-1875)” de Thomas P. Bigg-Wither. A reflexão aqui proposta dedica-se ao estudo dos processos de identificação, alteridade e superioridade, através de uma minuciosa análise do relato deste engenheiro inglês, experiência vivida por ele entre 1872 e 1875, na então Província do Paraná.

Este europeu de família nobre, veio para o Brasil trabalhar na construção de ferrovias que facilitariam o comércio dentro do país, através de um acordo entre o até então o império brasileiro e a coroa britânica. Durante a sua permanência, que perdurou por pouco mais de três anos, Bigg-Wither conheceu algumas das cidades e pequenas vilas do país, passou a habitar as profundas florestas paranaenses, conviveu com os nativos brasileiros, e também com os estrangeiros, analisou os costumes, o modo de viver, a cultura, a fauna e a flora brasileira. Experiência essa que foi precisamente relatada em seu diário que carregava sempre consigo, gerando na sequência a publicação de um livro inserido no contexto inglês, lançado precisamente em 1878, e que foi traduzido para o português cerca de um século mais tarde.

Sugerimos pensar que tanto a publicação física deste livro, quanto o seu conteúdo, fizeram parte de um circuito literário muito mais amplo de publicações, atentando principalmente para o cenário do mercado editorial inglês, como futuramente também o mercado brasileiro. Em meio a um contexto histórico de dominação por parte das potências europeias, principalmente a Inglaterra, regiões como as Américas, a África e a Índia, sofriam diretamente com o imperialismo, ou colonialismo, exercido brutalmente por essas grandes nações no final do século XIX e começo do XX. Existia uma curiosidade e um interesse político por trás deste gênero, de como era a vida e os costumes dos nativos americanos, africanos e indianos, logo a literatura consistia em um importante meio para que o europeu, majoritariamente branco e de classe média, que não possuía subsídios para viajar, viesse a “conhecer” estes povos. Propomos pensar que o imperialismo não se dava somente por meios bélicos, mas que também se efetivou através da literatura, que esses gêneros literários eram também uma importante arma de dominação. Chamamos a atenção para essas publicações, usando como o exemplo o relato de Bigg-Wither, que intencionalmente ou não, passava para esse sujeito da Europa, uma visão muito simplista do homem extra-europeu, naturalizando esse processo de dominação junto a um pensamento de superioridade perante americanos, indianos e africanos.

Do ponto de vista teórico, esta pesquisa se valerá largamente de escritos do importante intelectual palestino Edward Said, através de publicações como Cultura e Imperialismo, e O Orientalismo. Contribuições de autores como Norbert Elias e Durval de Muniz Albuquerque Junior também se mostrarão presentes durante essa pesquisa, fomentando o pensamento de que a percepção desses discursos de alteridade se constituem amplamente a partir dos meios culturais (como o exemplo dos relatos de viagem), identificando-se também relações de alteridade que atribuem uma superioridade e uma consequente relação de poder, que se constituem na escrita que o “Nós” (o inglês) estabelece sobre o “Outro” (brasileiro), colaborando para a manutenção de um status quo europeu.

Por fim, buscamos aprimorar as reflexões a respeito das relações de alteridade que marcam a Idade Contemporânea, fortalecendo o debate sobre as diferenças que definem o nosso mundo. Seguimos tentanto entender, através da literatura e de sua propagação cultural, como esses processos de disparidade se encontram ainda tão presentes no nosso cotidiano, refletido sobre as relações de poder, bem como mecanismos de dominação que foram construindo-se ao longo dos anos.

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