Discussões sobre violência de gênero e protagonismo feminino marcam o Dia da Mulher no Câmpus Irati

Discussões sobre violência de gênero e protagonismo feminino marcam o Dia da Mulher no Câmpus Irati

Uma data para rememorar a luta histórica de mulheres e refletir sobre o que ainda há a ser conquistado. Muito além de uma data comemorativa, o Dia da Mulher é um momento importante para discussões sobre violência de gênero, machismo, assédio, disparidade no mercado de trabalho, entre outras pautas. No Câmpus Irati da Unicentro, não foi diferente: a programação alusiva ao 08 de março movimentou a universidade e reuniu mulheres da comunidade acadêmica e da região. As atividades, promovidas pelo Núcleo Maria da Penha (Numape), pela Coordenadoria de Apoio ao Estudante de Irati (Coorae/I) e pelo Projeto de Prevenção à Violência Contra as Mulheres, buscaram trabalhar essas temáticas através de rodas de conversas e oficina, mas também por meio da música, da dança e do teatro.

É uma forma de produzir um espaço para mostrar que estamos juntas no enfrentamento das desigualdades, que ainda são muito presentes. A gente precisa conversar sobre essas coisas e é uma forma de sensibilizar, de produzir espaços para que as pessoas tenham contato, possam dialogar, trazerem suas dúvidas”, explica a coordenadora do Numape, professora Ana Paula de Andrade.

Thayane foi uma das mulheres que participou da ação (Foto: Coorc)

Ao ar livre, durante o dia todo, diversas expositoras receberam o público. Artistas, artesãs, pesquisadoras, estudantes, mulheres de todas as faixas etárias estiveram presentes e compartilharam suas histórias. Thayane Rocatelli foi uma delas. Desde 2019, a jovem trabalha como trancista e ajuda outras mulheres no processo de transição capilar. Além de prestigiar o evento, ela pode captar novas clientes. “Conseguimos ter uma experiência bem humanizada, ter contato com pessoas que não tínhamos visto antes, vários tipos de intervenções diferentes, foi uma experiência maravilhosa”, compartilha.

Solange Sofia da Silva participou acompanhada de colegas da Associação de Artesãos de Irati. Foi no artesanato que ela encontrou conforto para o tratamento de câncer, a que foi submetida em 2012. A artesã também participou de uma roda de conversa sobre a Lei Maria da Penha e violências de gênero. Sobrevivente da violência doméstica, hoje ela enfatiza a importância das mulheres não se calarem. “A gente vem de muitas histórias de opressão, a gente achava que nunca ia poder ter voz, nunca ia poder falar. E, hoje, a gente tem essa voz, tem o direito de falar, de conversar, de estar nos espaços falando. Não é mais uma vergonha, porque uma ajuda a outra”, revela.

De acordo com a professora Katia Alexsandra dos Santos, a pauta da violência ainda é prioritária nos debates sobre gênero, justamente pelos índices alarmantes de feminicídio e de violência contra mulheres no país e no Paraná. Somente em 2019, o Estado registrou 89 feminicídios e 17.796 casos de violência física sofrida por mulheres, apontam dados do Anuário de Segurança Pública. “Temos índices muito altos de violência contra as mulheres, em todos os sentidos, começando pela violência psicológica, que é a que tem mais incidência, e chegando em um nível mais complexo da violência, como em casos de feminicídio. Em Irati, nós tivemos, nos últimos anos, vários casos”, destaca.

A professora ainda complementa que essa e outras discussões puderam ser abordadas no evento através da apresentação dos projetos de extensão, como o de Prevenção à Violência Contra Mulheres, coordenado por ela, e também através das manifestações culturais. “Foi uma alegria ver o câmpus movimentado, com intervenções artísticas, com discussões de pautas importantes. Nós trouxemos apresentações, vieram mulheres que circulam pela cidade, estudantes das escolas da região, mulheres de grupos do Cras [Centro de Referência de Assistência Social]. Tivemos essa participação da comunidade, pudemos mostrar as ações dos projetos e, de alguma forma, inserir a universidade no contexto comunitário”.

Luta das mulheres por uma sociedade com equidade nortearam os debates (Foto: Coorc)

As manifestações artísticas não passaram despercebidas. A intervenção ‘Quantas vezes você já sofreu assédio?’ foi marcante para a aluna de Psicologia Luiza Brandalise. “Cada momento de expor sobre o assédio e sobre existir um lugar em que as mulheres vítimas de violência podem procurar, que é o Numape, tudo isso é um começo para transformar essas pautas privadas em públicas”, evidencia a aluna.

Já o encerramento da programação contou com o lançamento do livro “Memórias de ‘Antes Tempo’: gênero e mulheres no faxinal Barra Bonita”, uma adaptação da pesquisa de Mestrado em História da egressa Claudete Maria Petriw. Na publicação, ela analisa como as mulheres do faxinal, localizado em Prudentópolis, narram suas histórias, seu cotidiano e vivências. “Boa parte dos estudos de gênero são a partir do ponto de vista de mulheres urbanas, de classe média, brancas na maioria das vezes. Pude observar que cada mulher tem suas especificidades. Cada contexto é um contexto diferente, cada realidade é diferente”, pontua a pesquisadora.

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