Sucesso de público, 13º Bloomsday mistura música, dança e literatura em Irati
“Ulysses”, obra clássica do irlandês James Joyce, foi mais uma vez celebrada em Irati no Bloomsday. Comemorada em diversos países, a festa que homenageia o personagem Leopold Bloom lotou o Empório São Luiz, na última sexta-feira (14). Em sua 13ª edição, o evento promovido pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) reuniu comunidade universitária e local para uma noite de muita música, dança e, principalmente, literatura.
A cada ano, uma temática diferente relacionada ao livro ganha destaque. Dessa vez, o tema escolhido foi “As Sereias”. Publicado originalmente em 1922, “Ulysses” é uma releitura da “Odisseia” de Homero. Idealizador do evento, o professor Edson Santos Silva conta que enquanto no épico grego as sereias são divindades, que seduzem os homens e os levam à morte com o seu canto, Joyce as descreve como duas garçonetes. “O capítulo 11 de ‘Ulysses’ é o que vai falar das sereias e o tema por excelência desse capítulo é a importância da música, como a música afeta o ser humano, como a música nos toca, como a música tem o poder de nos dizer coisas. Eu acho que é um tema muito necessário e a gente está precisando disso”, enfatiza.
Organizado pelo Departamento de Letras do Câmpus de Irati (Delet/I) e pela Academia de Letras, Artes e Ciências do Centro-Sul do Paraná (Alacs), o evento conta ainda com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de Irati e de diversos segmentos da universidade, como o Centro de Línguas (CEL) e a Divisão de Extensão (Diex/I).
Presente no Bloomsday, o reitor da Unicentro, professor Fábio Hernandes, enalteceu a grande contribuição dos organizadores para a difusão da obra de Joyce. “A nossa universidade faz parte desse seleto grupo de instituições que celebra o Bloomsday, um dia dedicado para discutir literatura, cultura e arte. Fazer parte desse circuito é muito gratificante. Foi uma noite muito agradável, com muitas pessoas assistindo e participando, o que mostra como a comunidade de Irati já assimilou este evento”, afirma.
“O Bloomsday fecha essa semana de aniversário da Unicentro de uma maneira muito especial. É um evento que tem uma grande mobilização no nosso câmpus, então é muito bacana ver ele consolidado em mais uma edição”, complementa o diretor do Câmpus de Irati, professor Ronaldo Maganhoto.
Apresentações culturais
Como tradição, o Bloomsday deu espaço para as mais diversas manifestações artísticas ao longo da noite.
Entre as apresentações, João Mateus Carraro, junto com os colegas do 1º ano de Letras-Inglês, recitaram trechos da obra e também performaram uma coreografia para a música “Milk of the siren”, de Melanie Martinez. “Tanto o trecho do livro quanto a música falam sobre as sereias”, conta. Apesar do nervosismo, o acadêmico ficou entusiasmado com a experiência. “Esse é meu primeiro Bloomsday. No começo eu estava muito nervoso, mas depois que você apresenta, você se sente livre. Todo mundo ali aplaudindo, falando que gostou do seu trabalho. É uma coisa muito diferente”.
O 3º ano de Letras-Português também recitou trechos do livro e levou uma das personagens principais da obra para a apresentação. Molly Bloom, a esposa do protagonista, ganhou vida na pele da acadêmica Emanuelle Rocetim. “Tenho a honra de estar participando porque esse é um projeto maravilhoso do curso e da comunidade. Eu participo sempre porque é um evento que agrega todas as pessoas e todos os tipos de arte”, reforça a aluna.
O Bloomsday também mobilizou pessoas de outras cidades. Carlos Alberto Sampaio de Sousa viajou de São Paulo até Irati para prestigiar o evento. “Eu já vim em várias edições. O professor Edson é um grande amigo e é uma pessoa que me apresentou o mundo da literatura e do teatro. É um evento que vale a pena a viagem. Como sempre, as apresentações estão muito boas”, afirma.
Já a cantora e atriz Lis Maia veio de Guarapuava e realizou três performances durante o evento. Ela interpretou parte da peça “Gota d’água”, de Chico Buarque e Paulo Pontes, e ainda cantou duas músicas. “Eu estou maravilhada. Quando eu vim para o Paraná, na pandemia, os eventos culturais estavam paralisados, então eu não fazia ideia que existia esse evento aqui. E é uma alegria poder estar aqui, mostrar a minha arte, e estar perto do que eu gosto de fazer”.
Bloomsday para o mundo
No mundo todo, o Bloomsday (Dia de Bloom) é comemorado em 16 de junho. Na ficção, é neste único dia, mais precisamente no ano de 1904, que se desenrolam as aventuras do protagonista pela cidade de Dublin, na Irlanda, onde o romance de mais de mil páginas é ambientado. O livro se tornou referência para gerações de escritores, como explica o professor Edson.
“Na “Odisseia” de Homero, nós temos uma obra épica, uma narrativa com deuses, semideuses. E o que o Joyce faz é transformar essa epopeia na vida comum de pessoas, ele traz a grandeza épica para a vida comum. Além disso, ele coloca neste livro todos os gêneros literários – romance, crônica, novela, teatro, música, receita – tudo o que você imaginar em matéria de gêneros, nós temos em Ulysses. Então nós podemos dizer com muita segurança que, hoje, todo romance contemporâneo que a gente lê tem um pézinho no “Ulysses” de James Joyce”, detalha.
Para o docente, a beleza do Bloomsday se encontra especialmente no fato de conseguir incentivar a leitura de uma forma leve e espontânea. “É um evento que eu acho democrático pelo seguinte: se a pessoa que está aqui não quiser prestar atenção em nada, ele curte uma música, ela bebe algo, paquera… Mas, no inconsciente, a literatura e a arte estão entrando, estão tocando essa pessoa”, conclui o organizador do evento.
Por Paula Claro
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