A hora da Estrela- Clarice Lispector

A hora da estrela é uma obra escrita pela autora Clarice Lispector, foi publicada em 1977, sendo a última obra de Clarice Lispector. Uma característica importante da obra é o fato dela ser narrada por Rodrigo S.M., alter ego da autora, sendo ele também um personagem muito importante na obra, dando suas opiniões e falando suas angústias durante a narração.

O romance conta a história de Macabéa, uma jovem nordestina que veio de Alagoas com sua tia para o Rio de Janeiro, tia que acabou falecendo, já que seus pais morreram quando ela tinha 2 anos, ela estava sozinha na vida. Sua infância foi difícil, pois sua tia não a tratava bem, nunca teve uma boneca ou uma bola para brincar.

Deixando a infância da moça de lado, podemos começar a contar a história da vida adulta de Macabéa, ela trabalhava como datilógrafa junto com Glória, sua colega de trabalho. Macabéa apresentava, por vezes, dificuldades no seu trabalho como datilógrafa já que nunca terminou o ensino fundamental, então algumas vezes acabava por escrever algumas palavras da maneira que elas eram faladas. Macabéa compartilhava um quarto com quatro outras mulheres, todas chamadas Maria.

No decorrer da história, Macabéa conheceu Olímpico, seu primeiro namorado. Olímpico é um homem do sertão da Paraíba; ele é um homem arrogante que tem grandes ambições, sendo uma delas ser deputado, acredita que tem ofício para a coisa. Os dois se conheceram no meio da chuva, e todos os encontros que tiveram desde então foram no meio da chuva, chuva essa que Olímpico atribui a Macabéa com a frase: “você também só sabe é mesmo chover”.

Olímpico muitas vezes se irrita com Macabéa, já que ela faz perguntas que ele diz não serem importantes ou que não fazem sentido, mas lá no fundo ele fica irritado, por não saber responder e por isso acaba ofendendo-a  e chamando-a de estúpida. Depois de muitos encontros, Macabéa apresenta Glória para Olímpico; este vê uma oportunidade de conseguir chegar mais perto de seus objetivos em Glória, já que ela é loira, mesmo que oxigenada, e é uma mulher que nasceu no Rio de Janeiro. Com isso, Olímpico troca Macabéa por Glória.

Macabéa fica triste por pouco tempo, mesmo não reconhecendo como tristeza, já que ela não tem consciência de si mesma e nunca lutou por nada, ela só aceitava tudo que diziam para ela, aceitava o mundo como ele se apresentava a ela, nunca discordando de nada.

Depois de algum tempo, ela volta a conversar com Glória normalmente, porque Glória é a única maneira que ela pode ter acesso ao mundo, nas palavras de Macabéa. Glória então recomenda a Macabéa uma cartomante, diz que vai ajudá-la muito em sua vida, assim como ajudou a ela mesma.

Macabéa vai esperançosa a Cartomante, esta diz que tudo vai mudar na vida da jovem moça, diz que ela vai pela primeira vez ser feliz, que vai encontrar um estrangeiro loiro com muito dinheiro e que eles namorariam. Macabéa sai toda esperançosa, acreditava que sua vida finalmente mudaria e pela primeira vez percebe que ela tinha uma vida triste. Entretanto, assim que saí do apartamento da Cartomante, ela é atropelada e acaba falecendo. Macabéa sempre quis ser estrela de cinema, sempre admirou o cinema, adorava assistir filmes e foi só na hora de sua morte que ela foi notada pelas pessoas; pela primeira vez na sua vida, deixou de ser invisível para as outras pessoas; dessa maneira, fazendo referência ao título A Hora da Estrela, pois foi o seu momento de estrela de cinema.

 

 

Sagarana- Guimarães Rosa 

“Sagarana” é a primeira obra de Guimarães Rosa, ela foi publicada em 1946 e é composta por 09 histórias, que tem como característica principal a narrativa em forma de lenda.

Os narradores desses contos tem o estilo marcante criado por Guimarães Rosa, sendo a principal característica a oralidade. O livro tem seu foco narrativo em terceira pessoa, com exceção dos contos “Minha Gente” e “São Marcos”, que são narrados em primeira pessoa.

O tempo em “Sagarana” é destacado pela narrativa linear, que é desenvolvida na maior parte sob o tempo psicológico dos personagens. O espaço é, em sua maioria, no interior de Minas Gerais.

• O Burrinho Pedrês
Personagens: Sete-de-ouros (burrinho); Major Saulo; Francolim; Silvino; Badu.
Enredo: Um burrinho velho e aposentado, destinado a um rápido esquecimento após a sua morte, se torna uma lenda, quando salva dois vaqueiros de morrerem afogados numa tragédia na qual morreram muitos homens e animais ao atravessarem um riacho que cortava a fazenda.

• A Volta do Marido Pródigo
Personagens: Lalino Salãthiel; Maria Rita; Ramiro; Major Anacleto.
Enredo: Lalino, um malandro, vende a sua esposa por um conto de réis para realizar o sonho de viajar ao Rio de Janeiro e se divertir com as “mulheres de revistas”. Acabando o dinheiro, ele volta com muita astúcia, e recupera a sua mulher que ainda o ama.

• Sarapalha
Personagens: Primo Argemiro; Primo Ribeiro, Luísa.
Enredo: Dois homens se entregam a um suicídio lento por uma desilusão amorosa, se recusando a abandonar o arraial de Sarapalha, tomado pela malária. A natureza é integrada ao sofrimento das personagens, refletindo suas tristezas, abandonos e delírios.

• Duelo
Personagens: Turíbio Todo; Cassiano Gomes; Dona Silvana; Timpim Vinte-e-um.
Enredo: Turíbio Todo flagra a sua esposa o traindo com Cassiano Gomes. Na tentativa de se vingar, mata por engano o irmão do amante. Então ele passa a ser perseguido por Cassiano, que acaba morrendo vitíma do coração doente. Turíbio, achando que está salvo, volta com a sua esposa, no entanto acaba sendo morto por Timpim Vinte-e-um compadre de Cassiano.

• A Hora e a Vez de Augusto Matraga
Personagens: Nhô Augusto Esteves; Dionóra; Mãe Quitéria; Pai Serapião; Joãozinho Bem-Bem.
Enredo: Nhô Augusto Esteves, um homem valentão e mau, é muito ferido, chegando perto da morte, no entanto, sobrevive. Após esse episódio, ele acaba então se tornando muito religioso, pois entende que teve uma nova chance para se redimir de seus pecados e salvar sua alma. Vive anos rezando e praticando o bem, esperando pela sua hora e sua vez, com o firme propósito de ir para o céu. Ele encontra a sua salvação quando volta a lutar e matar ao enfrentar um bando de jagunços para salvar uma família inocente. O protagonista morre aliviado, pois sente que encontrou a redenção dos seus pecados.

• São Marcos
Personagens: José (narrador); João Mangalô.
Enredo: Após o narrador fazer um deboche ao feiticeiro João Mangalô, ele acaba sendo vítima de um feitiço que o deixa cego no meio da floresta. Com isso ele recita uma reza brava chamada “São Marcos”, e então ele consegue sair da floresta, encontrar o feiticeiro e força-lo a restituir a sua visão.

• Corpo Fechado
Personagens: Manuel Fulô; Targino; Toniquinho das Pedras; Médico (narrador);
Enredo: Manuel Fulô possui dois grandes amores na vida: sua mula chamada Beija-Flor, e a sua noiva Das Dor. Quando Targino, o valentão do lugarejo, decide se aproveitar da sua noiva, ele acaba sendo obrigado a entregar a sua mula a um feiticeiro em troca de um feitiço que faça com que ele feche o corpo e consiga enfrentar Targino, e então salvar a sua noiva.

• Conversa de Bois
Personagens: Agenor Soronho; Tiãozinho; Bois.
Enredo: Durante o trajeto até o arraial, os oito bois que conduzem o carro se comovem com o sofrimento de um menino que é vítima de maus tratos do patrão. Como também são maltratados pelo homem, os bois decidem se vingar e também vingar o menino, e acabam então derrubando e matando o dono do carro de bois.

• Minha Gente
Personagens: Narrador; Tio Emílio; Maria Irma; Armanda.
Enredo: Depois de muitos anos, o narrador vai visitar a fazenda de seu tio Emílio no interior de Minas Gerais, e rever a prima, sua namorada de infância. Ele tenta reatar o namoro, mas a então prima apresenta para ele uma amiga, e ele acaba se casando com essa amiga. O conto exalta as belezas e tradições mineiras.

 

 

Auto da Compadecida – Ariano Suassuna

Hoje falaremos sobre a obra Auto da Compadecida de Ariano Suassuna. Trata-se de uma peça teatral no formato de auto escrita em 1955. Este drama tem como principais personagens: O palhaço, que atua como apresentador e conversa com a plateia, e os amigos João Grilo e Chicó. Ambos são homens pobres, porém com personalidades bastante distintas. Enquanto João Grilo é um homem esperto e trambiqueiro, Chicó é covarde e mentiroso. A trama é ambientada no nordeste brasileiro e mistura elementos da cultura popular com tradições religiosas. Existe também uma grande influência da literatura de cordel.

 O início da história gira em torno do cachorro do padeiro. João Grilo e Chicó são funcionários desse padeiro que é um homem extremamente avarento e que os explora. Quando o cachorro do padeiro adoece, sua esposa insiste que ele precisa de uma benção. Para ajudar a patroa, João Grilo tenta convencer o padre de que o cachorro deve ser benzido. Vendo a relutância do padre, João inventa uma história e diz que o cachorro é do Major Antônio Morais, um poderoso latifundiário da região. Posteriormente, o cachorro acaba falecendo e João Grilo, agora, precisa convencer o Padre e o sacristão de que o cachorro precisa ser enterrado em latim, conforme a vontade de sua dona. A vontade da mulher acaba sendo atendida graças à outra história de João Grilo, que diz que o cachorro deixou uma herança para a igreja. É interessante notar que, dentre os quatro clérigos retratados na peça, o frade é o único honesto e que não é movido por dinheiro.

Sem ninguém notar, João Grilo retira a bexiga do cachorro morto e planeja uma vingança contra seus patrões por todos os anos de exploração que sofreu. Sabendo que a mulher do padeiro só se importa com dinheiro e animais, João Grilo e Chicó lhe vendem um gato que supostamente descome dinheiro. O padeiro acaba descobrindo a armação de João, e este pede demissão. Nesse momento, enquanto todas as personagens estão dentro da igreja, o cangaceiro Severino de Aracaju aparece na praça. Sem piedade, o cangaceiro decide matar todos com exceção do frade e ordena a execução de um por vez. Quando chega a vez de João Grilo, ele, muito esperto, diz possuir uma gaita mágica que pode ressuscitar defuntos. Para provar sua eficácia, João apunhala seu amigo Chicó acertando a bexiga do cachorro, que estava cheia de sangue, e, em seguida, toca a gaita. Ao ver Chicó “retornando dos mortos”, o cangaceiro, grande devoto de Padre Cícero, decide morrer temporariamente para ver seu padrinho. Severino é, assim, morto por seu colega, de acordo com os planos de João Grilo. Entretanto, quando o capanga percebe que seu líder não voltará com o toque da gaita, ele ataca os dois amigos. João Grilo consegue acertar o cangaceiro, mas leva um tiro e acaba morrendo.

Após morrer, João Grilo é enviado a um tribunal divino, onde encontra todas as personagens que morreram e o Diabo. Momentos depois, Jesus também aparece e, com ajuda do demônio, começa o julgamento dos ali presentes. Devido à natureza dos pecados cometidos, todos estariam destinados ao inferno; mas João Grilo, com sua esperteza, ainda tinha uma carta na manga e, através de versos, invoca Nossa Senhora, a compadecida. Com toda sua piedade, a mãe de Jesus mostra o lado bom daqueles pecadores e convence seu filho de que todos, exceto João, devem ir para o purgatório. João é ressuscitado e encontra novamente seu amigo Chicó, que estava prestes a enterrá-lo. E, assim, termina a história.

 

 

Torto Arado – Itamar Vieira Júnior

“Quando retirei a faca da mala de roupas, embrulhada em um pedaço de tecido antigo e encardido, com nódoas escuras e um nó no meio, tinha pouco mais de sete anos. Minha irmã, Belonisia, que estava comigo, era mais nova um ano.” É com essa frase que começamos o grande romance Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, publicado em 2018 no Portugal e em 2019 no Brasil.

Itamir Vieira Júnior nasceu em Salvador, em 1979. É geógrafo e doutor em estudos étnicos e africanos pela UFBA, e autor de “Dias” e “A oração do carrasco”. Em 2020, recebeu o Prêmio Jabuti de melhor Romance Literário e o Prêmio Oceanos de Literatura com “Torto arado”. A partir de suas experiências teóricas e práticas relacionadas à terra, e dos conflitos historicamente produzidos em torno dela consegue nos transportar para um Brasil mais profundo, até mesmo desconhecido principalmente para quem vive nas grandes metrópoles.

Torto arado tem como foco a família de Zeca Chapéu e Salustiana, e suas filhas Bibiana e Belonisia, descendentes de escravizados. O cenário da obra é a fictícia Fazenda Água Negra, um povoado no interior da Bahia, na Chapada Diamantina. O enredo tem como ponto de partida o acidente que acontece envolvendo uma faca da avó quando elas ainda são crianças fazendo com que as duas fiquem muito ligadas ao longo da vida.

Bibiana e Belonisia fazem parte de uma família que assim como as outras tantas trabalham na fazenda Água Negra como agricultores produzindo vários tipos de alimento. Os donos da fazenda são grandes proprietários e que sequer moram lá, apenas aproveitam os lucros que a produção dos alimentos gera. As famílias trabalham na terra dos patrões e podem morar em um pequeno pedaço de terra e produzir seu próprio alimento. Todos os trabalhadores são descendentes de pessoas escravizadas que chegaram naquela região há muito tempo.

O acidente que ocorre com as duas irmãs vira uma forma de aproximação das duas, quando uma se torna a voz da outra, uma comunhão e uma união metaforicamente representa o elo que alicerça a comunidade daquela região, e ao não sermos revelados em um primeiro momento com exatidão o acidente e com quem aconteceu, somos jogados em uma narrativa minuciosa que nos revela detalhes aos poucos. Acompanhamos o crescimento e as transformações das duas irmãs e da sua terra durante a narrativa, e ao longo da história vemos uma das irmãs abandonando a região em que vive em busca de uma vida melhor, causando assim, uma reviravolta na vida da irmã que fica, que perde a sua metade e a sua conexão com o mundo. Após um tempo, a irmã retorna a sua terra natal com a sua nova família e a região passa a ser palco da luta pela terra e por melhores condições de vida. Bibiana, professora formada na cidade, junto com o primo-marido Severo, começam a organizar os trabalhos de Agua Negra, reivindicando o status de território quilombola para aquelas terras nas quais há décadas trabalhavam aquelas famílias, mas que não eram de sua posse.

O livro é dividido em três partes, sendo cada uma delas narrado por uma personagem feminina, demonstrando um forte protagonismo feminino no livro. Sendo primeira e segunda parte na visão das irmãs, e na terceira parte sendo narrada por uma entidade do Jarê, religião de matriz africana e principal crença da comunidade em que vivem.

Então ao longo da história acompanhamos a histórias das duas irmãs e a sua terra, observando a tradição cultural do sertão brasileiro, onde há a mistura de crenças, lendas, religião, trabalho análogo à escravidão, seca, sofrimento, violência, gratidão, escravidão, ancestralidade e, principalmente um amor pela terra. E com um forte viés político, pois viver é um ato político, Itamir Vieira Junior nos faz mergulhar na história de união das duas irmãs em torto arado.

REFERÊNCIAS
https://www.deviante.com.br/noticias/resenha-torto-arado-de-itamar-vieira-junior/
https://www.saobernardo.sp.gov.br/web/cultura/-leitores-da-cidade-resenha-do-livro-torto-arado
https://apmtsp.org.br/resenha-de-livro-torto-arado/
http://www.letras.ufmg.br/literafro/resenhas/ficcao/1465-itamar-vieira-junior-torto-arado

 

 

Seminário dos Ratos – Lygia Fagundes Telles

O livro “Seminário dos Ratos” da autora Lygia Fagundes Telles, é constituído por 14 contos, onde são exploradas situações do dia a dia, com uma mistura de fantasia. Podemos observar os conflitos internos das personagens, que se prendem aos seus próprios devaneios e ainda precisam encarar o mundo real. No conto que intitula a obra, Seminário dos Ratos, a autora deixa um suspense e nos faz usar nossa imaginação para descobrir quem realmente eram esses ratos. No conto Tigrela, questionamos até que ponto a tigresa quer interferir na vida de sua dona. Em as formigas, fica o dúvida, as primas fogem das formigas que montaram os ossos do anão, ou dos problemas de suas vidas? No conto Senhor Diretor, enquanto reclama sobre tudo a sua volta, Maria Emília para e reflete sobre a própria vida. Em A Presença, pode-se observar o que as pessoas são capazes de fazer quando já não têm mais o que desejam. E nos demais contos, a autora segue articulando o real, os sentimentos e o fantástico.

A Rosa que está – Luci Collin  

Luci Collin é uma curitibana poeta, escritora, tradutora e educadora. Tem formação inicial como musicista, mas seguiu carreira em Letras e Literaturas, sendo hoje pós-doutora nessa área.

Rosa que está, de Collin, é um livro de poesias publicado em 2019 pela editora Iluminuras e um dos finalistas do Prêmio Jabuti em 2020.
Em suma, a obra trata sobre reflexões do “estar” e não do “ser”. Segundo Camile Triska (2020), “embora o livro venha dessa indagação do “estar”, outros temas recorrentes da poeta também surgem entre os versos, como a passagem do tempo, a reconciliação com o passado, as dores das perdas, a alegria das descobertas, a finitude de todas as experiências da vida.”

Collin, para Nincia Teixeira (2008), “questiona o modelo patriarcal em suas obras, ao mesmo tempo abandona as convenções narrativas para adotar a complexidade da multipercepção.” Podemos perceber isso no poema de Rosa que está intitulado “Peça”:

o homem
em mim
esculpe
(lentamente)
cicatrizes

a mulher
em mim
refaz
(ponto por ponto)
a estrada

a estátua
(olho por olho)
refaz
em mim
a mulher

o homem
em mim
fabula
(solenemente)
cigarras

 

Vejamos outro poema do livro, chamado “De se fazer”:

quando desenlouqueceu
amélia pôs-se a queimar a comida
a adoçar a sopa
a ter vaidades ruidosas

queria dançar mazurcas
quadrilha tango burlesca
o que fosse o que desse

queria pintar-se alçar-se
exercer-se

viu sua cara no espelho
deu sua cara a bater

banhou-se perfumou-se
batizou-se

e tratou de aprumar
as asas que a vida lhe deu

aquilo sim é que era voo de verdade

Na primeira estrofe desse poema temos “quando desenlouqueceu/ amélia pôs-se a queimar a comida”. O nome “Amélia” remete a ideia de “ser uma amélia”, isto é, ser uma mulher submissa, que foi socialmente ensinada a acatar todas as ordens e vontades masculinas. Então, quando Amélie desenlouquece, ou seja, quando ela começa a se libertar de uma opressão patriarcal, ela começa também a descobrir a si mesma, a cuidar de si, a se amar e a viver de verdade.

Ao ler ou ao ter lido Rosa que está, observe que Collin trata do universo feminino e de suas multifacetas. Seus poemas são carregados de simbolismo e abrem espaço para várias interpretações, podemos dizer que eles abrem espaço para significarmos os poemas de acordo com nossas vivências, nossas realidades e nossos conhecimentos.

Referências:
TRISKA, Camile. Finalistas Prêmio Jabuti: Uma rosa é uma rosa que está uma rosa. 2020. Disponível em: https://curitibadegraca.com.br/finalistas-premio-jabuti-uma-rosa-e-uma-rosa-que-esta-uma-rosa/. Acesso em: 08 nov. 2021.
COLLIN, Luci. Rosa que está. São Paulo: Iluminuras, 2019.
TEIXEIRA, Nincia Cecília Ribas Borges. Letras femininas: a escrita do eu no universo de Luci Collin. Revista Brasileira de Literatura Comparada, [s. l], v. 12, n. 10, p. 329-353. 2008. Disponível em: https://revista.abralic.org.br/index.php/revista/article/view/193/196. Acesso em: 08 nov. 2021.

 

 

Dois em Um – Alice Ruiz

O livro Dois em um é uma compilação de todos os poemas de Alice Ruiz, na década de 80. Conta com 4 publicações de Ruiz, que são: Vice versos (1988), Pelos pelos (1984), Paixão xama paixão (1983) e Navalhanaliga (1980), porém seu encerramento se dá com os poemas realizados até 1979.

Seus versos são curtos e muitas vezes acabam não tendo muito sentido, ou então, o sentido é tão amplo que o leitor pode acabar se perdendo. Sua maneira de escrita se assemelha ao haikais, que é uma forma poética muito breve, de origem japonesa, normalmente é composta por três versos com uma estrutura de 5-7-5 sílabas poéticas: o primeiro verso tem cinco sílabas; o segundo, sete; o terceiro, tem cinco novamente, como por exemplo no poema Saia da minha frente (Vice verso, 1988, p. 63).

saia da minha frente
não jogue tua sombra
na minha poesia

Tanto o primeiro quanto o terceiro verso tem 6 silabas poéticas, enquanto o segundo verso tem 7.

Os poemas do tipo Haikais não precisam rimar, mas quando rimam não necessariamente seguem uma estrutura especifica.

Uma outra forma de escrita presente em Dois em Um são os poemas concretos. Como por exemplo em Um menor (Navalhanaliga, 1980, p. 183), aqui a autora usa notas musicais para marcar as palavras.

Um SOL menor
Lá fora
Si espalha

Fonte: Livro Dois em Um, Alice Ruiz, p. 183.

Uma outra característica em sua obra é a intertextualidade, ou seja, a autora utiliza traços de outras obras em seus poemas e para que haja a compreensão é necessário que o leitor tenha essas inferências para então formar esse conhecimento partilhado. Por exemplo, no poema anterior ela utilizou notas musicais, se o leitor não souber a posição das notas ficará difícil a compreensão, um outro caso ocorre no poema Drumundana (Navalhanaliga, 1980, p. 163)

Drumundana

e agora maria?

o amor acabou
a filha casou
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou
à luz do dia

e agora maria?
vai com as outras
vai viver
com a hipocondria

O poema em questão traz a intertextualidade do poeta “E agora José”, de Carlos Drummond de Andrade, só que com a voz feminina de uma mulher que sofre da síndrome do ninho vazio.

Mais uma característica é a presença de aliterações, que nada mais é que uma figura de linguagem que consiste na repetição de fonemas consonantais (agrupamento de duas ou mais consoantes, sem uma vogal intermediária), como por exemplo em “Olhar o mesmo olho” (Até 79, p. 206)

Olhar o mesmo olho             
           Com outros olhos
  Em outro olhar                      
     O mesmo olho
Nos mesmos olhos           
           O olhar do outro
De olho    

A última característica presente nessa obra é a aglutinação ou então o neologismo, isto é, Ruiz costuma aglutinar muitas palavras em suas obras, e com isso cria palavras novas (neologismo). Um bom exemplo é o poema “Bem que eu vi” (Navalhanaliga, 1980, p.157)

 

Fonte: Livro Dois em Um, p. 157.

Aqui temos a aglutinação da palavra tecendo, a qual é repetida várias vezes, porém de forma junta, isso dá a ideia de tecer um fio, visto que ele não está sendo interrompido, ele é continuo.

Como podemos ver os temas abortados pela autora são variados e não estão reunidos em um determinado conjunto, há única separação entre eles é o ano de publicação de cada um dos livros. Vale lembrar também que no início de cada parte existe uma dedicatória.

O livro Dois em Um é indicado para aqueles que gostam de uma leitura prática, rápida e fácil.

 

 

Sagrada Esperança- Agostinho Neto

Sobre a obra SAGRADA ESPERANÇA, do autor AGOSTINHO NETO:

* Este livro muito especial será cobrado no vestibular de 2022, por este motivo é válido conhecermos bem sobre autor e obra.

* Agostinho Neto é um escritor que nasceu em Angola, em 1922, sendo um importantíssimo intelectual negro fundador do Movimento Pela Libertação de Angola. Além de escritor, ele foi médico, político e principal figura do país no século XX. Foi preso várias vezes, desde sua juventude, por se posicionar contra a autoridade colonial portuguesa. Tornou-se o primeiro presidente da Angola independente (ocupando o cargo de 1975 até 1979 quando faleceu em Moscou, na Rússia).

* A obra Sagrada Esperança traz poemas datados dos anos 1940, 1950 e 1960. Com as palavras regadas de esperança: sempre trazia/fazia suas denúncias, exaltava e valorizava seu povo tratando a pátria angolana como “Mãe”. Agostinho em toda obra Sagrada Esperança dá um caráter político aos poemas falando do sofrimento de seus irmãos e adorando sua terra em cada verso.

Exemplifica-se aqui um poema chamado “Contratados”, em que o foco inicial se dá na descrição da labuta dos carregadores.

Contratados

Longa fila de carregadores
domina a estrada
com os passos rápidos

Sobre o dorso
levam pesadas cargas

Vão olhares longínquos
corações medrosos
braços fortes
sorrisos profundos como águas profundas

Largos meses os separam dos seus
e vão cheios de saudades
e de receio
mas cantam

Fatigados
esgotados de trabalhos
mas cantam

Cheios de injustiças
calados no imo das suas almas
e cantam

Com gritos de protesto
mergulhados nas lágrimas do coração
e cantam

Lá vão
perdem-se na distância
na distância se perdem os seus cantos tristes

Ah!
eles cantam…

As figuras desse poema vão ganhando sentimentos e apesar de toda a dor, Agostinho reforça: “há o canto”. – e esse canto é a força que a musicalidade tem na cultura angolana, ainda mais como modo de desabafo, já que os escravos não sabiam escrever, e não podiam de nenhuma forma contestar. Agostinho Neto se tornou a voz de muitos e assim lutou pelo seu povo.

Quando se fala de “Sagrada Esperança” de Agostinho Neto, então, lembremos da força de sua denúncia, luta, liderança e esperança na vitória e na liberdade.
FICA A DICA. Que todos façam uma ótima leitura!

 

 

Inocência – Visconde de Taunay

Consolidando-se como um dos maiores romances do Romantismo brasileiro, Inocência, de Visconde de Taunay, foi publicado em 1872 e conta a história da protagonista homônima Inocência, uma jovem de rara beleza e ingenuidade, criada por seu rígido pai, Martinho dos Santos Pereira, em uma fazenda no sertão da cidade de Santana do Paranaíba, no Mato Grosso do Sul.

Certo dia, Inocência fica doente e seu pai sai à procura de um médico, e encontra Cirino, um boticário que diz poder tratar da enfermidade da moça. Depois que ele conhece Inocência, os dois acabam se apaixonado, apesar da mão da jovem já ter sido prometida por seu pai a Manecão, um bruto comerciante de gado da região. Nesse mesmo período, Pereira recebe em sua casa o naturalista alemão Dr. Meyer, que estava no Brasil estudando as espécies de borboletas.

O Dr. Meyer elogia a beleza da jovem Inocência sempre que pode, o que faz com que Pereira fique desconfiado de que o naturalista alemão estivesse de olho em sua filha, quando, na verdade, ela e Cirino estavam se encontrando às escondidas. Um dia, os dois são vistos por Tico, um escravo que relata o fato ao pai da moça.

Pereira conta o fato a Manecão, que sai em busca de Cirino e o mata com um tiro. Inocência fica desolada com a morte de seu amado e acaba adoecendo e falecendo de tristeza, enquanto que o Dr. Meyer viaja de volta para a Europa e apresenta, por lá, uma espécie nova de borboleta que ele encontrou no Brasil, que ele batiza de Papilio Innocentia, em homenagem à moça falecida.

Apesar de ainda pertencer à escola Literária do Romantismo, Inocência é frequentemente descrito como um romance de fronteira com o Realismo, por trazer as questões sociais da vida do sertão mato-grossense, apesar de ter diversas características do Romantismo, como personagens idealizados e uma história de amor impossível. De toda forma, Inocência consagrou-se como um clássico da Literatura Brasileira e abrilhanta o cânone nacional.

REFERÊNCIAS:

TAUNAY, Visconde de. Inocência. São Paulo: Editora DCL, 2013.