14ª edição do Bloomsday destaca a morte em celebração da vida e da arte
Em plena sexta-feira 13, o Bloomsday deste ano vestiu vermelho e trouxe Hades – deus grego do submundo dos mortos – como tema da sua 14ª edição em Irati. Evento literário mais tradicional da região, a noite cultural lotou o Empório São Luís para celebrar o legado de Ulisses, romance do irlandês James Joyce, que serve como pretexto para festejar a arte e a vida como um todo.
“Tem um episódio muito interessante no Ulisses que se chama ‘Hades’, em que o James Joyce fala da morte de uma maneira muito engraçada, do tipo: ‘por que as pessoas se preocupam tanto quando alguém morre, com caixão, com toda aquela parafernália, como se a morte se sobrepusesse a vida?’. Então é algo que faz a gente pensar a morte enquanto um elemento que dignifica a importância e a pujança de estar vivo, de aprender a olhar as coisas ao seu redor”, pontua o professor Edson Santos Silva, organizador da iniciativa.
Promovida pelo Departamento de Letras (Delet/I) do Câmpus de Irati da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e pela Academia de Letras, Artes e Ciências do Centro Sul do Paraná (Alacs), a festa conta ainda com o apoio do Centro de Línguas da Unicentro (CEL) e da Prefeitura Municipal de Irati.
“O Bloomsday é um ponto de encontro para artistas não somente da literatura, mas também da música, da dança, da pintura, que aqui se encontram para um momento de comunhão em nome da arte”, ressalta o secretário de Cultura e Turismo de Irati, João Vitor Sviech.
Feriado na Irlanda e celebrado em cidades do mundo inteiro, o Bloomsday faz referência a 16 de junho de 1904, data em que Leopold Bloom, protagonista do livro de Joyce, cruza as ruas de Dublin antes de voltar para casa, em uma paródia da Odisseia de Homero.

Tradicional evento cultural movimentou Irati na última sexta-feira 13. (Foto: Coorc)
Na última sexta-feira, a obra se fez presente de diferentes maneiras. Isso se deu de forma mais direta, como na leitura de trechos em diferentes línguas, ou em releituras que incluem elementos novos, como na encenação dos alunos de Letras em que Bloom conversa com poetas brasileiros e de outros países em um cemitério.
Pesquisadora visitante na Unicentro, pelo segundo ano consecutivo Svitlana Kryvoruchko leu um trecho do romance em ucraniano, além de cantar e dançar músicas em sua língua materna e em francês. A docente não deixa de ficar impressionada com a abordagem alegre de uma publicação tão intelectualmente densa. “Na Ucrânia, nós não temos eventos como esse aqui no Brasil. Para nós ucranianos, esse é um objeto para o estudo científico, não para dançar”, comenta.
Entre canções e bailados, também são apresentados outros escritos, como o poema “Do inferno e do céu”, de Jorge Luis Borges, e o conto “O Gato Preto”, de Edgar Allan Poe. O próprio público é constantemente convocado a repetir a introdução do “Hino à Beleza”, de Charles Baudelaire, verso escolhido para marcar a edição.
A casa lotada misturava novatos com veteranos, sejam eles da região ou de locais mais distantes. De Natal, capital do Rio Grande do Norte, Yves Dantas veio a Irati para visitar a namorada e foi mais um a se surpreender com o clima festivo. “Achei muito legal. Não esperava encontrar um evento como esse. Cheguei até a falar com o professor Edson sobre isso”, comenta efusivo o profissional de Tecnologia da Informação.
Professor e artista visual, Laercio Soares da Silva veio de Rio Azul com a tarefa de retratar no papel os diferentes momentos da noite. Para ele, foi uma grande honra retornar ao Bloomsday depois de 8 anos. “Dessa vez o professor Edson me convenceu a sair da minha zona de conforto e fazer algumas ilustrações rápidas durante o evento. É um desafio muito grande pra mim, mas também é uma experiência muito interessante”, afirma o desenhista.
Já Francielli Czelusniaki Costa Chepluki conta que começou a vir desde a primeira edição em 2012, quando ainda era aluna de Pedagogia na Unicentro. Atualmente ela é professora da rede municipal de ensino de Irati e, junto com o marido Rangel, continua sempre marcando presença. “Porque é um evento cultural diferente, algo que a gente não costuma ter aqui na cidade, que trabalha com a literatura, com a dança, com a música, com toda essa variedade de coisas que a gente pode curtir nesta noite”, salienta.
A diversidade artística é justamente o ponto mais elogiado pelo público. Teve ainda teatro, mímica, performances, apresentações em Libras, dança do ventre e cigana, balé e a gaita do gauchesco, que ganhou o nome de sanfona na hora de tocar um forró e animar os casais. “É a literatura sendo motivo para várias manifestações culturais porque na literatura cabe tudo”, ressalta o professor Edson.
Vice-reitor da Unicentro, o professor Ademir Fanfa Ribas reforça a importância da universidade não se fechar entre seus muros e chegar até onde a comunidade está. “Eventos culturais como o Bloomsday são importantes para que a sociedade possa conhecer nossos talentos, para que a gente possa apresentar a arte que é feita dentro da universidade. E veja, cada curso tem o seu laboratório, alguns usam pipetas, alguns usam bancadas, e os cursos da área das Ciências Humanas, das Letras e das Artes usam um palco como esse. As pessoas assistindo e se apresentando em uma noite bonita como essa, é essa a universidade que nós queremos”, enfatiza Ademir.
As fotos do evento estão disponíveis no Banco de Imagens da Unicentro
Por Wyllian Correa
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