Biólogo Atila Iamarino fala sobre mudanças climáticas em palestra no Câmpus de Irati da Unicentro

O Auditório Denise Stoklos ficou lotado para receber um dos principais nomes da divulgação científica brasileira na atualidade. Nesta quarta-feira (21), o biólogo Atila Iamarino esteve no Câmpus de Irati da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) para debater os impactos que as mudanças climáticas causam no nosso cotidiano. 

“Isso vai desde as coisas mais simples e mais óbvias até as mais inesperadas. Por exemplo, está mais quente. É o que a gente sente de primeira. Mas as coisas vão se desdobrando”, explica Atila, lembrando que 2024 foi o ano mais quente da história. 

De acordo com o pesquisador, é importante entender que isso tudo não envolve só mais calor, mas sim uma cadeia de eventos que tem consequências drásticas. “Uma atmosfera mais quente muda tudo: derrete mais gelo, aumenta o nível do mar, absorve mais umidade, chove com mais intensidade. Há ondas de calor mais intensas que mantêm as ondas de ar frio com chuva para fora, então as estiagens são mais longas. Geadas, ciclones e enchentes são mais intensas. O solo encharca mais, então tem mais deslizamento. Quer dizer, tudo vem junto num pacote”, elenca.

Segundo ele, esses efeitos podem ser sentidos em diferentes pontos da sociedade, como no sistema público de saúde, que encara um aumento de casos de dengue devido à proliferação do mosquito Aedes aegypti, que agora consegue se reproduzir durante o ano inteiro. A conta climática já chegou até mesmo ao caixa do supermercado.

Irati foi a 12ª cidade a receber o seminário “Mudanças Climáticas e COP30”. (Foto: Coorc)

“Essas alterações mudam o padrão das águas e de outras coisas. Isso afeta quais plantas estão crescendo, quais estão indo pra frente ou não. Café, cacau, oliveira, que dá a azeitona, que faz o azeite, tudo isso está mais caro. E não é o mais caro agora, não é por causa dessa safra. É o mais caro daqui para o futuro, porque vai ficar ainda pior”, alerta.

Doutor em Microbiologia pela USP, Atila ganhou notoriedade na internet por causa de iniciativas como o ScienceBlogs Brasil e o canal Nerdologia. No entanto, foi durante a pandemia da Covid-19 que ele ganhou destaque nacional pela atuação no combate à desinformação sobre o vírus e a vacinação. Atualmente, o biólogo conta com mais de 1,6 milhão de inscritos em seu canal no YouTube.

O comunicador científico reforça que diferentes interesses em disputa contribuem, historicamente, para que a onda de desinformação mire a pauta climática. Para ele, as medidas para mitigar esse cenário envolvem uma transformação no paradigma econômico, que, ao contrário do que se alardeia, seria algo benéfico para a sociedade. 

“Energia alternativa, energia eólica, energia solar, essas fontes renováveis empregam muito mais gente do que uma usina de carvão. Veículos elétricos geram menos manutenção, menos despesa para os donos. Painéis solares nas casas geram energia de uma forma que alivia a rede local e que você pode levar para lugares que não são abastecidos normalmente. Temos métodos alternativos de plantio e produção que emitem menos gases de efeito estufa, e que envolvem plantio familiar, agrofloresta, uma série de coisas que são melhores para o meio ambiente. Por todos os lados que você olha, as soluções são melhores, são mais saudáveis. O grande problema é que elas incomodam quem se beneficia do modelo atual”, pondera.

Atila afirma ainda que alterar hábitos é importante, mas que isso também vai ter efeitos em escalas diferentes devido à questão econômica. “A gente já sabe, por estimativa, que os 1% mais ricos contribuem 20 vezes mais para as mudanças climáticas do que a média global. No Brasil, são 0,1% das propriedades que contribuem com o grosso do desmatamento. Então é muito complicado eu falar para a pessoa comum, ‘olha, se você usar bicicleta, transporte público, consumir menos caro e vermelho, é isso e aquilo, você vai contribuir?’ Vai contribuir, mas é uma contribuição que é muito minoritária perto do poder de mudança que algumas pessoas podem ter”, analisa.

“Incrivelmente, isso não são dados meus, são dados internacionais, a medida individual que faz a maior diferença para mitigar as mudanças climáticas é o voto. Não estou falando sobre orientação política necessariamente, de direita ou esquerda, mas sim sobre eleger pessoas, em qualquer escala, que se preocupem com as mudanças climáticas, que reconheçam que elas acontecem e que agir em relação a elas é fundamental”, ressalta o divulgador científico.

Seminário “Mudanças Climáticas e COP30”

Irati foi a 12ª cidade a sediar o seminário “Mudanças Climáticas e COP30”, promovido pela Itaipu Binacional e pelo Itaipu Parquetec em 21 municípios do Paraná e de Mato Grosso do Sul. A ação faz parte de uma campanha de conscientização ambiental que busca mobilizar a população para a COP30, evento que em novembro deste ano vai reunir lideranças mundiais em Belém, capital do Pará.

Evento promovido pela Itaipu teve o apoio da Unicentro, da Prefeitura de Irati, do Conder e da Amcespar. (Foto: Coorc)

“A Itaipu Binacional, enquanto uma produtora de energia elétrica que precisa de água, que é sua matéria-prima, não pode ficar fora desse debate. E como que a Itaipu faz isso? Ela tem que trazer o Paraná e o Mato Grosso do Sul para essa discussão, para que a nossa população, as nossas instituições que vão participar da COP30, também estejam preparadas para isso”, salienta Zuleide Maccari, assessora do diretor-geral da Itaipu Binacional.

O encontro da tarde desta quarta-feira foi articulado pelo Núcleo de Cooperação Socioambiental do Centro-Sul, iniciativa da estatal que conta com representantes da Unicentro e de outras instituições iratienses. Além da universidade, a palestra teve o apoio da Prefeitura de Irati, do Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Regional (Conder) e da Associação dos Municípios do Centro Sul do Paraná (Amcespar).

“É uma grande alegria podermos, com toda essa plateia, discutir esse tema, multiplicar e sensibilizar sobre a preocupação com o clima, com o ambiente em que vivemos”, pontua o professor Ronaldo Ferreira Maganhotto, diretor do Câmpus de Irati e integrante do Núcleo de Cooperação Socioambiental do Centro-Sul.

Também presente na palestra, o vice-reitor da Unicentro, professor Ademir Fanfa Ribas, relembra que a universidade teve no último ano 12 projetos aprovados no edital do Programa de Extensão para Sustentabilidade Territorial da Itaipu Binacional. Para o docente, ações como essas são fundamentais no contexto imediato.

“Além de beneficiar, por meio dos seus estudantes bolsistas, aqueles que mais precisam do apoio das instituições públicas, esses projetos têm como obrigatoriedade colocar a preocupação com o meio ambiente, com os ODSs [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU], com a melhoria da nossa sociedade”, enfatiza o vice-reitor, que também é coordenador do projeto de “Desenvolvimento Sustentável para Comunidades Indígenas”, financiado pela Itaipu.

Confira todas as fotos do evento no Banco de Imagens da Unicentro

Por Wyllian Correa


Você já conhece o canal de transmissão da Unicentro no WhatsApp?

Lá, você encontra notícias fresquinhas e em primeira mão, além de comunicados oficiais, eventos, conquistas da galera e muito mais! Clique aqui para participar e fique por dentro de tudo o que é destaque na nossa universidade.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *