XVI Semana de História destaca “Violências no mundo contemporâneo”
Proporcionar um espaço para discussão e reflexão sobre as diversas formas de violência presentes no mundo contemporâneo em articulação com a pesquisa e o ensino. Esse é um dos objetivos da XVI Semana de História, realizada nesta semana no câmpus de Irati da Unicentro. O evento ocorreu em conjunto com o XI Seminário de Estudos Étnico-Raciais e com a VIII Jornada de Integração Graduação e Pós-graduação. Além do departamento de História do câmpus de Irati, fazem parte da organização do evento o Núcleo de Estudos Étnicos-Raciais e o Programa de Pós-graduação em História.
Durante três dias, a comunidade acadêmica, alunos, professores e gestores das escolas de ensino fundamental e médio de Irati e região puderam participar de uma conferência, de minicursos e comunicações com resultados de pesquisa. A coordenadora da Semana, professora Alexandra Lourenço, ressaltou a volta do evento de forma presencial. “O principal objetivo é ver se nós retomamos esse corpo a corpo, essa discussão pessoal, esse contato humano que é tão importante, inclusive nas ciências sociais e humanas, que ocorre nos eventos, nesses grandes encontros”.
A conferência de abertura contou com a presença do professor da Universidade Estadual de Londrina, José Miguel Arias Neto, que tratou do tema “Negacionismo, fascismo e violência no Brasil”. Segundo o pesquisador, o objetivo é pensar como a ideologia fascista se movimenta historicamente, o que ela implica e fazer uma releitura dela no tempo presente, tendo no negacionismo uma tentativa de criar uma versão da história, de acordo com esses princípios ideológicos. “A ideia é mostrar como que o fascismo se articula com o negacionismo e que isso está vinculado, exatamente, a difusão dessa ideologia de violência política, que é clara hoje, que vem aumentando exponencialmente, inclusive pós-eleições”.
Para a aluna do segundo ano de História, Daiane Priscila Arruda, não há tema mais atual para ser tratado do que esse, considerando a amplitude das suas manifestações, como o crescimento recente de casos de sexismo e racismo no Brasil e no mundo. “Não pode faltar na História a abordagem de um tema que está intrinsecamente ligado à sociedade humana, como é a violência”. Além de acompanhar a palestra de abertura, Daiane está entre os que apresentaram suas pesquisas no segundo dia do evento, tratando sobre a cobertura do caso do assassinato de Daniella Perez e do lançamento recente de uma série documental sobre a morte da atriz. “Eu falo sobre o papel da mídia em 1992, do sensacionalismo e da forma como foi abordado esse crime, e atualmente. A gente faz uma análise cronológica, se a mídia evoluiu, se ela permanece a mesma e como a sociedade encara isso”.
Formando de História, Guilherme Selber apresentou uma versão preliminar do seu trabalho de conclusão, que tem como objeto de pesquisa um jornal paulista publicado por imigrantes italianos no período da Primeira República. “A ideia surgiu de um trabalho sobre movimento operário para a disciplina de História do Brasil Independente. Eu encontrei esse periódico que era redigido em italiano por imigrantes socialistas e que estavam tentando organizar a classe trabalhadora no começo do século 20. Então, tem várias questões que envolvem, por exemplo, organização de classe e a divulgação das condições de trabalho e de vida deles”.
Nesta edição, foram inscritos cerca de 70 trabalhos, distribuídos em oito simpósios temáticos. A professora Alexandra explica que a divisão foi proposta pelos laboratórios do curso de História e de cursos afins. Ela também afirma que esse caráter interdisciplinar é reforçado, em especial, por conta do tema deste ano. “Ao tratar de violência no mundo contemporâneo, nós extrapolamos apenas a historiografia. Então, há discussões que vem da Psicologia, que vem da Pedagogia, que vem de áreas afins e que se interessam”.
A professora destaca ainda a apresentação de duas pesquisas feitas por alunos do ensino médio, sendo uma delas desenvolvida em uma escola em Palmeira, sem estar vinculada a um programa desenvolvido por uma universidade. “São egressos do curso de História da Unicentro que, ao trabalhar em escolas, estão colocando em prática a iniciação científica. E a garotada está animadíssima para vir apresentar os trabalhos”.