Pesquisa busca avaliar os efeitos do uso de máscara na autopercepção vocal

Pesquisa busca avaliar os efeitos do uso de máscara na autopercepção vocal

Você percebe que faz esforço para falar quando está usando máscara de proteção? As pessoas pedem pra você repetir o que falou quando você está com a máscara? Essas são algumas perguntas do questionário online lançado com o intuito de coletar dados para a pesquisa intitulada “Efeito do uso de máscara na autopercepção vocal durante a pandemia de covid-19”. Essa investigação está sendo realizada pelos departamentos de Fonoaudiologia da Unicentro e da Universidade Federal de Sergipe.

De acordo com a professora da Unicentro Ana Paula Dassie-Leite, que é uma das pesquisadoras envolvidas no estudo, desde que o uso de máscaras passou a ser obrigatório na maioria das cidades e, portanto, constante para quem continua trabalhando fora, houve relatos sobre as dificuldades de comunicação durante o uso desse equipamento de proteção. “Nós temos algumas percepções que chegaram das pessoas. Algumas referem que precisam falar mais alto, outras referem que têm dificuldade de coordenar a respiração com a fala porque a máscara também dificulta esse aspecto”, afirma.

Como essas questões são muito recentes, há poucos dados científicos sobre o assunto. A pesquisa busca, portanto, trazer inovações para o campo da Fonoaudiologia. Para isso, o questionário online servirá de base para o estudo, que prevê a análise das respostas dos participantes para, então, construir um posicionamento sobre o assunto. “Esses relatos são bastante individuais e nós precisamos entender como eles acontecem, pensando em que tipos de profissionais eles acontecem mais, se essas dificuldades se relacionam com a profissão da pessoa, com o tempo que ela usa a máscara ao longo do dia, com as necessidades que ela tem em relação à comunicação – por exemplo, se ela usa a voz profissionalmente ou não -, se isso se relaciona com outros fatores como sexo, idade, e uma outra infinidade de variáveis que nós estamos contemplando na nossa pesquisa”, relata Ana Paula.

Para participar da pesquisa sobre a autopercepção da voz durante o uso de máscara, os interessados precisam dispor de aproximadamente 15 minutos para responder às perguntas. Segundo a professora Ana Paula, além de colaborar com a pesquisa, os participantes receberão instruções para uma utilização correta da voz durante o uso de máscara. “Essa coleta que nós fizemos dos dados de e-mail das pessoas que participam é justamente para que nós possamos enviar a essas pessoas algumas orientações que nós julgamos importantes durante o uso da máscara – alguns recursos que elas podem utilizar em relação à fala, em relação à voz, para que elas minimizem os efeitos negativos causados pela máscara”. 

Além da professora Ana Paula, a pesquisa conta com outras quatro pesquisadoras responsáveis: as docentes da Unicentro Eliane Cristina Pereira e Perla do Nascimento Martins, e as professoras da Universidade Federal de Sergipe Vanessa Veis Ribeiro e Roxane de Alencar Irineu. Um dos principais objetivos da pesquisa, segundo Roxane, é observar se há um aumento de queixas vocais durante a pandemia de coronavírus, já que o uso de máscara pode tornar mais evidente o esforço para produzir a voz e também as dificuldades na coordenação entre a respiração e a fala. “O uso da máscara pode acarretar uma atenuação da voz pela barreira imposta na frente do rosto, o que prejudica a projeção e a amplificação da voz. Esse fato pode gerar um fato compensatório de aumento da intensidade da voz – a pessoa tende a falar mais alto para compensar a barreira que a máscara causa, podendo desencadear sintomas vocais, desconforto, fadiga vocal, rouquidão, e isso tudo gerar o desenvolvimento de uma disfonia comportamental por abuso e mau uso dessa voz”.

A professora da instituição sergipana comenta outro ponto importante que a pesquisa conjunta com a Unicentro busca avaliar. “Nós temos observado pessoas que utilizam máscaras muito apertadas e o movimento de abertura de boca fica muito reduzido. Isso cria uma impedância maior à projeção, à saída do som dessa voz. Então, é importante pensar no tipo de máscara que vai se usar, especialmente quando se precisa usar a voz de uma forma mais intensa, principalmente os profissionais da voz, e também porque as características do tecido podem tornar o som da voz ainda mais abafado e pouco inteligível”.

O questionário sobre a autopercepção da voz durante o uso de máscara pode ser respondido até o dia quatro de junho (clique aqui para ter acesso ao formulário). Ao final da pesquisa, as pesquisadoras pretendem divulgar os resultados e análises por meio de um artigo científico. Para a professora Roxane, a realização dessa pesquisa de forma conjunta, com contribuições da Unicentro e da Universidade Federal de Sergipe, traz maior rigor científico acerca do manejo da voz durante a pandemia de covid-19. “Essa parceria que a gente está desenvolvendo entre instituições de ensino de estados distintos é fundamental na realização de pesquisas científicas, tanto porque aumenta a abrangência da investigação, como também pelo fato de sermos vários pesquisadores trazendo as suas respectivas experiências clínicas, de pesquisa e também de ensino, o que torna o processo com um maior rigor científico e, portanto, com menor riscos de erros e vieses científicos”, finaliza.

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